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Moradores vendem
restos do conflito
especial para a Folha
"Ei, quer levar uma lembrança
da Guerra de Canudos? Veja, tenho aqui balas e um pedaço de
bomba da matadeira. É bala que
foi atirada pelos soldados."
Com essa abordagem, três adolescentes que moram em Canudos tentam vender aos turistas e
romeiros as relíquias do conflito.
Cada projétil tem seu preço estipulado em R$ 0,50, mas o valor
pode ser negociado, caso o turista
demonstre interesse em levar
mais objetos como lembrança.
Com R$ 20,00 é possível adquirir dos marchands improvisados
um pequeno acervo conselheirista, com fragmentos de porcelana,
balas de fuzis, lascas de bombas
de canhão e até ossos que os meninos juram ser dos jagunços que
lutaram ao lado de Conselheiro.
Os rapazes contam que coletam
as peças no Parque Estadual de
Canudos e no arraial que emergiu
com a seca. "Você pensa que é fácil achar essas balas? Tem que ter
olho bom. Dá um trabalhão danado ficar andando o dia inteiro
olhando para o chão. Às vezes, fico vesgo", diz um deles, justificando o "alto" preço das peças.
De acordo com Luiz Paulo Almeida Neiva, pesquisador da
Uneb, o furto e o comércio de relíquias na área do arraial de Canudos -administrado pelo governo federal-, apesar de combatidos, são muito praticados pelos
moradores da região.
"A miséria faz com que eles tentem ganhar algum dinheiro com
as peças. É uma situação complicada. O parque é do Estado, e o arraial, da União. No arraial não há
fiscalização. No parque só existe
um guarda contratado pela Uneb.
Quando vemos os meninos pegando objetos, conversamos com
os pais", afirma Neiva.
Segundo a reitora da Uneb, Ivete Alves do Sacramento, a universidade pretende contratar, nas
próximas semanas, mais dois vigias para cuidar do parque. "As
pesquisas em Canudos são uma
referência internacional", diz.
De acordo com Neiva, até os
anos 50 caminhões saíam da região abarrotados de material bélico. Esse material, com objetos da
guerra, era vendido como sucata
para comerciantes que vendem
ferro e lataria amassada.
(VA)
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