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SAÚDE/PRÉ-OSTEOPOROSE
Medicar pré-osteoporose pode ser exagero
Tratar osteopenia com remédios tem risco desnecessário e benefício pequeno, diz estudo publicado na "British Medical Journal"
Doença atinge mais da
metade das mulheres com
idade superior a 50 anos
após a menopausa e causa a
redução da densidade óssea
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Remédios para osteoporose
podem estar sendo receitados a
pacientes com pré-osteoporose
sem a real necessidade ou sem
considerar-se a extensão dos
efeitos. É o que indica um artigo publicado na revista "British
Medical Journal", em que pesquisadores dizem que estudos
usados para justificar esses medicamentos na fase anterior à
osteoporose exageram benefícios e subestimam riscos.
A pré-osteoporose (osteopenia) é o início da perda da densidade óssea. Segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), o problema atinge mais da
metade das mulheres com mais
de 50 anos em razão de mudanças hormonais após a menopausa. Mulheres com osteopenia têm entre 10% e 25% menos densidade óssea, enquanto as
na osteoporose, menos de 25%.
O tratamento da pré-osteoporose é controverso. Nos últimos anos, análises de estudos
de medicamentos para osteoporose defenderam que os benefícios são grandes também
na pré-osteoporose. Quatro
análises, referentes a raloxifeno, alendronato, risedronato e
renalato de estrôncio, foram os
alvos das críticas no artigo de
Pablo Alonso-Coello, médico
do Centro Cochrane -entidade que revisa estudos de saúde.
Entre outros motivos, ele
descredenciou essas análises
considerando que elas focaram
a redução do risco "relativo" de
fraturas em relação às mulheres que as tiveram, e não no número total de mulheres estudadas. Isso revelaria uma redução
de risco de fraturas bastante
baixa na pré-osteoporose.
Alonso-Coello diz que num
universo de 270 mulheres com
pré-osteoporose, em três anos,
apenas uma evitaria fratura tomando remédio, com base nos
estudos analisados.
Segundo ele, a incidência de
fraturas nessa fase dificilmente
ultrapassa 1% das mulheres ao
ano. Ele afirma que, desde a década de 90, o mercado farmacêutico estimula o tratamento
de mulheres mais jovens com
risco pequeno de fratura.
Conduta
Rubem Lederman, presidente da Federação Nacional das
Associações de Combate à Osteoporose, afirma que não costuma medicar pacientes com
pré-osteoporose.
"Eu sempre defendi que pacientes com osteopenia devem
tomar cálcio e vitamina D. Mais
nada. Colocando a pessoa para
andar todo dia, você pode estabilizar a perda de massa óssea."
Lederman diz que alguns
médicos que não lidam diretamente com a doença, quando
vêem um laudo de pré-osteoporose, indicam remédios. Segundo ele, os medicamentos
não são agressivos e podem ao
menos bloquear a perda.
Condições clínicas são importantes na decisão de medicar ou não para César Eduardo
Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Climatério. Segundo ele, considerar somente a densitometria óssea
pode levar a erros.
"Mulheres com idade avançada, da raça branca, com uma
menopausa ou uma doença que
cause a osteoporose, como o hiperparatireoidismo, com artrite reumatóide, que fumem ou
bebam têm maior risco de fraturas e podem ser medicadas."
A ginecologista Cláudia Gazzo diz que em muitos casos os
medicamentos são importantes para evitar a evolução da
doença. "Se o paciente não fizer
ginástica, musculação ou tratamento hormonal, acaba tendo
que tomar remédio", afirma.
Entre os medicamentos disponíveis no Brasil para osteoporose estão os quatro citados
no artigo.
Segundo a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), é uma prerrogativa do médico decidir quando indicar o
medicamento. De acordo com o
órgão, há também um monitoramento permanente dos produtos no mercado por parte do
setor de farmacovigilância.
Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI , da Reportagem
Local
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