|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em outro conflito, seis são mortos pela PM
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Policiais do 14º Batalhão de
Polícia Militar do Rio mataram
seis homens, na noite de anteontem, em Senador Camará
(zona oeste). Eles seriam bandidos da favela do Rebu e estavam com armas e papelotes de
cocaína ao ocorrer o confronto.
Como é comum acontecer na
região, os corpos foram levados
para o Hospital Estadual Albert
Schweitzer, em Realengo. A polícia costuma informar que
seus alvos chegaram vivos e
"não resistiram aos ferimentos", mas o hospital os classifica
como "já cadáver".
Só neste ano, o Albert
Schweitzer recebeu 114 baleados, entre cadáveres, feridos a
bala depois transferidos -pois
a unidade não tem CTI (Centro
de Terapia Intensiva)- e pessoas que morreram no hospital.
Em 2006, foram 67 baleados
nos primeiros quatro meses.
"Aqui é o paraíso do tiro", diz
o dentista Carlos Herllo Câmara, 72, enquanto abre a boca de
um paciente e mostra o maxilar
destruído por uma bala.
Outros hospitais de emergência, como o Souza Aguiar
(centro) e o Getúlio Vargas (Penha, zona norte), recebem até
mais baleados, mas cobrem um
espectro maior da cidade. O Albert concentra feridos de uma
região que reúne alguns dos
principais conflitos em curso.
É na zona oeste que há mais
favelas dominadas por milícias
-grupos de policiais, ex-policiais e bombeiros que expulsam os traficantes e passam a
cobrar dos moradores por segurança e outros serviços.
É ainda na zona oeste que
acontece a guerra dos caça-níqueis, na qual Rogério Andrade
e Fernando Iggnácio, hoje presos, buscam o controle do espólio do bicheiro Castor de Andrade, morto em 1993.
E também é na zona oeste
que facções criminosas trocam
tiros com freqüência por causa
dos pontos de venda de drogas
em favelas como Vila Vintém,
Fumacê, Batan e Coréia.
"É quase impossível não chegar uma pessoa baleada num
plantão. Mas há dias em que
chegam oito", diz o médico Wille Banacho, 36, dez de Albert e
que já fez um curso de "Medicina em tempos de guerra".
Banacho se refere à noite de
12 de março: oito jovens sem
antecedentes criminais foram
atingidos diante de um colégio
apenas porque no local estudam moradores da favela do Sapo, cujos traficantes tinham
roubado bocas-de-fumo dos rivais do Rebu, que se vingaram.
Thiago Paulino, 17, morreu.
Para médicos experientes,
que já vêem como rotina cenas
típicas de guerra (corpos destruídos por balas de fuzil), o que
ainda não deixou de ser chocante são crianças baleadas.
Em 7 de março, por exemplo,
Maria Fernanda Santana, 2,
chegou morta ao hospital após
ser atingida na cabeça por um
inimigo de seu padrasto.
"É triste quando o médico
não se indigna, mas a verdade é
que muitas coisas vão sendo absorvidas, pois você sabe que vai
haver tiros e que pessoas vão
morrer assim", diz o diretor do
hospital, César Rodrigues, 49.
Ele assumiu o cargo em janeiro, após o governador Sérgio
Cabral classificar de "genocídio" o atendimento precário no
local, com macas no corredor
da emergência.
Texto Anterior: Ficamos ao lado do caixão com medo dos tiros, diz rapaz Próximo Texto: Marinha pode atuar na área litorânea e nos portos do Rio Índice
|