São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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Com fim do Pan, estação de tratamento de esgoto é desligada

Construído às pressas, sistema de tratamento em rio poluído que passa ao lado da vila dos atletas funcionou somente durante os Jogos no Rio, em julho

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Construída às pressas para os Jogos Pan-Americanos, a estação de tratamento do rio Arroio Fundo deixou de funcionar assim que a competição terminou. Seria o único legado ambiental do Pan. Transformado pela poluição em um valão de esgoto, o rio passa ao lado da vila que acolheu as delegações brasileira e estrangeiras.
O Arroio Fundo percorre a baixada de Jacarepaguá (zona oeste do Rio) por cerca de 10 km. Recebe no trajeto o esgoto da favela Cidade de Deus, a principal da região, e de dezenas de outras comunidades carentes desprovidas de saneamento básico.
No Pan, disputado em julho, os esportistas não sentiram o mau cheiro do rio, pois, com a estação funcionando, a água recebeu um tratamento químico purificador. O que indicava a poluição do Arroio Fundo era a coloração de suas águas, amarronzada, quase negra.
A estação foi desligada em agosto, quando ocuparam a vila os participantes do Parapan, competição disputada por portadores de deficiências físicas. O cheiro ruim voltou com toda a força, conforme relato dos operários que ainda trabalham na vila, um conjunto de 17 edifícios, com 1.480 apartamentos, que, no próximo ano, deve receber os primeiros moradores.

Abandono
A 2 km da vila, na margem direita do rio e ao lado da Linha Amarela (via expressa que liga as zonas oeste e norte), a estação de tratamento ambiental tem hoje o aspecto de abandono total. Apenas um vigia toma conta das instalações.
Trazido pela correnteza, o lixo se acumula em duas barreiras, batizadas de ecobarreiras. Funcionários da prefeitura tentam removê-lo com pás. Trabalham já há dez dias. Encheram 20 caminhões. Mas a sujeira continua muita.
Na tarde de terça-feira, em meio à lixarada, boiava o corpo de um cachorro em putrefação. No início do mês, após dois dias de tempestade, passou pelo rio o corpo de um bebê, contou, horrorizado, o vigia, que se identificou apenas como "seu" Almir.
Urubus e ratos abundam na que seria uma estação de tratamento modelo para o sistema lagunar da zona oeste, formado pelas lagoas de Marapendi, da Tijuca, de Jacarepaguá e do Camorim e pelos cursos d'água que nascem nos maciços da Tijuca e da Pedra Branca.

Lagunas
O Arroio Fundo deságua na lagoa do Camorim, que é ligada à da Tijuca. A contaminação das duas pelo rio compromete todo o complexo de lagunas e a praia da Barra da Tijuca.
Para o biólogo Mário Moscatelli, ambientalista que acompanha o avançar da poluição nas lagoas da zona oeste, a lagoa da Tijuca, a principal da região, tornou-se um canal de esgoto que desemboca na praia da Barra. "O Arroio Fundo é o maior valão de esgoto da baixada de Jacarepaguá. A estação, que solucionaria ao menos o problema do rio, está paralisada. Aquilo é o resumo do Brasil. Gastam os tubos na obra para um evento como o Pan. Não fica pronto, acaba o evento, a obra pára. O dinheiro público gasto lá foi perdido."
Em frente à estação, placas do Ministério dos Esportes e da Prefeitura do Rio informam que o custo total da obra é de R$ 23.217.095,20, com fim previsto para 15 de janeiro. A do ministério avisa: "Aqui tem investimento do governo federal".


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