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Para especialistas, ações mostram desespero
RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO
As ações coordenadas do tráfico
na madrugada de ontem são tentativas desesperadas de intimidação e de desestabilização do poder
público, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha.
Para os sociólogos Michel Misse, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e Ignácio
Cano, da Uerj (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro), setores
do crime organizado no Rio dão
mostras de estarem tendo dificuldades de operar seu negócio, tanto por causa da apreensão de armamento e drogas quanto pela
incomunicabilidade a que estariam submetidos líderes como
Fernandinho Beira-Mar.
"Do ponto de vista dos negócios, não interessa a eles chamar a
atenção. Se estão fazendo isso, é
porque não têm muito a perder.
Estão querendo criar fatos políticos que desestabilizem as autoridades da área de segurança", disse
Misse. Para ele, os atos de ontem
também poderiam servir para
desviar a atenção e facilitar a tentativa de resgate em Bangu 3.
A tentativa de "criar pânico e intimidar o poder público" é " batalha perdida" para o tráfico, diz
Cano. "A longo prazo é uma estratégia negativa para o crime organizado. Vai gerar uma reação
mais dura por parte do poder público. Ou estão desesperados ou
acham que vão desestabilizar as
autoridades no curto prazo."
A antropóloga Alba Zaluar, especialista em segurança pública,
afirma que a ação do tráfico não é
mais pautada só por interesses comerciais e que o crime organizado tem pretensões políticas. "O
tráfico está buscando poder, e não
apenas militar", disse. "Estão querendo mostrar que têm poder na
zona sul e transformar-se em uma
organização como as Farc [Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia]. Querem ser respeitados
como força política, para que o
Estado negocie com eles."
Segundo Cano, o tráfico na Colômbia trava uma luta política pelo controle da produção de drogas
e por território. No Brasil, onde só
se comercializa a droga, essa estratégia não faria sentido.
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