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QUALIDADE DE VIDA
Faltam equipamentos e veículos adaptados para atender deficientes; empresas prometem investir
Ônibus, trem e metrô têm acesso restrito
DA REPORTAGEM LOCAL
O acesso gratuito dos portadores de deficiência ao transporte
coletivo é previsto pela legislação
-mas, se dependessem da disponibilidade de equipamentos públicos para garantir esse direito,
muitos estariam condenados ao
confinamento dentro de casa.
Em São Paulo, nem mesmo a
malha metroviária tão elogiada
pela população tem todas as suas
estações adaptadas para receber
esses grupos -do total de 52, 34
(65%) têm rampas, plataformas
de elevação vertical ou elevadores
para facilitar os deslocamentos.
Os problema estão concentrados na linha 1-azul (Norte/Sul), a
mais antiga do sistema, que começou a sua operação em 1974.
Nela, 18 (82%) das 22 estações não
estão equipadas para receber os
portadores de deficiência física.
Na rede da CPTM (Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos), somente 16 (17%) das 92 estações são totalmente acessíveis.
Outras 10 (11%) estão parcialmente (têm rampas, elevadores
ou banheiros, mas nunca os três
equipamentos ao mesmo tempo).
Segundo a CPTM, está prevista
uma emenda orçamentária neste
ano, no valor de R$ 10 milhões,
para readequar as que ainda não
atendem as condições necessárias. A empresa solicitou ainda R$
13 milhões ao Ministério das Cidades com a mesma intenção para aplicar, especificamente, nas
estações Osasco, Presidente Altino e Domingos de Moraes.
Ônibus
As dificuldades de acessibilidade -tanto para portadores de deficiência física como para idosos,
gestantes e obesos, por exemplo- são ainda maiores nos ônibus municipais e intermunicipais.
Na frota de aproximadamente
3.000 veículos da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes
Urbanos), que roda na Grande
São Paulo, existem apenas 14
(0,5%) com adaptações -elevadores e piso baixo com ajoelhamento ou rebaixamento.
No sistema da capital paulista,
há 208 linhas (21% do total) com
ao menos um veículo adaptado
com elevador ou 228 (23%), se incluídos os de corredores onde a
entrada no ônibus é feita no mesmo nível da plataforma. A quantidade de veículos com essas características ainda é limitada a 300
-2% da frota paulistana.
Na licitação feita em 2003 para
selecionar novas viações e perueiros, a Prefeitura de São Paulo incluiu como obrigação dos operadores a presença de ao menos um
veículo adaptado por linha, que
deve ser disponibilizado no prazo
de um ano -que vence em julho.
Isso significa que, para que os
contratos sejam cumpridos, as
empresas de ônibus e as cooperativas de lotações terão que comprar e colocar nas ruas praticamente quatro veículos por dia.
"Há um problema operacional
de capacidade de produção das
fábricas, mas creio que vamos ao
menos ficar próximos dessa meta.
Não se compra elevador e ônibus
adaptado como se compra bala",
diz Gerson Bittencourt, presidente da SPTrans (órgão municipal
que cuida do setor), repetindo a
mesma justificativa dada nos últimos anos para a situação de desrespeito a leis municipais existentes desde 1994 prevendo maior
acessibilidade no transporte.
O promotor Lauro Luiz Gomes
Ribeiro, do Grupo de Atuação Especial de Proteção às Pessoas Portadoras de Deficiência, pressionou a prefeitura e chegou a entrar
com uma ação para cobrar mais
agilidade nas melhorias.
Ribeiro pedia a obrigatoriedade
de um veículos por linha ("é um
mínimo do mínimo") no prazo de
seis meses depois da assinatura
dos contratos, mas não obteve sucesso. Agora, terá de esperar a
apreciação final de suas ações
contra a municipalidade, mas é
pessimista quanto aos prazos.
"Até transitar tudo, a responsabilidade vai cair para a próxima
gestão ou ainda para depois da
próxima", afirma ele. "O poderio
do empresariado é muito forte",
completa Ribeiro.
Segundo Bittencourt, a SPTrans
fará no começo do próximo mês
uma pesquisa para identificar
quais linhas e horários concentram maior demanda de portadores de deficiência física, de forma
a dar prioridade a determinados
trajetos. As viações também disponibilizam um serviço batizado
de Atende, com veículos adaptados e especiais que transportam
aqueles cuja mobilidade é considerada extremamente reduzida.
Segundo a SPTrans, com a reformulação do Atende, iniciada
nos últimos dois meses, a quantidade de pessoas atendidas vai dobrar, de 1.100 para 2.200 -insuficiente para atender à demanda, já
que houve 3.900 interessados.
No âmbito de atuação do governo do Estado, a Secretaria dos
Transportes Metropolitanos lançou na última semana uma campanha sobre acessibilidade para
chamar a atenção da população
sobre os direitos dos portadores
de deficiência. A campanha incluirá a distribuição de cartilhas e
afixação de cartazes na rede do
Metrô, da CPTM e da EMTU.
(ALENCAR IZIDORO)
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