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Spray de pimenta é altamente inflamável, conclui Exército
Laudo constatou que arma não-letal é perigosa se combinada a cassetete elétrico
Análise feita para tentar elucidar caso de rapaz que diz ter sido queimado com ácido por militares apontou presença de etanol na fórmula
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um laudo do Exército constatou que o spray de pimenta
-arma não-letal usada por diversas polícias no Brasil - é altamente inflamável e perigoso
se combinado com outras armas não-letais, como cassetete
elétrico, ou se entrar em contato qualquer tipo de chama.
A análise do Ctex (Centro
Tecnológico do Exército) foi
feita para tentar elucidar o caso
de um rapaz de 16 anos que disse ter sido queimado com ácido
por militares ao ser pego fumando maconha num quartel
do Rio, em novembro. A Folha
apurou que o Exército acredita
que as queimaduras foram causadas pela combinação não intencional de armas não-letais.
Até então, o perigo dessa
combinação não era totalmente conhecido. Algumas marcas
são inflamáveis; outras, não. A
testada pelo Exército é também usada por polícias de diversos Estados, entre eles SP.
O spray de pimenta é usado
para controlar multidões ou
imobilizar suspeitos temporariamente. A sensação é de dor
intensa, semelhante à de queimaduras. Os efeitos desaparecem em até uma hora.
O teste do Ctex mostrou que
o spray usado pelo Exército é
inflamável porque contém etanol em sua fórmula, segundo
uma minuta do laudo.
A PM de São Paulo afirmou
que quase todos os seus policiais usam o gás, mas disse que
o cassetete elétrico não é utilizado pela corporação.
O teste do Ctex, porém, concluiu que o produto pode pegar
fogo também com qualquer tipo de chama. Um militar ligado
aos testes disse à Folha que até
um disparo de arma de fogo,
em teoria, pode fazer uma nuvem de spray de pimenta pegar
fogo -embora tal teste não tenha sido realizado pelo Ctex.
Para o consultor de segurança Hugo Tisaka, da NSA Brasil,
o risco de combustão é baixo.
"As forças de segurança têm de
prestar atenção para não causar lesões desnecessárias."
A fabricante do produto não
falou com a reportagem.
O Exército analisou publicações especializadas dos EUA
que relatam que a polícia americana já enfrentou problemas
com a combinação de spray de
pimenta e pistolas taser -armas não-letais que, como os
cassetetes, disparam choques.
Os militares envolvidos no
caso do rapaz disseram ter
combinado as armas não-letais
depois que ele tentou atacá-los.
Em seu último depoimento,
o adolescente mudou de versão, dizendo não ter sido queimado com ácido, mas recebido
chutes e sido atingido nos
olhos e nas costas com spray.
Disse ter visto um militar riscar um fósforo e o jogar em
suas costas. O Exército usará o
laudo para argumentar que,
sob efeito do gás, ele não tinha
condições de ver uma caixa ou
um palito de fósforo.
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