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SAÚDE
Denúncia foi feita depois da morte de uma mãe, na Bahia, em parto assistido por uma auxiliar de enfermagem
Médicos ganham por parto que não fazem
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Entidades que defendem o parto
humanizado estão denunciando a
falta de atenção médica que estaria
ocorrendo em muitas clínicas e
maternidades do país.
Em diversas cidades, os nascimentos normais estariam sendo
realizados por atendentes e auxiliares de enfermagem, sem a presença de médico ou enfermeira especializada. Apesar de ausente, é o
médico que recebe do SUS por
parto realizado.
A falta de atenção médica é uma
das principais responsáveis pela
mortalidade materna, que chega a
140 mortes por 100 mil nascidos
vivos, taxa 30 vezes maior que nos
países desenvolvidos.
A denúncia voltou a ser feita
nesta semana, depois que uma
mulher morreu durante o parto
em uma clínica de Jequié, no interior da Bahia. O médico responsável estaria almoçando fora e o parto teria sido feito por uma auxiliar
de enfermagem. A mulher, Leila
Ramalho Boaventura, 19, morreu
de hemorragia cerca de três horas
depois do nascimento da criança.
A família fez um boletim de
ocorrência e a polícia enviou material para análise toxicológica no
Instituto Médico Legal de Salvador. Uma denúncia está sendo encaminhada ao Conselho Regional
de Medicina. O médico e sócio da
clínica Servir, Evandro Célio Neri
Novaes, disse que estava presente
ao parto e que toda a assistência
foi oferecida. "Estou à disposição
do conselho para qualquer averiguação", afirmou.
Leila foi internada na manhã do
último domingo e morreu no início da tarde. "So me deixaram entrar quando ela já estava morta",
disse Ana Paula dos Santos, 23,
prima de Leila. "A cama estava
encharcada de sangue. Auxiliares
disseram que ela pedia ajuda e não
havia médico."
Segundo a ONG Cais do Parto,
do Recife, principal entidade que
trabalha com a questão do nascimento, a realização de partos dentro de hospitais sem a presença do
médico é prática corrente em quase todo o país.
"Estamos chamando a atenção
do Ministério da Saúde para esse
problema", afirmou Sueli Carvalho, enfermeira, parteira e uma
das coordenadoras da Cais do Parto. Sueli é também uma das coordenadoras da Associação Nacional de Parteiras.
Segundo ela, há uma grande incoerência na política de nascimento adotada no país: por um lado, o parto é altamente "medicalizado" e tratado como se fosse
uma doença; por outro, a mulher
é desrespeitada e abandonada
dentro do próprio hospital.
"De acordo com a lei, assim que
a paciente entra no hospital, o médico e o diretor-clínico são responsáveis pela sua vida", afirma
Sueli. "Uma auxiliar não pode ser
responsabilizada."
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