São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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EDUCAÇÃO

Responsáveis não sabiam ler ou liam muito mal e não podiam ajudar as crianças; aulas são dadas por voluntários

Creche cria curso para alfabetizar pais

DA SUCURSAL DO RIO

Numa creche comunitária em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, os professores começaram a notar que os recados que eram colocados nas agendas das crianças voltavam sem resposta dos pais.
Do mesmo modo, os avisos pregados nas paredes da escola eram ignorados pelos responsáveis pelas crianças. Muitas tarefas escolares voltavam em branco.
"A gente percebeu que não era má vontade. O problema era que as mães não sabiam ler ou liam muito mal. Então não podiam ajudar os filhos nas tarefas", explica Cláudia Santos, coordenadora do Comitê Novo Amanhecer da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que mantém a creche.
A saída encontrada foi montar um curso noturno para as mães e os pais das crianças.
As aulas, com noções de português, matemática, ciências e estudos sociais, acontecem à noite, duas vezes por semana. Os professores são voluntários da própria comunidade.
Não há nenhuma forma de pagamento pelo curso oferecido aos adultos. Quem pode leva para a creche garrafas plásticas, vendidas pelo comitê para pagar a luz e comprar material escolar. Alguns livros são cedidos pela Prefeitura de Duque Caxias.

Dificuldades
Hoje, frequentam o curso para adultos 22 mães e 9 pais. Para voltar a estudar, eles enfrentam dificuldades de todos os tipos -desde a violência e os tiroteios no bairro até, no caso das mulheres, a resistência dos maridos.
"Já teve marido aqui que arrastou a mulher de dentro da sala de aula. Quando chegam do trabalho, eles querem encontrar o jantar pronto, não querem saber de mulheres na escola", conta a coordenadora do comitê da Ação da Cidadania.
A desempregada Eny dos Santos Teodoro, 36, abandonou a escola ainda adolescente. No ano passado, ela decidiu voltar a estudar para poder ajudar o filho nas tarefas escolares.
Ela já sabia ler, mas com dificuldade. Agora, aprende junto com o filho de cinco anos. "É muito bom, muito diferente. Nunca me imaginei de novo com um caderno na mão", diz Eny.
Jordana dos Santos Januário, 27, voltou para a escola levada pelos filhos de 5 e 6 anos, depois de passar mais de um ano desempregada. Está aprendendo a escrever o próprio nome.
"Eu pretendo ser alguém. Pretendo dar para os meus filhos uma vida melhor do que a que eu tenho", diz Jordana, que já alimenta sonhos mais altos. Ela quer terminar os estudos e fazer vestibular. O seu desejo é tornar-se enfermeira. (FE)



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