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CASO CRACOLÂNDIA
Depois de governador dizer que houve omissão, polícia desloca dois delegados para funções burocráticas
Delegado-geral afasta chefes de acusados
ALENCAR IZIDORO
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado-geral da Polícia Civil paulista, Marco Antonio Desgualdo, determinou ontem o afastamento dos chefes imediatos de
cinco policiais do Denarc (Departamento de Investigações sobre
Narcóticos) investigados e presos
por suspeita de envolvimento
com torturas e tráfico de drogas
na região conhecida como cracolândia (centro de SP). São três os
afastados: dois delegados e um
chefe dos investigadores.
No sábado, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia determinado que os superiores dos
cinco policiais fossem investigados, como informou a Folha ontem. Nas palavras do governador,
"na melhor das hipóteses", houve
"omissão [dos chefes"".
"Não é possível alguém ter policiais agindo desse jeito e não saber", disse Geraldo Alckmin.
Os afastados são: Carlos Eduardo de Oliveira (delegado), José
Roberto de Arruda (delegado) e
Raimundo Coelho Barreto (chefe
dos investigadores). Eles eram
responsáveis por comandar e fiscalizar a ação dos cinco investigadores presos: Hélio Barba, Alessandro Ramos da Silva, Guilherme Palazzo, José Carlos de Castilho e Mauro César Bartolomeu.
O afastamento deve ser publicado amanhã no "Diário Oficial" do
Estado, segundo a Secretaria da
Segurança Pública. Hoje mesmo,
porém, de acordo com a secretaria, Oliveira, Arruda e Barreto devem se apresentar no gabinete do
delegado-geral, onde ficarão em
funções administrativas até que a
Corregedoria da Polícia Civil conclua o inquérito instaurado para
investigar esse caso.
Em tese, a corregedoria tem 15
dias para finalizar a apuração,
mas deve pedir que o prazo seja
prorrogado para poder solicitar a
quebra dos sigilos bancário, fiscal
e telefônico dos presos.
Ao final do inquérito, se não
houver provas contra os três policiais afastados, eles devem retornar às suas funções originais. Eles
não foram localizados ontem.
Mudança na lei
O corregedor da Polícia Civil,
Rui Estanislau Silveira Mello, sustenta que a corregedoria tem feito
a sua parte, mas "precisa de mais
apoio do Judiciário e do Conselho
da Polícia Civil". "É o conselho
que decide o destino do policial.
Os procedimentos que a corregedoria propõe têm de ser referendados", diz o corregedor, ele mesmo membro do conselho, que
reúne os 13 cardeais -delegados
de mais alta classe da Polícia Civil.
"Um desses cinco policiais
[Castilho", por exemplo, foi investigado em nove sindicâncias. O
conselho já arquivou sete e o absolveu em uma. Há apenas uma
em tramitação. Mas ele segue trabalhando, porque a Justiça o absolveu do crime ."
Para o corregedor, a lei impede
que a polícia seja mais rígida com
a própria polícia. Esse é outro motivo, diz ele, pelo qual continuam
na corporação policiais sobre os
quais pairam suspeitas.
"Está na hora de a Lei Orgânica
da Polícia Civil ser modificada,
prever punições mais rígidas e
criar a situação de disponibilidade, como há no Judiciário. Assim
o policial pode ficar afastado o
tempo que for, enquanto houver
suspeita contra ele. Mesmo que
não haja acusação na Justiça."
A Folha informou em sua edição de ontem que a polícia considerou procedentes apenas dez das
315 denúncias de tráfico envolvendo policiais da capital que chegaram à Ouvidoria da Polícia desde 1998. Outras 13 eram improcedentes, 230 estão em andamento e
65 ganharam o inconclusivo rótulo de "não confirmada" ou "não
apurada por falta de dados".
Para Mello, os números mostram que há muitas denúncias falsas e alguma dificuldade em provar os crimes, mas também revelam algum corporativismo.
"A orientação é que não haja
[corporativismo". Mas você acha
que todo policial gosta de investigar outro policial? Existe uma cultura na polícia de que isso afeta a
corporação. Não afeta. O que afeta é deixar mau policial na rua."
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