São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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SAÚDE/PRÉ-OSTEOPOROSE

Medicar pré-osteoporose pode ser exagero

Tratar osteopenia com remédios tem risco desnecessário e benefício pequeno, diz estudo publicado na "British Medical Journal"

Doença atinge mais da metade das mulheres com idade superior a 50 anos após a menopausa e causa a redução da densidade óssea

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Remédios para osteoporose podem estar sendo receitados a pacientes com pré-osteoporose sem a real necessidade ou sem considerar-se a extensão dos efeitos. É o que indica um artigo publicado na revista "British Medical Journal", em que pesquisadores dizem que estudos usados para justificar esses medicamentos na fase anterior à osteoporose exageram benefícios e subestimam riscos.
A pré-osteoporose (osteopenia) é o início da perda da densidade óssea. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o problema atinge mais da metade das mulheres com mais de 50 anos em razão de mudanças hormonais após a menopausa. Mulheres com osteopenia têm entre 10% e 25% menos densidade óssea, enquanto as na osteoporose, menos de 25%.
O tratamento da pré-osteoporose é controverso. Nos últimos anos, análises de estudos de medicamentos para osteoporose defenderam que os benefícios são grandes também na pré-osteoporose. Quatro análises, referentes a raloxifeno, alendronato, risedronato e renalato de estrôncio, foram os alvos das críticas no artigo de Pablo Alonso-Coello, médico do Centro Cochrane -entidade que revisa estudos de saúde.
Entre outros motivos, ele descredenciou essas análises considerando que elas focaram a redução do risco "relativo" de fraturas em relação às mulheres que as tiveram, e não no número total de mulheres estudadas. Isso revelaria uma redução de risco de fraturas bastante baixa na pré-osteoporose.
Alonso-Coello diz que num universo de 270 mulheres com pré-osteoporose, em três anos, apenas uma evitaria fratura tomando remédio, com base nos estudos analisados.
Segundo ele, a incidência de fraturas nessa fase dificilmente ultrapassa 1% das mulheres ao ano. Ele afirma que, desde a década de 90, o mercado farmacêutico estimula o tratamento de mulheres mais jovens com risco pequeno de fratura.

Conduta
Rubem Lederman, presidente da Federação Nacional das Associações de Combate à Osteoporose, afirma que não costuma medicar pacientes com pré-osteoporose.
"Eu sempre defendi que pacientes com osteopenia devem tomar cálcio e vitamina D. Mais nada. Colocando a pessoa para andar todo dia, você pode estabilizar a perda de massa óssea."
Lederman diz que alguns médicos que não lidam diretamente com a doença, quando vêem um laudo de pré-osteoporose, indicam remédios. Segundo ele, os medicamentos não são agressivos e podem ao menos bloquear a perda.
Condições clínicas são importantes na decisão de medicar ou não para César Eduardo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Climatério. Segundo ele, considerar somente a densitometria óssea pode levar a erros.
"Mulheres com idade avançada, da raça branca, com uma menopausa ou uma doença que cause a osteoporose, como o hiperparatireoidismo, com artrite reumatóide, que fumem ou bebam têm maior risco de fraturas e podem ser medicadas."
A ginecologista Cláudia Gazzo diz que em muitos casos os medicamentos são importantes para evitar a evolução da doença. "Se o paciente não fizer ginástica, musculação ou tratamento hormonal, acaba tendo que tomar remédio", afirma. Entre os medicamentos disponíveis no Brasil para osteoporose estão os quatro citados no artigo.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é uma prerrogativa do médico decidir quando indicar o medicamento. De acordo com o órgão, há também um monitoramento permanente dos produtos no mercado por parte do setor de farmacovigilância.


Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI , da Reportagem Local


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