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Sobram dor e indignação após 30 dias, diz irmão de vítima
Família esperou 22 dias para identificar e enterrar o corpo de empresário morto na tragédia
Parentes pretendem criar associação de familiares das vítimas; irmão reclama da posição da companhia aérea 1 mês depois do acidente
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Roberto Lopes Correa Gomes sentiu um frio na espinha
quando viu na TV que um avião
da TAM vindo de Porto Alegre
explodiu em Congonhas. Desde
então, tem vivido uma odisséia.
Esperou 22 dias para enterrar o irmão, o empresário Márcio Lopes Correa Gomes. Entre
idas e vindas para São Paulo,
organiza com outros parentes a
criação de uma associação de
familiares das vítimas.
Em seu site, a TAM informa
que criou uma área de acesso
restrito (por meio de senha)
onde os familiares podem consultar procedimentos para as
solicitações de passagens aéreas até o fim das investigações,
informações sobre adiantamentos, seguro obrigatório e
indenizações.
FOLHA - O acidente completou um
mês ontem. O que mudou na vida
de sua família?
ROBERTO LOPES GOMES - Nossa vida parou. Não pudemos descansar sem enterrar meu irmão, há apenas uma semana.
Durante mais de dez dias ele
era o único passageiro na fila
dele a não ser identificado -foi
o 165º. É angustiante. Às vezes
pensamos: "ele morreu há um
mês ou há uma semana?"
FOLHA - Como tem sido a relação
com a TAM?
GOMES - No começo eles ajudaram muito, mas tem piorado. O
seguro obrigatório, se os parentes não correm atrás, não recebem. As indenizações, queremos ver a apólice, ter certeza de
que a TAM não vai lucrar em cima dos cadáveres. Eles querem
pagar de acordo com o tipo de
vítima. Meu irmão vale mais
que uma senhora de 80 anos e
menos que um bebê? Isso é
muito cruel.
FOLHA - E quanto ao governo?
GOMES - Só nos procuraram na
semana passada. O ato do Marco Aurélio Garcia [assessor especial do presidente Luis Inácio Lula da Silva] foi uma cusparada nos cadáveres. O governo, a Anac, a ganância das empresas são os reais responsáveis pelo acidente.
FOLHA - Quando sua família terá
paz?
GOMES - Quando soubermos as
causas. Eu espero que, pela primeira vez neste país, essa investigação aponte as causas.
FOLHA - No fim de um mês, o que
sobra da tragédia?
GOMES - Um mês é pouco tempo para esquecer. Os parentes
não estão recebendo corpos,
mas pedaços. Não recebem caixões com parentes, mas caixinhas. E ainda tem 5 pessoas
sem identificação. Depois de 30
dias, o que sobra mesmo é indignação e dor.
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