São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Foragido, líder da Renascer prega por rádio

Procurado pela polícia há 17 dias, o apóstolo Estevam, de igreja evangélica, continua a falar com fiéis por meio de Nextel

Ele e a mulher, bispa Sônia, são acusados de lavagem de dinheiro, de falsidade ideológica e de estelionato; Promotoria quer ajuda da PF

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo foragido da Justiça há 17 dias, o apóstolo Estevam Hernandes Filho, 52, líder da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, continua a pregar com o auxílio de um rádio-comunicador. É o que a Folha apurou com alguns fiéis e a investigação do Ministério Público.
Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado) dizem acreditar que o apóstolo Estevam pregou recentemente aos discípulos da Renascer por meio de um aparelho Nextel.
Alto-falantes teriam sido usados para amplificar as mensagens num dos templos da igreja na capital paulista. Como o caso está sob segredo de Justiça, os promotores Arthur Lemos, Eder Segura, Roberto Porto e José Reinaldo Carneiro -que fizeram o pedido de prisão preventiva- não quiseram se manifestar sobre o assunto.
"Ele [Estevam] fez isso sim. Falou para nós por meio de um rádio. A mídia inventa histórias mentirosas a seu respeito. Isso é coisa do demônio. Vocês não vão silenciá-lo", afirmou à Folha a fiel Cláudia Aguiar, 42, na sede internacional da Renascer, no bairro do Cambuci.
O Nextel é um comunicador móvel usado como rádio ou celular com o sistema IDEN, tecnologia que, segundo o fabricante, impossibilita qualquer interferência ou invasão.
De acordo com interlocutores do apóstolo, ele evita falar no telefone fixo ou no telefone celular com receio de que ambos tenham sido grampeados pela Justiça.

Procurados
Estevam e sua mulher, a bispa da mesma igreja, Sônia Haddad Moraes Hernandes, 47, tiveram suas prisões preventivas decretadas pelo juiz titular da 1ª Vara Criminal de São Paulo, Paulo Antônio Rossi, logo no começo deste mês.
O motivo? Terem faltado a uma audiência do processo em que são acusados de estelionato contra membros da própria Renascer, além de lavagem de dinheiro arrecadado em cultos e falsidade ideológica -eles teriam montado uma igreja "laranja", chamada Internacional Renovação Evangélica, para livrar a Renascer de processos.
O juiz já havia determinado anteriormente a quebra do sigilo bancário e bloqueio de bens do casal Hernandes.
A assessoria da Renascer informou que Estevam não compareceu à audiência porque estava com um problema nos olhos. Um atestado médico foi emitido ao Ministério Público pela defesa do casal para que fosse anexado ao inquérito.
Outros três sócios dos Hernandes também tiveram a prisão preventiva decretada.
Todos estão sumidos desde o último dia 1º. O Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo) comanda as buscas. Até anteontem à noite, nenhum deles havia sido encontrado.

Ameaça
"Senhores promotores, se vocês prenderem o apóstolo, tem um povo que se levantará por ele, pois acima de tudo ele é servo de Deus."
A mensagem, em tom de ameaça, segundo promotores do Gaeco, chegou por e-mail ao Ministério Público, que abriu um inquérito para apurar quem foi o autor do texto. No entender deles, isso representa crime de coação no curso do processo de investigação sobre a Renascer.
O recado está assinado, mas o correio eletrônico teria vindo de fora do Brasil.
O maior desafio do Ministério Público e da Polícia Civil, contudo, é outro. Onde estão escondidos o casal Hernandes e os outros procurados da igreja? Os promotores do caso avaliam como iminente a necessidade de pedir auxílio à Polícia Federal na captura de todos os foragidos. O órgão teme que algum deles queira usar seus passaportes para deixar o país.

"Descabido"
O advogado de defesa do casal Hernandes, Luiz Flávio Borges D'Urso -reeleito presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil)-, contestou a decisão da Justiça em mandar prender seus clientes.
"O pedido de prisão feito pelo Ministério Público e aceito pela Justiça é descabido. Não era o caso. Não há base legal que preencha isso", disse D"Urso, que afirma desconhecer o paradeiro do casal Hernandes.
Anteontem, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou pedido dos fundadores da igreja Renascer para que fosse rejeitada a denúncia do Ministério Público, que acusou o casal.


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