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Especialista defende vistoria anual em edificações
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
O desabamento do edifício
Areia Branca, na região metropolitana de Recife (PE), não foi o primeiro a deixar vítimas neste ano.
Em Guarulhos (SP), seis pessoas
morreram quando uma pista de
dança ruiu, há dois meses. Em
abril, uma pessoa morreu na queda de um ginásio em Natal (RN).
Uma medida que pode diminuir o risco dessas tragédias é a
criação de uma lei que exija vistorias anuais para atestar a estabilidade de uma construção, afirma o
engenheiro Carlos Alberto Martins, 55, coordenador da câmara
de engenharia civil do Crea-SP
(Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de
São Paulo) e especialista em projetos estruturais.
Segundo Martins, essa proposta
amplia o que já é feito atualmente
nos clubes paulistas: todo ano,
um engenheiro ou arquiteto verifica a segurança estrutural desses
locais. O trabalho se soma à vistoria que é feita pelo Corpo de Bombeiros para assegurar a eficácia do
sistema contra incêndio.
Leia a seguir trechos da entrevista com Martins.
Folha - Por que tantos casos de
desabamento têm acontecido?
Carlos Alberto Martins - As causas são várias. As principais são
erro de projeto, erro na execução
da obra, modificação no uso do
imóvel e reformas sem acompanhamento de profissional habilitado. Além disso, uma escavação
ao lado do prédio também pode
afetar, assim como o rebaixamento do lençol freático.
Folha - Mas quais as causas dos
erros de projeto ou de execução? A
formação profissional é deficiente?
Martins - O número de escolas
de engenharia tem aumentado
muito no país, e isso coloca no
mercado profissionais sem habilidade técnica. O Ministério da
Educação deveria ter atuação
mais efetiva nesse sentido. Outro
fator é a redução da carga horária
dos cursos. A nova LDB [lei de diretrizes e bases] deixa as escolas
resolverem a grade curricular.
Folha - O senhor defende a criação de um exame como o da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil)?
Martins - Alguns defendem um
exame de habilitação, [mas] ele é
complicado porque temos muitas
modalidades profissionais, como
engenheiro civil, elétrico, florestal. Outros defendem que o próprio sistema profissional deveria
estabelecer o currículo mínimo.
Defendo ou isso ou a habilitação
gradativa: o recém-formado poderia trabalhar, mas não assumir
obras de maior porte. Com o tempo, ganharia mais atribuições.
Folha - E quanto à formação dos
outros profissionais?
Martins - A mão-de-obra na
construção civil no país é lamentável. Não temos cursos suficientes. Pedreiros e carpinteiros
aprendem na prática, com pessoas que às vezes ensinam errado.
Para o engenheiro, é difícil materializar um projeto com um profissional que não sabe ler a planta.
Folha - Como o cidadão comum
pode saber se um apartamento que
está comprando é seguro?
Martins - O primeiro passo é
averiguar a experiência dos profissionais envolvidos. Não comprar só porque o catálogo é bonito, mas pesquisar sobre a empresa, o profissional.
Folha - Qual a atuação do Crea
nessa questão da segurança?
Martins - O Crea fiscaliza o registro profissional, não pode entrar
na questão da competência ou experiência. Se houver um desabamento, o conselho abre processo
para verificar o que ocorreu, mas
não pode embargar uma obra irregular. E para suspender um
profissional, ele tem que reincidir
três vezes no mesmo erro.
Folha - Qual a sua previsão para
novos casos de desabamentos?
Martins - Se não forem tomadas
medidas, a população vai crescendo, os imóveis se deteriorando,
novos serão construídos e poderemos ter um aumento de desabamentos nessa mesma proporção. Temos que criar mecanismos, como essa vistoria anual,
que não vai eliminar, mas diminuirá esse tipo de ocorrência, porque um prédio avisa que vai cair.
Mas, às vezes, as pessoas deixam
esse aviso por isso mesmo.
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