São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Direção põe em dúvida reabertura do teatro

Diretor de relações institucionais do Cultura Artística, Eric Klug, disse que decisão sobre o que fazer com o prédio dependerá da perícia

Para o bibliófilo José Mindlin, incêndio foi um "desastre"; ator Marco Nanini afirma que "perda do teatro é irreparável"


Tuca Vieira/Folha Imagem
Incêndio consome parte do Cultura Artística, em São Paulo; painel de Di Cavalcanti sofreu rachaduras

DA REPORTAGEM LOCAL

Eric Klug, diretor de relações institucionais do teatro Cultura Artística, responsável pelo local atingido por um incêndio na madrugada de ontem, chegou a colocar em dúvida a reabertura do prédio. "A gente tem que, primeiro, ver se vai conseguir utilizar o teatro de novo. Talvez o teatro tenha que ser reformado, talvez o teatro não possa ser utilizado nunca mais", afirmou. O diretor afirmou que irá aguardar a perícia do IC (Instituto de Criminalística) e a avaliação do Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis), da prefeitura, para decidir o que fazer com o prédio. "Se a gente vai manter o teatro ou se vai reformar, se vai arrendar, fazer uma parceria com alguém. A gente tem que esperar ter acesso à área e ver o que realmente pode ser salvo." Em nota, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) afirmou que o secretário municipal de Cultura, Carlos Calil, vai comandar um grupo de trabalho integrado por membros do poder público e da sociedade para arrecadar fundos públicos e privados para a recuperação do teatro, avaliado em R$ 4 milhões. Klug ainda não sabe o que fazer, por exemplo, com o painel de Di Cavalcanti, que sofreu rachaduras e perdeu pastilhas. "Isso depende. E, em não podendo ser utilizado, tem que se ver o que se fazer com esse painel. Se ele pode ser transferido, se pode ser mantido lá." De acordo com Klug, o teatro tem seguro para instalações e conteúdo, como os pianos.

"Estado de choque"
O incêndio no Cultura Artística destruiu a sala Esther Mesquita, onde o ator Marco Nanini estava em cartaz desde o dia 19 de abril com a peça "O Bem Amado", de Dias Gomes. Nanini havia terminado a primeira temporada há duas semanas e iria fazer mais seis semanas extras de espetáculo. "Ainda estou um pouco em estado de choque. Apresentei-me muitas vezes lá, só com "Irma Vap" foram cinco anos. Mas a perda do teatro é a pior coisa, é irreparável, pois era tradicional, uma sala boa e grande", declarou Nanini. Diretor-presidente da Sociedade Cultura Artística, que gerencia o teatro, o empresário e bibliófilo José Mindlin disse que o incêndio foi "um desastre que aconteceu inesperadamente". "Um teatro como este desaparecer é uma grande frustração porque havia sido uma conquista, e a perda da instituição é uma tristeza para todos, não é tão fácil reparar. O teatro enfrentou muitos problemas, mas a gente vai em frente, não pode desanimar", afirmou. Diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, o maestro Roberto Minczuk foi vencedor, em 1985, como trompista, do Prêmio Eldorado de Música, do Teatro Cultura Artística. "A fachada está intacta, mas o interior parece ter sido completamente destruído. Fico triste, porque esse teatro é um dos mais importantes do Brasil, e um marco da vida musical de São Paulo", disse.

Solidariedade
Diretor-Secretário da Sociedade Cultura Artística, e dono da rede de livrarias Cultura, Pedro Herz chegou ao teatro às 7h30 e em seguida foi ao hotel Maksoud Plaza, na região da avenida Paulista, onde a Sociedade criou um quartel-general para gerenciar a crise. "Dá vontade de chorar. Estamos todos abalados emocionalmente, tendo que enfrentar a situação e que resolver problemas enormes", disse Herz. "Estou comovido com a solidariedade das pessoas, vinda através de telefonemas. O que mais peço é a compreensão dos assinantes e colaboradores."
(EDUARDO SIMÕES e KLEBER TOMAZ)

Colaborou IRINEU FRANCO PERPÉTUO



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