São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Em outro conflito, seis são mortos pela PM

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais do 14º Batalhão de Polícia Militar do Rio mataram seis homens, na noite de anteontem, em Senador Camará (zona oeste). Eles seriam bandidos da favela do Rebu e estavam com armas e papelotes de cocaína ao ocorrer o confronto.
Como é comum acontecer na região, os corpos foram levados para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo. A polícia costuma informar que seus alvos chegaram vivos e "não resistiram aos ferimentos", mas o hospital os classifica como "já cadáver".
Só neste ano, o Albert Schweitzer recebeu 114 baleados, entre cadáveres, feridos a bala depois transferidos -pois a unidade não tem CTI (Centro de Terapia Intensiva)- e pessoas que morreram no hospital. Em 2006, foram 67 baleados nos primeiros quatro meses.
"Aqui é o paraíso do tiro", diz o dentista Carlos Herllo Câmara, 72, enquanto abre a boca de um paciente e mostra o maxilar destruído por uma bala.
Outros hospitais de emergência, como o Souza Aguiar (centro) e o Getúlio Vargas (Penha, zona norte), recebem até mais baleados, mas cobrem um espectro maior da cidade. O Albert concentra feridos de uma região que reúne alguns dos principais conflitos em curso.
É na zona oeste que há mais favelas dominadas por milícias -grupos de policiais, ex-policiais e bombeiros que expulsam os traficantes e passam a cobrar dos moradores por segurança e outros serviços.
É ainda na zona oeste que acontece a guerra dos caça-níqueis, na qual Rogério Andrade e Fernando Iggnácio, hoje presos, buscam o controle do espólio do bicheiro Castor de Andrade, morto em 1993.
E também é na zona oeste que facções criminosas trocam tiros com freqüência por causa dos pontos de venda de drogas em favelas como Vila Vintém, Fumacê, Batan e Coréia.
"É quase impossível não chegar uma pessoa baleada num plantão. Mas há dias em que chegam oito", diz o médico Wille Banacho, 36, dez de Albert e que já fez um curso de "Medicina em tempos de guerra".
Banacho se refere à noite de 12 de março: oito jovens sem antecedentes criminais foram atingidos diante de um colégio apenas porque no local estudam moradores da favela do Sapo, cujos traficantes tinham roubado bocas-de-fumo dos rivais do Rebu, que se vingaram. Thiago Paulino, 17, morreu.
Para médicos experientes, que já vêem como rotina cenas típicas de guerra (corpos destruídos por balas de fuzil), o que ainda não deixou de ser chocante são crianças baleadas. Em 7 de março, por exemplo, Maria Fernanda Santana, 2, chegou morta ao hospital após ser atingida na cabeça por um inimigo de seu padrasto.
"É triste quando o médico não se indigna, mas a verdade é que muitas coisas vão sendo absorvidas, pois você sabe que vai haver tiros e que pessoas vão morrer assim", diz o diretor do hospital, César Rodrigues, 49.
Ele assumiu o cargo em janeiro, após o governador Sérgio Cabral classificar de "genocídio" o atendimento precário no local, com macas no corredor da emergência.


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