São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Parecia uma bola de fogo, dizem moradores

Estrondos, gritos e clarão assustaram vizinhos do aeroporto, que afirmam ter visto vítimas se atirando pelas janelas

Segundo as pessoas que moram nos arredores do local do acidente, impacto da colisão do Airbus fez tremer paredes das casas

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Destroços do avião da TAM que transportava 176 pessoas do RS a SP; o Airbus não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas e explodiu ao se chocar contra parede

DA REPORTAGEM LOCAL

Primeiro foi um estrondo. Depois, o clarão. O Airbus A320 da TAM virou uma bola de fogo gigante, contam moradores da vizinhança que viram o avião atravessando a avenida Washington Luís. "Vi um vôo rasante sobre a avenida e, em seguida, uma bola de fogo", conta Nilton Lima, funcionário do Aeroporto Congonhas Hotel, a 300 metros do acidente.
"Deu um clarão forte, um barulhão, e depois eu só ouvi gente gritando", contou ontem, por volta das 20h, enquanto os bombeiros tentavam controlar as chamas que tomavam conta dos prédios onde o avião bateu.
"Daqui, parece que os bombeiros não vão conseguir. O fogo é indescritível, é muito grande." Segundo Lima, havia um cheiro forte de borracha queimada no local, "que parece impregnar na gente".
Vizinha do acidente, Lúcia Letelier também viu a mesma cena da janela do seu edifício. "Estava trabalhando quando, pela janela, apareceu um clarão que parecia o fim do mundo. Fui para a varanda ver o que era e encontrei o avião atravessando a avenida. Eram quase 19h."
Depois disso, relata, muita fumaça tomou conta do local. "Além dos passageiros, acho que teve gente atingida que passava pela avenida, a pé ou de carro. É um horário de muito movimento. Acho difícil ninguém ter sido vítima."
Ao se dar conta do tamanho da tragédia, Lúcia conta que entrou em pânico e começou a gritar para que seus familiares ficassem dentro de casa. "Nunca tinha acontecido nada tão grave aqui perto. É assustador."

Salva pela sorte
Tamara Renno, que mora a dois quarteirões do acidente, também está com medo. "Vivo aqui desde que nasci, há 38 anos, e agora a gente fica com receio." Ela diz que chegava em casa quando ouviu o estrondo, mas nem se virou para trás. "Fechei a porta e minha mãe disse que parecia barulho de quando antigos [aviões] Jumbos pousavam em Congonhas."
Foi então que o telefone tocou e uma amiga avisou o que tinha acontecido. "A gente ligou a TV e não acreditou. De vez em quando, eu volto do trabalho pela avenida e passo lá em frente. Hoje [ontem], decidi vir por dentro do bairro. Foi sorte. Muita gente passa pelo local nessa hora."
Uma funcionária da TAM, Julia (nome fictício), contou que as pessoas que estavam dentro do prédio atingido pela aeronave entraram em desespero. "Vi gente tentando se jogar pelas janelas", disse. ""Perdi amigos. Vi corpos sendo retirados", contou. Segundo ela, somente em um dos setores trabalham cerca de cem pessoas. Por conta do serviço de cargas da TAM Express, dezenas de motoboys costumam permanecer em frente ao local.
Comissário aposentado e vizinho há 20 anos do aeroporto, Adilson Pimentel, 69, afirmou que o impacto da colisão fez tremer o apartamento onde mora. "Num primeiro momento, como chovia, pensei em trovão. Mas, como estamos ao lado do aeroporto, olhei para a janela e vi o fogo. Foi uma explosão muito forte", disse. "Da forma como o avião se chocou, só com a mão de Deus alguém sai vivo."
A preocupação dos vizinhos, disse Pimentel ontem à noite, era com o posto de gasolina que fica ao lado do local do acidente. "Se o fogo se alastrar, será o fim do nosso bairro", afirmou.
Dona Elvira Moretti, 80, estava assistindo TV quando viu o mesmo clarão entrar pelas janelas do apartamento e fazer tremer as paredes. "Pensei que fosse um terremoto. Pelo amor de Deus, tenho 80 anos, tive até que tomar calmante. Meu corpo tremia", disse.
Da janela do apartamento, que fica a duas quadras do local, a aposentada viu o fogo. "A labareda não queria parar. Nossa Senhora, foi muito feio, muito triste, não dá nem para acreditar". Dona Elvira afirmou que às vezes pensa em sair do bairro. "Mas ir para onde?"


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