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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Comerciantes se acusam, jornais se atacam e até o procurador-geral do Estado entra no caso
"Guerra" envolve lojas, candidata e cônsul
DA REPORTAGEM LOCAL
O clima de guerra entre os imigrantes de Danbury não se restringe aos três jornais voltados à
comunidade local ou mesmo à
simplificação de brasileiros de um
lado e Celia Bacelar, sua filha e a
"Tribuna" de outro. Envolve pelo
menos duas outras empresas, o
procurador-geral do Estado, uma
candidata brasileira ao equivalente local da Câmara Municipal e até
o recém-empossado cônsul brasileiro em Nova York.
Por partes. O flagrante de indicação de venda de carteira de habilitação ilegal por uma funcionária brasileira da Interpoint Travel
foi gravado pelo repórter Alan
Cohn, do Channel 8. O proprietário da empresa, Alencar Castello,
se defende: "Parece sem sentido
que o repórter tenha vindo diretamente à minha loja e só à minha
loja", diz ele, para depois atacar.
Segundo Castello, em 5 de outubro, sua ex-sócia, Dilemar Oliveira, da Dila's Travel, teria ligado
para ele e dito que daria até o fim
da semana para parar de vender
carteiras de habilitação internacionais, uma atividade legal e reconhecida pelos EUA. "Caso contrário", afirmou Castello, "ela iria
à polícia e alegaria que minhas
carteiras eram todas falsas".
Dilemar de Oliveira, proprietária da Dila's, nega qualquer ameaça. Afirma só que, após ter recebido "uma série de documentos" do
Brasil, viu que a carteira expedida
pelo Automóvel Club não seria
mais aceita nos EUA e ligou para
o ex-sócio "apenas para avisá-lo"
do fato. Sua loja não foi visitada
pela reportagem do telejornal.
"Está vendo, tem mais coisa
nessa confusão do que nós imaginamos", disse à Folha Breno da
Mata, 39, do "Comunidade
News". "Pergunte à Celia, por
exemplo, se ela também não foi
imigrante ilegal. Pergunte por que
ela mudou de lado depois de receber o "greencard", há três anos."
Por meio de sua filha, Emanuela, Celia Bacelar -que se recupera de uma cirurgia feita em uma
viagem recente a Belo Horizonte
(MG), que afirma ser decorrente
do atropelamento de março-
responde que sempre teve "orgulho" de sua condição. "Não temos
nada a esconder", disse Emanuela. "Só achamos que, uma vez morando nos Estados Unidos, devemos responder às leis americanas
e não tentar adaptar as brasileiras
aqui, ou nunca seremos aceitos."
Já Raimundo Santana, 44, editor
do "The Immigrant", provoca:
"Ameaças de morte, agora, Celia
Bacelar pode até ter sofrido, porque contrariou toda a comunidade, de "a" a "zê", mas aquele atropelamento ninguém engole. Rua escura, carro preto, sem placa, sem
testemunha nem nada... Essa mulher é ligada ao poder público republicano, que persegue os imigrantes", disse ele à Folha.
"C.S.I."
A insinuação faz Emanuela rir.
"Você já assistiu ao seriado "C.S.I."
(sigla para polícia técnica norte-americana)? Quando houve o
atropelamento, eles interditaram
a rua inteira e passaram pó para
identificar impressões digitais até
no asfalto", exagera. "Além do
mais, que brasileiro teria meios
para armar um acidente assim?"
Quanto à ligação com os poderes locais, o caso realmente chegou ao escritório do procurador-geral do Estado de Connecticut,
Richard Blumenthal, o que facilitou as coisas para que a polícia de
Danbury colocasse a família Bacelar sob proteção 24 horas por dia.
Já a brasileira Renata Amaral,
que foi derrotada nas últimas eleições, quando saiu como vereadora pelo Partido Democrata, e pretende concorrer de novo nas próximas, organiza uma passeata e
colhe assinaturas para um abaixo-assinado contra o jornal.
E até o novo cônsul em Nova
York, José Alfredo Graça Lima,
deve tocar no assunto em coletiva
hoje.
(SÉRGIO DÁVILA)
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