São Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

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Na avenida do Estado, 5.000 pessoas ficam ilhadas em prédio

Funcionários do centro operacional do Itaú tiveram que esperar pelo menos 4 horas para conseguir deixar a unidade

Na via, enfermeira ficou presa dentro de ambulância invadida pela água e foi puxada por motoristas até a parte de cima de caminhão

DA REPORTAGEM LOCAL
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Bastaram alguns minutos para que a pista local da avenida do Estado, na zona sul de São Paulo, fosse tomada pela água. Pessoas pulavam pela janela dos carros, buscando abrigo. Enquanto isso, um prédio do banco Itaú que abriga cerca de 5.000 funcionários em frente à via era cercado pela enchente.
Quem ficou sobre os carros ou conseguiu abrigo teve prioridade no resgate feito pelos bombeiros. No prédio do Itaú, boa parte das 5.000 pessoas só conseguiu deixar o local após esperar ao menos quatro horas.
Novata no trabalho -seus colegas já viveram situação semelhante-, a estagiária Renata Cavalcante, 22, não entendeu direito quando, ao sair de uma reunião às 18h, uma secretária brincou: "Trouxeram seus lanchinhos? A noite vai ser longa".
Ela desceu até o térreo, separado por uma grande escadaria do nível da rua, e só então se deu conta do estrago: à sua frente havia um rio correndo onde antes passavam os carros.
No prédio, inaugurado em 1981, funciona o centro técnico-operacional do Itaú. Sem poder sair de lá, restou aos funcionários voltar para suas salas e ligar a TV. "O pessoal está preocupado aqui porque ninguém sabe como estão os carros no estacionamento", dizia Renata à Folha, por celular.
Momentos antes, ao olhar pela janela, ela presenciara uma cena de desespero: motoboys ajudavam pessoas a sair de um ônibus, puxando-as pela janela, enquanto a água subia rápido e tomava o veículo.
Próximo das 22h, a água baixou um pouco. Uma multidão se formou no térreo, logo em frente às escadarias que, no entanto, ainda terminavam no rio artificial formado sobre as pistas da avenida do Estado.
Alguns funcionários do banco se arriscaram a caminhar por uma rua lateral menos alagada até um ponto de ônibus. Os chefes de departamento da unidade do Itaú tentavam demovê-los, alertando-os para eventuais riscos. Renata preferiu esperar e já pensava que teria de ficar no prédio a noite toda -"O jeito é tentar negociar um lugar no sofazinho" -, mas conseguiu ir embora às 22h30.

Resgates
Para quem trafegava na avenida, o clima foi mais pesado. A técnica contábil Cícera Ribeiro da Silva, 31, estava em seu carro, no trajeto de todos os dias, quando a água subiu. "Foi tudo muito rápido", conta. Funcionários de uma fábrica em frente à que ela estava a socorreram. Ela ficou na fábrica por mais de 3h30 até ser resgatada pelo bote dos bombeiros, de onde desembarcou aos prantos para ser abraçada pelo marido.
Bem próximo dali, a enfermeira Renata Tifer, 24, seguia dentro de uma ambulância quando o carro foi invadido pela enchente. "A ambulância ficou completamente cheia no tempo que demora para um semáforo abrir", afirmou ela.
Sua sorte, conta, é que outros motoristas, já fora de seus veículos, a puxaram pela roupa. "Havia um caminhão bem ao lado. Ficamos em cima dele até que o resgate chegasse", disse.
A situação do Ipiranga, próximo da avenida do Estado, foi classificada como de "alerta" pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências). O córrego de mesmo nome transbordou e a água subiu a mais de dois metros na avenida Abraão de Morais, altura do cruzamento com a General Chagas Santos. Funcionários de um posto de gasolina disseram não ter visto carros boiando, como frequentemente acontece, já que os motoristas conseguiram evitar o local a tempo.
(CONRADO CORSALETTE, DANIEL BERGAMASCO e DIEGO PADGURSCHI)



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