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Conde quer mudar local da Feira de São Cristóvão no Rio
CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO
Uma proposta do prefeito Luiz
Paulo Conde está dividindo o
bairro de São Cristóvão, um dos
mais antigos do Rio, que tem entre seus muitos tesouros históricos o palácio onde viveu a família
imperial brasileira.
Conde quer mudar de lugar a
tradicional feira que, há 55 anos,
ocupa o Campo de São Cristóvão.
Conhecida como "feira dos nordestinos", a feira reúne a cada final de semana 818 feirantes que
vendem produtos típicos do Nordeste.
No início voltada apenas para
atender a um público de imigrantes interessado em encontrar esse
tipo de produto, a feira se transformou ao longo dos anos em
uma das atrações turísticas da cidade.
Hoje recebe, a cada fim-de-semana, um público estimado em
60 mil pessoas, interessadas não
só nos produtos, mas também nas
apresentações de cordelistas e de
grupos musicais nordestinos, entre outros.
Foi lá, por exemplo, que no final
de setembro Gilberto Gil fez um
show lançando a trilha sonora do
filme "Eu, Tu, Eles", de Andrucha
Waddington.
A feira também foi mostrada ao
mundo no início de outubro,
quando a emissora francesa TV 5
a incluiu em seu programa sobre a
cidade, transmitido durante todo
o dia.
A proposta de retirada da Feira
de São Cristóvão do local onde está instalada foi incluída no PEU
(Projeto de Estruturação Urbana)
do bairro, que tramita na Câmara
dos Vereadores.
Protestos dos feirantes fizeram
com que o prefeito retirasse a proposta do PEU, mas a idéia não
morreu. Foi criado um grupo de
trabalho para estudar alternativas
de locais para a feira.
"Não saímos de lá de jeito nenhum. Não vamos aceitar isso. A
feira é tradicional e mudá-la de lugar é um suicídio para nós", diz
Agamenon de Almeida, 51, presidente da Feira de São Cristóvão,
associação formada pelos feirantes.
"Não somos contra os feirantes,
mas eles prejudicam outra tradição do bairro, o Pavilhão de São
Cristóvão", afirma Maurício
Mendes, 49, presidente da Câmara Comunitária do bairro, que
reúne comerciantes e algumas associações de moradores da região.
Novo pavilhão
Abandonado há cerca de 20
anos, o Pavilhão de São Cristóvão
já funcionou como um grande
centro de convenções da cidade.
A intenção da Prefeitura do Rio
de Janeiro é recuperá-lo, transformando a área em uma arena multi-uso -preparada para receber
shows, eventos esportivos e outras atividades-, com capacidade para 20 mil pessoas, das quais
17 mil sentadas.
Há ainda a previsão de construção de um multiplex (complexo
com várias salas de cinema), hotel
com cerca de 250 quartos, centro
comercial e estacionamento com
1.500 vagas.
O projeto de recuperação do Pavilhão de São Cristóvão, com custo estimado em cerca de R$ 100
milhões, prevê parcerias com a
iniciativa privada.
A Folha apurou que um dos
empecilhos para que o projeto seja "comprado" por alguma empresa privada é a realização da feira ao redor do Pavilhão.
"A feira atrapalha os projetos de
revitalização do bairro. Não há
como conciliar sua manutenção
ali com a construção da arena
multi-uso", diz Mendes.
A prefeitura já teria em vistas
uma área para instalar a feira
-um terreno no bairro, às margens da avenida Brasil.
Na proposta da Secretaria Municipal de Urbanismo, na qual a
recuperação do Pavilhão de São
Cristóvão é apresentada, a mudança da Feira de São Cristóvão é
apresentada como uma "ação a
curto prazo (1 a 3 anos)".
"Eles querem acabar conosco,
mas nós não vamos deixar. Daqui
não saímos. Somos parte da história do Rio", diz Agamenon de Almeida.
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