São Paulo, sexta-feira, 18 de novembro de 2005

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CRISE CARCERÁRIA

Tribunal revoga decisão; 16 já haviam sido libertados em MG

Juiz manda soltar mais 36 detentos

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Uma semana depois de determinar a libertação de 16 condenados da carceragem da 1ª DP de Contagem (MG), o juiz Livingsthon José Machado, da Vara de Execuções Criminais, voltou a adotar a medida anteontem à noite. Machado mandou soltar 36 presos da 2ª DP, mas o Tribunal de Justiça revogou a decisão.
A polêmica decisão do juiz, que colocaria na rua mais presos já condenados por crimes como homicídio, expôs o fragilizado sistema carcerário de Minas Gerais.
A decisão agitou o governo mineiro a ponto de o governador Aécio Neves (PSDB) vir a público acusá-lo de "promoção pessoal". Aécio considerou a decisão "irresponsável", por "colocar em risco a vida de pessoas de bem", e "inócua", porque não resolverá o "problema crônico do déficit de vagas no sistema penitenciário".
Machado disse ter mandado soltar os presos da 2ª DP, que abriga 113 (a capacidade é para 16), por causa das condições "degradantes", mesmo sabendo que a medida representa risco para a sociedade. O juiz afirmou que pediu audiência com Aécio antes de tomar as duas decisões, mas não obteve resposta. "Não tem nada de irresponsável, e não pretendo promoção pessoal nenhuma. Não sou político, não preciso de votos, não sou candidato."
A liminar do TJ foi expedida por volta das 16h30. Ao contrário da semana passada, quando 16 presos foram postos na rua imediatamente, desta vez a polícia os manteve na cadeia até chegar a liminar. Parentes dos presos ficaram em frente à 2ª DP, apreensivos.
O secretário-geral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Minas, João Café, disse que "entre dois bens jurídicos, deve prevalecer o coletivo, que é o direito da população de não conviver com condenados". Para ele, o juiz "acabou prestando um bom serviço" ao levantar a discussão.
Aécio diz que, em três anos de gestão, abriu "mais de 4.800 vagas" e que, até o fim de 2006, serão "cerca de 10 mil vagas abertas".
O governador afirma que o governo do Estado vai denunciar o juiz ao Conselho da Magistratura.


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