São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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Preso outro delegado acusado de vender CNHs

É o terceiro delegado preso suspeito de ligação com a máfia do Detran; os outros dois foram liberados por ordem do STF

Casé, como é conhecido o policial, é acusado de receber propina para usar a estrutura da polícia para falsificar habilitações

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-chefe da Polícia Civil em oito cidades da Grande São Paulo, o delegado Carlos José Ramos da Silva, o Casé, foi preso ontem sob acusação de receber de R$ 30 mil a R$ 45 mil mensais de propina. Ele também é suspeito de permitir que uma quadrilha usasse a infra-estrutura da polícia em Ferraz de Vasconcelos (Grande SP) para vender CNHs (carteira nacional de habilitação) falsas.
Além de Casé, a Justiça também decretou a prisão temporária -por cinco dias- de outras dez pessoas (quatro são policiais civis e os outros intermediavam a venda das CNHs).
Até a conclusão desta edição, só Casé e Marcos Jorge Américo Trofelli, agente da Prefeitura de Ferraz lotado na Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) local e responsável por exames práticos de motoristas, haviam sido presos.
Sete psicólogas e cinco médicos, todos suspeitos de forjar exames para a emissão das carteiras de habilitação falsas, tiveram os pedidos de prisão rejeitados.
Entre abril de 2007 e março de 2008 foram feitos 7.439 exames práticos em Ferraz, mas a Ciretran local emitiu, no mesmo período, 36.939 CNHs. A suspeita é que cada carteira era vendida por valores que iam de R$ 1.300 a R$ 1.800.
Em uma conversa telefônica de Eliane Gavazzi, dona de auto-escola presa no início de junho e solta anteontem pelo STF, gravada em 25 de março deste ano, ela cita o nome dos delegados Casé e Campos.
Campos também foi solto anteontem pelo STF.
A principal fraude descoberta pela investigação era feita pela quadrilha contra o sistema de computação utilizado pelo Detran. Para burlar o sistema, que exige que o candidato a motorista deixe sua impressão digital em diversas fases de avaliação, a quadrilha usava as digitais de outras pessoas e até mesmo de dedos postiços.
Os promotores conseguiram um relatório da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados de SP) que apontou que a quadrilha usou apenas 64 impressões digitais para emitir 1.305 habilitações.

STF liberou
A prisão de Casé ocorreu um dia depois de o presidente do SFT (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, libertar outras 18 pessoas presas na chamada Operação Carta Branca, do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público de Guarulhos e ocorrida em 3 de junho.
Na tarde de ontem, Casé foi ao Fórum de Ferraz para saber se havia ou não ordem da Justiça para prendê-lo. Ele foi pego justamente nesse momento.
Casé foi levado para a Corregedoria da Polícia Civil e ficou incomunicável. Seu advogado não foi localizado pela Folha.
Até 21 de maio, Casé foi delegado seccional de Mogi das Cruzes. No cargo, ele cuidou da Polícia Civil em mais sete cidades da Grande São Paulo. Ele foi afastado após o jornalista Edson Ferraz, 25, da TV Diário de Mogi das Cruzes, afiliada da Rede Globo, sofrer um atentado a tiros, em Mogi. Ferraz denunciou em reportagens vários crimes envolvendo policiais civis comandados por Casé.
A Secretaria da Segurança Pública informou ontem, por meio de nota oficial, que hoje 14 equipes da Corregedoria da Polícia vão realizar as prisões determinadas pela Justiça.


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