São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007

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Sobram dor e indignação após 30 dias, diz irmão de vítima

Família esperou 22 dias para identificar e enterrar o corpo de empresário morto na tragédia

Parentes pretendem criar associação de familiares das vítimas; irmão reclama da posição da companhia aérea 1 mês depois do acidente

WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Roberto Lopes Correa Gomes sentiu um frio na espinha quando viu na TV que um avião da TAM vindo de Porto Alegre explodiu em Congonhas. Desde então, tem vivido uma odisséia.
Esperou 22 dias para enterrar o irmão, o empresário Márcio Lopes Correa Gomes. Entre idas e vindas para São Paulo, organiza com outros parentes a criação de uma associação de familiares das vítimas.
Em seu site, a TAM informa que criou uma área de acesso restrito (por meio de senha) onde os familiares podem consultar procedimentos para as solicitações de passagens aéreas até o fim das investigações, informações sobre adiantamentos, seguro obrigatório e indenizações.

 

FOLHA - O acidente completou um mês ontem. O que mudou na vida de sua família?
ROBERTO LOPES GOMES -
Nossa vida parou. Não pudemos descansar sem enterrar meu irmão, há apenas uma semana. Durante mais de dez dias ele era o único passageiro na fila dele a não ser identificado -foi o 165º. É angustiante. Às vezes pensamos: "ele morreu há um mês ou há uma semana?"

FOLHA - Como tem sido a relação com a TAM?
GOMES -
No começo eles ajudaram muito, mas tem piorado. O seguro obrigatório, se os parentes não correm atrás, não recebem. As indenizações, queremos ver a apólice, ter certeza de que a TAM não vai lucrar em cima dos cadáveres. Eles querem pagar de acordo com o tipo de vítima. Meu irmão vale mais que uma senhora de 80 anos e menos que um bebê? Isso é muito cruel.

FOLHA - E quanto ao governo?
GOMES -
Só nos procuraram na semana passada. O ato do Marco Aurélio Garcia [assessor especial do presidente Luis Inácio Lula da Silva] foi uma cusparada nos cadáveres. O governo, a Anac, a ganância das empresas são os reais responsáveis pelo acidente.

FOLHA - Quando sua família terá paz?
GOMES -
Quando soubermos as causas. Eu espero que, pela primeira vez neste país, essa investigação aponte as causas.

FOLHA - No fim de um mês, o que sobra da tragédia?
GOMES -
Um mês é pouco tempo para esquecer. Os parentes não estão recebendo corpos, mas pedaços. Não recebem caixões com parentes, mas caixinhas. E ainda tem 5 pessoas sem identificação. Depois de 30 dias, o que sobra mesmo é indignação e dor.


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