São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Ficamos ao lado do caixão com medo dos tiros, diz rapaz

Velório de avô teve de ser suspenso devido a tiroteio no morro da Mineira

Enquanto velavam corpos de parentes, pessoas foram surpreendidas por criminosos que pularam para dentro do cemitério

Marcelo Sayao/Efe
Policial procura narcotraficantes em cemitério onde criminosos se esconderam após tiroteio no Rio durante a madrugada de ontem


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

"Em vez da dor da perda, hoje temos só a tensão pelo medo." Foi assim que o supervisor de produtos Denilson Silva, 37, resumiu o sentimento da última madrugada, quando o velório do seu avô Mario Ferraz teve que ser suspenso, por conta do intenso tiroteio no morro da Mineira.
"Foram quase duas horas de tiroteio cerrado. Parecia uma guerra mesmo. Granadas explodiram. Tivemos de ficar agachados, ao lado do caixão, com medo de ser atingidos. Quando amanheceu, os bandidos começaram a pular para dentro do cemitério. Foi horrível", lembrou o rapaz.
Na manhã de ontem, Denilson informava os parentes que a situação era "muito crítica" e que eles não deveriam ir ao enterro do avô, que conheceu de perto a violência. "Há uns três anos, uma bala perfurou a janela do quarto dele [no Rio Comprido, bairro vizinho ao Catumbi, onde fica o cemitério] e caiu na cama onde dormia. Queimou até o lençol, mas graças a Deus ele não se feriu", disse.

Horror
Quando chegou para velar o corpo do marido morto, Janice Araújo Lima dos Santos, 60, viu uma cena de horror.
As flores que enfeitavam o corpo de Irani Thomaz Graça estavam espalhadas no chão e pisoteadas.
Momentos antes de ela chegar ao cemitério, um criminoso foi preso se escondendo na capela, onde jazia o corpo do seu marido.
Ela disse que não passou a madrugada no velório porque precisava resolver a burocracia do enterro. "Queria chegar aqui cedo, mas o trânsito estava horrível por causa do tiroteio. Depois até achei melhor, porque, se eu estivesse lá dentro, eu não seria uma refém?", perguntou, apavorada.
Janice soube da invasão à capela por Aluízio (ele não quis informar o sobrenome), que velava o corpo da mãe, Sebastiana Araújo Silva, 93, em uma capela vizinha.
"O bandido entrou na nossa capela, onde eu estava com minhas três irmãs, e se assustou. Estava todo enlameado e machucado no rosto. Pediu para a gente não chamar a polícia e se escondeu na outra capela, que estava vazia. Pouco depois chegou a polícia e nos escondemos no banheiro da capela, com medo de que houvesse mais tiros", contou.
Na hora do enterro de Irani, às 14h30, algumas pessoas, entre elas a filha dele, não acompanharam o enterro, com medo de novos tiroteios. A gaveta onde ele foi sepultado, fica a menos de dez metros do muro que separa o morro do cemitério.


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