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Foragido, líder da Renascer prega por rádio
Procurado pela polícia há 17 dias, o apóstolo Estevam, de igreja evangélica, continua a falar com fiéis por meio de Nextel
Ele e a mulher, bispa Sônia,
são acusados de lavagem
de dinheiro, de falsidade
ideológica e de estelionato;
Promotoria quer ajuda da PF
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo foragido da Justiça
há 17 dias, o apóstolo Estevam
Hernandes Filho, 52, líder da
Igreja Apostólica Renascer em
Cristo, continua a pregar com o
auxílio de um rádio-comunicador. É o que a Folha apurou
com alguns fiéis e a investigação do Ministério Público.
Promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado)
dizem acreditar que o apóstolo
Estevam pregou recentemente
aos discípulos da Renascer por
meio de um aparelho Nextel.
Alto-falantes teriam sido
usados para amplificar as mensagens num dos templos da
igreja na capital paulista. Como
o caso está sob segredo de Justiça, os promotores Arthur Lemos, Eder Segura, Roberto
Porto e José Reinaldo Carneiro
-que fizeram o pedido de prisão preventiva- não quiseram
se manifestar sobre o assunto.
"Ele [Estevam] fez isso sim.
Falou para nós por meio de um
rádio. A mídia inventa histórias
mentirosas a seu respeito. Isso
é coisa do demônio. Vocês não
vão silenciá-lo", afirmou à Folha a fiel Cláudia Aguiar, 42, na
sede internacional da Renascer, no bairro do Cambuci.
O Nextel é um comunicador
móvel usado como rádio ou celular com o sistema IDEN, tecnologia que, segundo o fabricante, impossibilita qualquer
interferência ou invasão.
De acordo com interlocutores do apóstolo, ele evita falar
no telefone fixo ou no telefone
celular com receio de que ambos tenham sido grampeados
pela Justiça.
Procurados
Estevam e sua mulher, a bispa da mesma igreja, Sônia Haddad Moraes Hernandes, 47, tiveram suas prisões preventivas
decretadas pelo juiz titular da
1ª Vara Criminal de São Paulo,
Paulo Antônio Rossi, logo no
começo deste mês.
O motivo? Terem faltado a
uma audiência do processo em
que são acusados de estelionato
contra membros da própria Renascer, além de lavagem de dinheiro arrecadado em cultos e
falsidade ideológica -eles teriam montado uma igreja "laranja", chamada Internacional
Renovação Evangélica, para livrar a Renascer de processos.
O juiz já havia determinado
anteriormente a quebra do sigilo bancário e bloqueio de bens
do casal Hernandes.
A assessoria da Renascer informou que Estevam não compareceu à audiência porque estava com um problema nos
olhos. Um atestado médico foi
emitido ao Ministério Público
pela defesa do casal para que
fosse anexado ao inquérito.
Outros três sócios dos Hernandes também tiveram a prisão preventiva decretada.
Todos estão sumidos desde o
último dia 1º. O Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo) comanda as buscas. Até anteontem à noite, nenhum deles havia sido encontrado.
Ameaça
"Senhores promotores, se
vocês prenderem o apóstolo,
tem um povo que se levantará
por ele, pois acima de tudo ele é
servo de Deus."
A mensagem, em tom de
ameaça, segundo promotores
do Gaeco, chegou por e-mail ao
Ministério Público, que abriu
um inquérito para apurar
quem foi o autor do texto. No
entender deles, isso representa
crime de coação no curso do
processo de investigação sobre
a Renascer.
O recado está assinado, mas o
correio eletrônico teria vindo
de fora do Brasil.
O maior desafio do Ministério Público e da Polícia Civil,
contudo, é outro. Onde estão
escondidos o casal Hernandes e
os outros procurados da igreja?
Os promotores do caso avaliam
como iminente a necessidade
de pedir auxílio à Polícia Federal na captura de todos os foragidos. O órgão teme que algum
deles queira usar seus passaportes para deixar o país.
"Descabido"
O advogado de defesa do casal Hernandes, Luiz Flávio
Borges D'Urso -reeleito presidente da OAB-SP (Ordem dos
Advogados do Brasil)-, contestou a decisão da Justiça em
mandar prender seus clientes.
"O pedido de prisão feito pelo
Ministério Público e aceito pela
Justiça é descabido. Não era o
caso. Não há base legal que
preencha isso", disse D"Urso,
que afirma desconhecer o paradeiro do casal Hernandes.
Anteontem, o STJ (Superior
Tribunal de Justiça) negou pedido dos fundadores da igreja
Renascer para que fosse rejeitada a denúncia do Ministério
Público, que acusou o casal.
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