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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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20 ANOS DEPOIS

1983 foi o ano em que o PT assumiu, na cidade do ABCD paulista, a sua primeira administração municipal

Diadema avança, mas não supera pobreza

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A casa onde o Partido dos Trabalhadores aprendeu a ser governo continua pobre. O chão, porém, já não é de terra batida. As pessoas estão mais alfabetizadas, embora enfrentem dificuldades na saúde. Como em outros pontos da Grande SP, o desemprego atingiu boa parte dos moradores.
A violência ainda é uma marca registrada, apesar de dar sinais de arrefecimento. No cenário político, os três homens "de esquerda" que ocuparam o poder municipal nesse período não se entendem e trocam acusações.
"Diadema era considerada o fim do mundo, mesmo estando a 15 km do marco zero da praça da Sé", lembra Gilson Menezes, o primeiro prefeito eleito pelo PT no país. Exageros à parte, em 83, de acordo com dados da prefeitura, a cidade só tinha 20% de suas ruas asfaltadas. As favelas eram a cara mais visível do município. Naquele ano, havia 130 núcleos.
Hoje, ainda segundo dados da prefeitura, 96% das ruas são asfaltadas. Mas os núcleos de favelas aumentaram -são 207, um acréscimo de 59,2%. O secretário de Governo de Diadema, Arquimedes Andrade, morador na cidade desde 1976, calcula que, em 1983, 30% da população morava em favelas. "Atualmente, o percentual é o mesmo." A cidade tem 357 mil habitantes.
O atual prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior. (PT), ressalva que, apesar de o número de favelas ter aumentado, "90% delas são urbanizadas, com água e luz".
O programa de urbanização da Prefeitura de Diadema chegou a ser apresentado em 1996, na Conferência de Assentamentos Humanos Habitat 2, promovida pela ONU em Istambul (Turquia), como uma das ações mais eficazes de urbanização de favelas.
Na educação, a cidade também conseguiu dar um salto. Em 1983, quando o PT assumiu a prefeitura, apenas 61% da população era alfabetizada. Atualmente, esse percentual chega a 93,2%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Saúde e segurança
Mas é na saúde e na segurança que está o calcanhar-de-aquiles da administração municipal.
A mortalidade infantil foi reduzida drasticamente: em 1983, para cada 1.000 crianças nascidas vivas, 70,6 morriam; atualmente, o indicador é 17,7 por 1.000 -um pouco acima da média do Estado, que é de 16,07 por 1.000. Mesmo levando em conta esse avanço, o atendimento de saúde na cidade precisa ser melhorado.
Filippi diz que é um problema de difícil solução. O alerta soou em julho de 2001, quando não havia médico no pronto-socorro do Hospital Municipal. "Naquela época, chegamos ao fundo do poço", lembra o prefeito.
Segundo Filippi, quando ele assumiu o seu segundo mandato, em 2001, havia 417 médicos, que representavam 7% do total de funcionários da prefeitura -eram 6.200 na época. Esses profissionais consumiam 10% da folha de pagamento. A folha atingia, de acordo com Filippi, 68% da arrecadação. Para reduzi-la, ele fez cortes até mesmo na saúde.
Deixou-se também de pagar horas extras. O resultado é a reclamação constante da população, que se queixa das filas e da falta de medicamentos na rede.
Na segurança, a cidade ainda tem a marca da violência. Em 2001, a taxa de homicídios estava em 86,81 para cada grupo de 100.000 pessoas -mais que o dobro da média do Estado (41,73).

Queda no ranking
De acordo com o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), em 1991, Diadema ocupava a 174ª posição no Estado de São Paulo.
Em 2000, de acordo com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), Diadema caiu para a 245ª posição. Ou seja: perdeu 71 postos, o que significa que a cidade mudou, sim, mas em ritmo menor do que outros municípios do Estado.
Exemplos no sentido oposto existem. Campos do Jordão, a 167 km de São Paulo, ocupava a 198ª posição em 1991 e, em 2000, passou para a 62ª. Na região do ABCD paulista, porém, todos os municípios tiveram queda no ranking, com exceção de São Caetano do Sul, que passou do segundo para o primeiro lugar no país.
Nos três índices que compõem o IDH-M (longevidade, educação e renda), Diadema apresentou melhora. José Carlos Libânio, assessor do Pnud para o desenvolvimento humano sustentável, avalia como "normal" a evolução da cidade nesses quesitos.
Para o atual prefeito de Diadema, "o Índice de Desenvolvimento Humano é um bom indicador, mas não pode ser visto isoladamente". Por isso Filippi lembra a situação econômica do país para justificar a queda no ranking de desenvolvimento humano.
Em 1991, por exemplo, Diadema tinha 84.371 postos de trabalho. Em 2001, caiu para 73.101. Como todo o ABCD, Diadema sofreu com o processo de automatização da indústria automobilística. As máquinas passaram a dar conta de funções antes executadas pela mão-de-obra humana.


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