São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moradores vendem restos do conflito

especial para a Folha

"Ei, quer levar uma lembrança da Guerra de Canudos? Veja, tenho aqui balas e um pedaço de bomba da matadeira. É bala que foi atirada pelos soldados."
Com essa abordagem, três adolescentes que moram em Canudos tentam vender aos turistas e romeiros as relíquias do conflito.
Cada projétil tem seu preço estipulado em R$ 0,50, mas o valor pode ser negociado, caso o turista demonstre interesse em levar mais objetos como lembrança.
Com R$ 20,00 é possível adquirir dos marchands improvisados um pequeno acervo conselheirista, com fragmentos de porcelana, balas de fuzis, lascas de bombas de canhão e até ossos que os meninos juram ser dos jagunços que lutaram ao lado de Conselheiro.
Os rapazes contam que coletam as peças no Parque Estadual de Canudos e no arraial que emergiu com a seca. "Você pensa que é fácil achar essas balas? Tem que ter olho bom. Dá um trabalhão danado ficar andando o dia inteiro olhando para o chão. Às vezes, fico vesgo", diz um deles, justificando o "alto" preço das peças.
De acordo com Luiz Paulo Almeida Neiva, pesquisador da Uneb, o furto e o comércio de relíquias na área do arraial de Canudos -administrado pelo governo federal-, apesar de combatidos, são muito praticados pelos moradores da região.
"A miséria faz com que eles tentem ganhar algum dinheiro com as peças. É uma situação complicada. O parque é do Estado, e o arraial, da União. No arraial não há fiscalização. No parque só existe um guarda contratado pela Uneb. Quando vemos os meninos pegando objetos, conversamos com os pais", afirma Neiva.
Segundo a reitora da Uneb, Ivete Alves do Sacramento, a universidade pretende contratar, nas próximas semanas, mais dois vigias para cuidar do parque. "As pesquisas em Canudos são uma referência internacional", diz.
De acordo com Neiva, até os anos 50 caminhões saíam da região abarrotados de material bélico. Esse material, com objetos da guerra, era vendido como sucata para comerciantes que vendem ferro e lataria amassada. (VA)

Texto Anterior: Cidade teve 25 mil pessoas e 5.000 casas
Próximo Texto: Criador de bodes encarna Conselheiro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.