São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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CIDADE SITIADA

Governo sabia de plano de resgate, mas não conseguiu evitar entrada de armas e apoio de traficantes do lado de fora

Ataque foi "inevitável", afirma Benedita

DA SUCURSAL DO RIO

O governo do Rio de Janeiro já sabia de um plano de fuga em massa de Bangu 3, mas, mesmo assim, não conseguiu evitar a entrada de armas no presídio nem a ação de traficantes do lado de fora para dar cobertura aos presos.
Para a governadora Benedita da Silva (PT), o ataque ao Palácio Guanabara foi "inevitável". "O episódio aqui [no palácio] foi inevitável, já que passaram num táxi atirando", disse, após uma reunião na manhã de ontem com seu secretariado.
A governadora afirmou que o plano de fuga foi descoberto pelo serviço de inteligência cerca de uma semana antes do primeiro turno da eleição, com previsão de execução no dia 4 ou no dia 5.
O governo também soube da existência de um túnel a ser utilizado na fuga e de um local usado como esconderijo de armas. Realizou uma varredura no presídio, com escavações e inundações na tentativa de encontrar o túnel. Mas a passagem subterrânea só foi encontrada ontem, após o final da rebelião de presos.
Benedita afirmou que, diante das informações do serviço de inteligência, o policiamento foi reforçado na cidade. Como parte desse reforço, ela citou a convocação de tropas federais para aumentar a segurança no dia do primeiro turno da eleição.
Sobre os episódios da madrugada, afirmou que o governo não poderia saber a hora e o local em que eles ocorreriam. Quando percebeu que o plano estava sendo concretizado, acionou o esquema de prontidão que vinha sendo mantido. "O "bonde" [comboio de traficantes], todos esses instrumentos aqui no Palácio, no Rio Sul, tudo fazia parte de uma estratégia deles, e estávamos ali para combatê-los. O nosso serviço de inteligência não detectou tal hora e tal local", disse ela.
O secretário estadual de Justiça, Paulo Saboya, disse que as armas não foram encontradas nas revistas feitas em Bangu 3 porque estariam escondidas num túnel cavado entre duas celas. Segundo ele, as escavações feitas pela direção do presídio foram no pátio interno, e o túnel foi construído entre as celas.
Saboya disse achar que as armas entraram no presídio durante uma rebelião ocorrida no ano passado, quando os presos de Bangu 3 derrubaram todas as grades. Ele informou que foi aberta sindicância para apurar como o armamento entrou.
Em relação às armas, Benedita disse que "todo mundo conhece a fragilidade do sistema". "Nós estamos dando combate a isso, estamos fazendo varreduras. Esse trabalho nunca foi feito, de tirar aquelas armas, celulares, tudo o que estiver dentro do sistema."
A governadora afirmou que os ataques dos traficantes são uma resposta às ações de seu governo no combate ao crime organizado. "Eles [os traficantes] estão dando continuidade ao projeto deles, projeto esse que tem encontrado resistência."
A governadora afirmou que não se intimidará com as ações do tráfico e que o governo manterá o trabalho. "Se eu me sentisse intimidada, nós não daríamos combate", disse Benedita. (FE)


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