São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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Conde quer mudar local da Feira de São Cristóvão no Rio

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma proposta do prefeito Luiz Paulo Conde está dividindo o bairro de São Cristóvão, um dos mais antigos do Rio, que tem entre seus muitos tesouros históricos o palácio onde viveu a família imperial brasileira.
Conde quer mudar de lugar a tradicional feira que, há 55 anos, ocupa o Campo de São Cristóvão.
Conhecida como "feira dos nordestinos", a feira reúne a cada final de semana 818 feirantes que vendem produtos típicos do Nordeste.
No início voltada apenas para atender a um público de imigrantes interessado em encontrar esse tipo de produto, a feira se transformou ao longo dos anos em uma das atrações turísticas da cidade.
Hoje recebe, a cada fim-de-semana, um público estimado em 60 mil pessoas, interessadas não só nos produtos, mas também nas apresentações de cordelistas e de grupos musicais nordestinos, entre outros.
Foi lá, por exemplo, que no final de setembro Gilberto Gil fez um show lançando a trilha sonora do filme "Eu, Tu, Eles", de Andrucha Waddington.
A feira também foi mostrada ao mundo no início de outubro, quando a emissora francesa TV 5 a incluiu em seu programa sobre a cidade, transmitido durante todo o dia.
A proposta de retirada da Feira de São Cristóvão do local onde está instalada foi incluída no PEU (Projeto de Estruturação Urbana) do bairro, que tramita na Câmara dos Vereadores.
Protestos dos feirantes fizeram com que o prefeito retirasse a proposta do PEU, mas a idéia não morreu. Foi criado um grupo de trabalho para estudar alternativas de locais para a feira.
"Não saímos de lá de jeito nenhum. Não vamos aceitar isso. A feira é tradicional e mudá-la de lugar é um suicídio para nós", diz Agamenon de Almeida, 51, presidente da Feira de São Cristóvão, associação formada pelos feirantes.
"Não somos contra os feirantes, mas eles prejudicam outra tradição do bairro, o Pavilhão de São Cristóvão", afirma Maurício Mendes, 49, presidente da Câmara Comunitária do bairro, que reúne comerciantes e algumas associações de moradores da região.

Novo pavilhão
Abandonado há cerca de 20 anos, o Pavilhão de São Cristóvão já funcionou como um grande centro de convenções da cidade. A intenção da Prefeitura do Rio de Janeiro é recuperá-lo, transformando a área em uma arena multi-uso -preparada para receber shows, eventos esportivos e outras atividades-, com capacidade para 20 mil pessoas, das quais 17 mil sentadas.
Há ainda a previsão de construção de um multiplex (complexo com várias salas de cinema), hotel com cerca de 250 quartos, centro comercial e estacionamento com 1.500 vagas.
O projeto de recuperação do Pavilhão de São Cristóvão, com custo estimado em cerca de R$ 100 milhões, prevê parcerias com a iniciativa privada.
A Folha apurou que um dos empecilhos para que o projeto seja "comprado" por alguma empresa privada é a realização da feira ao redor do Pavilhão.
"A feira atrapalha os projetos de revitalização do bairro. Não há como conciliar sua manutenção ali com a construção da arena multi-uso", diz Mendes.
A prefeitura já teria em vistas uma área para instalar a feira -um terreno no bairro, às margens da avenida Brasil.
Na proposta da Secretaria Municipal de Urbanismo, na qual a recuperação do Pavilhão de São Cristóvão é apresentada, a mudança da Feira de São Cristóvão é apresentada como uma "ação a curto prazo (1 a 3 anos)".
"Eles querem acabar conosco, mas nós não vamos deixar. Daqui não saímos. Somos parte da história do Rio", diz Agamenon de Almeida.



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