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Na avenida do Estado, 5.000 pessoas ficam ilhadas em prédio
Funcionários do centro operacional do Itaú tiveram que esperar pelo menos 4 horas para conseguir deixar a unidade
Na via, enfermeira ficou presa dentro de ambulância invadida pela água e foi puxada por motoristas até a parte de cima de caminhão
DA REPORTAGEM LOCAL
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Bastaram alguns minutos para que a pista local da avenida
do Estado, na zona sul de São
Paulo, fosse tomada pela água.
Pessoas pulavam pela janela
dos carros, buscando abrigo.
Enquanto isso, um prédio do
banco Itaú que abriga cerca de
5.000 funcionários em frente à
via era cercado pela enchente.
Quem ficou sobre os carros
ou conseguiu abrigo teve prioridade no resgate feito pelos
bombeiros. No prédio do Itaú,
boa parte das 5.000 pessoas só
conseguiu deixar o local após
esperar ao menos quatro horas.
Novata no trabalho -seus
colegas já viveram situação semelhante-, a estagiária Renata
Cavalcante, 22, não entendeu
direito quando, ao sair de uma
reunião às 18h, uma secretária
brincou: "Trouxeram seus lanchinhos? A noite vai ser longa".
Ela desceu até o térreo, separado por uma grande escadaria
do nível da rua, e só então se
deu conta do estrago: à sua
frente havia um rio correndo
onde antes passavam os carros.
No prédio, inaugurado em
1981, funciona o centro técnico-operacional do Itaú. Sem
poder sair de lá, restou aos funcionários voltar para suas salas
e ligar a TV. "O pessoal está
preocupado aqui porque ninguém sabe como estão os carros no estacionamento", dizia
Renata à Folha, por celular.
Momentos antes, ao olhar
pela janela, ela presenciara
uma cena de desespero: motoboys ajudavam pessoas a sair
de um ônibus, puxando-as pela
janela, enquanto a água subia
rápido e tomava o veículo.
Próximo das 22h, a água baixou um pouco. Uma multidão
se formou no térreo, logo em
frente às escadarias que, no entanto, ainda terminavam no rio
artificial formado sobre as pistas da avenida do Estado.
Alguns funcionários do banco se arriscaram a caminhar
por uma rua lateral menos alagada até um ponto de ônibus.
Os chefes de departamento da
unidade do Itaú tentavam demovê-los, alertando-os para
eventuais riscos. Renata preferiu esperar e já pensava que teria de ficar no prédio a noite toda -"O jeito é tentar negociar
um lugar no sofazinho" -, mas
conseguiu ir embora às 22h30.
Resgates
Para quem trafegava na avenida, o clima foi mais pesado. A
técnica contábil Cícera Ribeiro
da Silva, 31, estava em seu carro, no trajeto de todos os dias,
quando a água subiu. "Foi tudo
muito rápido", conta. Funcionários de uma fábrica em frente à que ela estava a socorreram. Ela ficou na fábrica por
mais de 3h30 até ser resgatada
pelo bote dos bombeiros, de
onde desembarcou aos prantos
para ser abraçada pelo marido.
Bem próximo dali, a enfermeira Renata Tifer, 24, seguia
dentro de uma ambulância
quando o carro foi invadido pela enchente. "A ambulância ficou completamente cheia no
tempo que demora para um semáforo abrir", afirmou ela.
Sua sorte, conta, é que outros
motoristas, já fora de seus veículos, a puxaram pela roupa.
"Havia um caminhão bem ao
lado. Ficamos em cima dele até
que o resgate chegasse", disse.
A situação do Ipiranga, próximo da avenida do Estado, foi
classificada como de "alerta"
pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências). O córrego de mesmo nome transbordou e a água subiu a mais de
dois metros na avenida Abraão
de Morais, altura do cruzamento com a General Chagas Santos. Funcionários de um posto
de gasolina disseram não ter
visto carros boiando, como frequentemente acontece, já que
os motoristas conseguiram evitar o local a tempo.
(CONRADO CORSALETTE, DANIEL BERGAMASCO e DIEGO PADGURSCHI)
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