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DROGAS
Fórum Nacional Antidrogas defendeu um banco de dados para fins epidemiológicos, mas sem o nome de dependentes
Médicos condenam cadastro de usuários
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O 2º Fórum Nacional Antidrogas terminou na semana passada
em Brasília com uma "série de
avanços" e "algumas preocupações". A principal delas é a possível criação de um cadastro de
usuários e dependentes dentro do
Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas.
O fórum, que reuniu 1.300 participantes, debateu a implantação
da política conduzida pela Senad,
a Secretaria Nacional Antidrogas.
A instalação do observatório, que
segue modelo europeu, foi defendido como um banco de dados essencial para a adoção de políticas
de prevenção e de tratamento.
O banco seria alimentado por
universidades, centros de estudos, centros de tratamento e os
conselhos municipais antidrogas.
No final do fórum, em entrevista à
Folha, o general Paulo Roberto
Uchôa, que assumiu a Senad, disse que os conselhos municipais
podem elaborar "listas de usuários de drogas" que, por sua vez,
alimentariam o banco da Senad
(leia entrevista na pág. A7).
"Cadastrar usuários é um ato
policialesco, um retrocesso de
meio século do qual não participaremos", disse o professor Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Cebrid, o principal centro
de informações sobre drogas.
O psiquiatra Sérgio Seibel, presidente do Conen (Conselho Estadual de Entorpecentes) de São
Paulo e que participou dos debates de Brasília, disse que o fórum
manifestou-se contrário às listas
de usuários. "Não admitimos a
relação nominal de dependentes,
mesmo para tratamento", afirmou. "O que defendemos são dados epidemiológicos que nunca
identificam os usuários."
Para o médico Fábio Mesquita,
do programa de DST-Aids de São
Paulo, a alusão a uma lista de
usuários foi "uma interpretação"
do general. "A posição do fórum é
claramente contrária."
Mesquita disse que os debates
deixaram em aberto outros "pontos polêmicos e preocupantes".
O que preocupa
Um deles é a adoção da Justiça
Terapêutica, política de penas alternativas que substitui a prisão
pelo tratamento compulsório.
Outro é o Pro-Erd, Programa de
Educação e Resistência às Drogas,
que tem o apoio do governo americano e que é realizado pela Polícia Militar em muitas escolas. Outra preocupação, segundo Mesquita, é a crença, por parte da Senad, de que é possível acabar de
vez com todas as drogas.
A prevenção como o melhor caminho, e a escola como o melhor
cenário para isso foram alguns
consensos "positivos" do encontro. "O fórum definiu que o professor, mais que o médico, é o
agente multiplicador de maior
eficácia dentro da sala de aula",
disse Arthur Guerra de Andrade,
do Instituto de Psiquiatria da USP
e coordenador do fórum.
Entre as propostas aprovadas
estão a de contemplar a aplicação
de penas alternativas, ampliar as
ações de redução de danos, destinar leitos para desintoxicação em
hospital geral e obrigar os planos
de saúde a cobrir o tratamento de
dependentes, o que não acontece.
"O Brasil está acordando para o
fato de que o dependente não é
um criminoso, mas que precisa de
tratamento", disse Uchôa.
Na área de "redução de oferta",
antes chamada de repressão, o fórum pede a flexibilização da legislação de forma a permitir o acesso
de órgãos policiais a informações
bancárias e fiscais, a criação de
um cadastro nacional de contas
correntes bancárias e mecanismos de bloqueio de bens provenientes do tráfico de drogas.
Pede também o acesso do Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) aos bancos de
dados da Polícia Federal e aos arquivos da Receita Federal para a
checagem de variações patrimoniais de pessoas físicas e jurídicas.
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