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20 ANOS DEPOIS
1983 foi o ano em que o PT assumiu, na cidade do ABCD paulista, a sua primeira administração municipal
Diadema avança, mas não supera pobreza
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A casa onde o Partido dos Trabalhadores aprendeu a ser governo continua pobre. O chão, porém, já não é de terra batida. As
pessoas estão mais alfabetizadas,
embora enfrentem dificuldades
na saúde. Como em outros pontos da Grande SP, o desemprego
atingiu boa parte dos moradores.
A violência ainda é uma marca
registrada, apesar de dar sinais de
arrefecimento. No cenário político, os três homens "de esquerda"
que ocuparam o poder municipal
nesse período não se entendem e
trocam acusações.
"Diadema era considerada o
fim do mundo, mesmo estando a
15 km do marco zero da praça da
Sé", lembra Gilson Menezes, o
primeiro prefeito eleito pelo PT
no país. Exageros à parte, em 83,
de acordo com dados da prefeitura, a cidade só tinha 20% de suas
ruas asfaltadas. As favelas eram a
cara mais visível do município.
Naquele ano, havia 130 núcleos.
Hoje, ainda segundo dados da
prefeitura, 96% das ruas são asfaltadas. Mas os núcleos de favelas
aumentaram -são 207, um
acréscimo de 59,2%. O secretário
de Governo de Diadema, Arquimedes Andrade, morador na cidade desde 1976, calcula que, em
1983, 30% da população morava
em favelas. "Atualmente, o percentual é o mesmo." A cidade tem
357 mil habitantes.
O atual prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior. (PT), ressalva
que, apesar de o número de favelas ter aumentado, "90% delas são
urbanizadas, com água e luz".
O programa de urbanização da
Prefeitura de Diadema chegou a
ser apresentado em 1996, na Conferência de Assentamentos Humanos Habitat 2, promovida pela
ONU em Istambul (Turquia), como uma das ações mais eficazes
de urbanização de favelas.
Na educação, a cidade também
conseguiu dar um salto. Em 1983,
quando o PT assumiu a prefeitura, apenas 61% da população era
alfabetizada. Atualmente, esse
percentual chega a 93,2%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Saúde e segurança
Mas é na saúde e na segurança
que está o calcanhar-de-aquiles
da administração municipal.
A mortalidade infantil foi reduzida drasticamente: em 1983, para
cada 1.000 crianças nascidas vivas,
70,6 morriam; atualmente, o indicador é 17,7 por 1.000 -um pouco acima da média do Estado, que
é de 16,07 por 1.000. Mesmo levando em conta esse avanço, o
atendimento de saúde na cidade
precisa ser melhorado.
Filippi diz que é um problema
de difícil solução. O alerta soou
em julho de 2001, quando não havia médico no pronto-socorro do
Hospital Municipal. "Naquela
época, chegamos ao fundo do poço", lembra o prefeito.
Segundo Filippi, quando ele assumiu o seu segundo mandato,
em 2001, havia 417 médicos, que
representavam 7% do total de
funcionários da prefeitura
-eram 6.200 na época. Esses
profissionais consumiam 10% da
folha de pagamento. A folha atingia, de acordo com Filippi, 68%
da arrecadação. Para reduzi-la, ele
fez cortes até mesmo na saúde.
Deixou-se também de pagar horas extras. O resultado é a reclamação constante da população,
que se queixa das filas e da falta de
medicamentos na rede.
Na segurança, a cidade ainda
tem a marca da violência. Em
2001, a taxa de homicídios estava
em 86,81 para cada grupo de
100.000 pessoas -mais que o dobro da média do Estado (41,73).
Queda no ranking
De acordo com o IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal), em 1991, Diadema
ocupava a 174ª posição no Estado
de São Paulo.
Em 2000, de acordo com o Pnud
(Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), Diadema caiu para a 245ª posição. Ou
seja: perdeu 71 postos, o que significa que a cidade mudou, sim,
mas em ritmo menor do que outros municípios do Estado.
Exemplos no sentido oposto
existem. Campos do Jordão, a 167
km de São Paulo, ocupava a 198ª
posição em 1991 e, em 2000, passou para a 62ª. Na região do
ABCD paulista, porém, todos os
municípios tiveram queda no
ranking, com exceção de São Caetano do Sul, que passou do segundo para o primeiro lugar no país.
Nos três índices que compõem
o IDH-M (longevidade, educação
e renda), Diadema apresentou
melhora. José Carlos Libânio, assessor do Pnud para o desenvolvimento humano sustentável, avalia como "normal" a evolução da
cidade nesses quesitos.
Para o atual prefeito de Diadema, "o Índice de Desenvolvimento Humano é um bom indicador,
mas não pode ser visto isoladamente". Por isso Filippi lembra a
situação econômica do país para
justificar a queda no ranking de
desenvolvimento humano.
Em 1991, por exemplo, Diadema tinha 84.371 postos de trabalho. Em 2001, caiu para 73.101. Como todo o ABCD, Diadema sofreu com o processo de automatização da indústria automobilística. As máquinas passaram a dar
conta de funções antes executadas
pela mão-de-obra humana.
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