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EDUCAÇÃO
Responsáveis não sabiam ler ou liam muito mal e não podiam ajudar as crianças; aulas são dadas por voluntários
Creche cria curso para alfabetizar pais
DA SUCURSAL DO RIO
Numa creche comunitária em
Duque de Caxias, município da
Baixada Fluminense, os professores começaram a notar que os recados que eram colocados nas
agendas das crianças voltavam
sem resposta dos pais.
Do mesmo modo, os avisos pregados nas paredes da escola eram
ignorados pelos responsáveis pelas crianças. Muitas tarefas escolares voltavam em branco.
"A gente percebeu que não era
má vontade. O problema era que
as mães não sabiam ler ou liam
muito mal. Então não podiam
ajudar os filhos nas tarefas", explica Cláudia Santos, coordenadora
do Comitê Novo Amanhecer da
Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que
mantém a creche.
A saída encontrada foi montar
um curso noturno para as mães e
os pais das crianças.
As aulas, com noções de português, matemática, ciências e estudos sociais, acontecem à noite,
duas vezes por semana. Os professores são voluntários da própria comunidade.
Não há nenhuma forma de pagamento pelo curso oferecido aos
adultos. Quem pode leva para a
creche garrafas plásticas, vendidas pelo comitê para pagar a luz e
comprar material escolar. Alguns
livros são cedidos pela Prefeitura
de Duque Caxias.
Dificuldades
Hoje, frequentam o curso para
adultos 22 mães e 9 pais. Para voltar a estudar, eles enfrentam dificuldades de todos os tipos -desde a violência e os tiroteios no
bairro até, no caso das mulheres, a
resistência dos maridos.
"Já teve marido aqui que arrastou a mulher de dentro da sala de
aula. Quando chegam do trabalho, eles querem encontrar o jantar pronto, não querem saber de
mulheres na escola", conta a
coordenadora do comitê da Ação
da Cidadania.
A desempregada Eny dos Santos Teodoro, 36, abandonou a escola ainda adolescente. No ano
passado, ela decidiu voltar a estudar para poder ajudar o filho nas
tarefas escolares.
Ela já sabia ler, mas com dificuldade. Agora, aprende junto com o
filho de cinco anos. "É muito
bom, muito diferente. Nunca me
imaginei de novo com um caderno na mão", diz Eny.
Jordana dos Santos Januário,
27, voltou para a escola levada pelos filhos de 5 e 6 anos, depois de
passar mais de um ano desempregada. Está aprendendo a escrever
o próprio nome.
"Eu pretendo ser alguém. Pretendo dar para os meus filhos
uma vida melhor do que a que eu
tenho", diz Jordana, que já alimenta sonhos mais altos. Ela quer
terminar os estudos e fazer vestibular. O seu desejo é tornar-se enfermeira.
(FE)
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