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Com fim do Pan, estação de tratamento de esgoto é desligada
Construído às pressas, sistema de tratamento em rio poluído que passa ao lado da vila dos atletas funcionou somente durante os Jogos no Rio, em julho
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Construída às pressas para os
Jogos Pan-Americanos, a estação de tratamento do rio Arroio
Fundo deixou de funcionar assim que a competição terminou. Seria o único legado ambiental do Pan. Transformado
pela poluição em um valão de
esgoto, o rio passa ao lado da vila que acolheu as delegações
brasileira e estrangeiras.
O Arroio Fundo percorre a
baixada de Jacarepaguá (zona
oeste do Rio) por cerca de 10
km. Recebe no trajeto o esgoto
da favela Cidade de Deus, a
principal da região, e de dezenas de outras comunidades carentes desprovidas de saneamento básico.
No Pan, disputado em julho,
os esportistas não sentiram o
mau cheiro do rio, pois, com a
estação funcionando, a água recebeu um tratamento químico
purificador. O que indicava a
poluição do Arroio Fundo era a
coloração de suas águas, amarronzada, quase negra.
A estação foi desligada em
agosto, quando ocuparam a vila
os participantes do Parapan,
competição disputada por portadores de deficiências físicas.
O cheiro ruim voltou com toda
a força, conforme relato dos
operários que ainda trabalham
na vila, um conjunto de 17 edifícios, com 1.480 apartamentos,
que, no próximo ano, deve receber os primeiros moradores.
Abandono
A 2 km da vila, na margem direita do rio e ao lado da Linha
Amarela (via expressa que liga
as zonas oeste e norte), a estação de tratamento ambiental
tem hoje o aspecto de abandono total. Apenas um vigia toma
conta das instalações.
Trazido pela correnteza, o lixo se acumula em duas barreiras, batizadas de ecobarreiras.
Funcionários da prefeitura
tentam removê-lo com pás.
Trabalham já há dez dias. Encheram 20 caminhões. Mas a
sujeira continua muita.
Na tarde de terça-feira, em
meio à lixarada, boiava o corpo
de um cachorro em putrefação.
No início do mês, após dois dias
de tempestade, passou pelo rio
o corpo de um bebê, contou,
horrorizado, o vigia, que se
identificou apenas como "seu"
Almir.
Urubus e ratos abundam na
que seria uma estação de tratamento modelo para o sistema
lagunar da zona oeste, formado
pelas lagoas de Marapendi, da
Tijuca, de Jacarepaguá e do Camorim e pelos cursos d'água
que nascem nos maciços da Tijuca e da Pedra Branca.
Lagunas
O Arroio Fundo deságua na
lagoa do Camorim, que é ligada
à da Tijuca. A contaminação
das duas pelo rio compromete
todo o complexo de lagunas e a
praia da Barra da Tijuca.
Para o biólogo Mário Moscatelli, ambientalista que acompanha o avançar da poluição
nas lagoas da zona oeste, a lagoa
da Tijuca, a principal da região,
tornou-se um canal de esgoto
que desemboca na praia da
Barra. "O Arroio Fundo é o
maior valão de esgoto da baixada de Jacarepaguá. A estação,
que solucionaria ao menos o
problema do rio, está paralisada. Aquilo é o resumo do Brasil.
Gastam os tubos na obra para
um evento como o Pan. Não fica pronto, acaba o evento, a
obra pára. O dinheiro público
gasto lá foi perdido."
Em frente à estação, placas
do Ministério dos Esportes e da
Prefeitura do Rio informam
que o custo total da obra é de R$
23.217.095,20, com fim previsto para 15 de janeiro. A do ministério avisa: "Aqui tem investimento do governo federal".
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