São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

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Spray de pimenta é altamente inflamável, conclui Exército

Laudo constatou que arma não-letal é perigosa se combinada a cassetete elétrico

Análise feita para tentar elucidar caso de rapaz que diz ter sido queimado com ácido por militares apontou presença de etanol na fórmula


LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um laudo do Exército constatou que o spray de pimenta -arma não-letal usada por diversas polícias no Brasil - é altamente inflamável e perigoso se combinado com outras armas não-letais, como cassetete elétrico, ou se entrar em contato qualquer tipo de chama.
A análise do Ctex (Centro Tecnológico do Exército) foi feita para tentar elucidar o caso de um rapaz de 16 anos que disse ter sido queimado com ácido por militares ao ser pego fumando maconha num quartel do Rio, em novembro. A Folha apurou que o Exército acredita que as queimaduras foram causadas pela combinação não intencional de armas não-letais.
Até então, o perigo dessa combinação não era totalmente conhecido. Algumas marcas são inflamáveis; outras, não. A testada pelo Exército é também usada por polícias de diversos Estados, entre eles SP.
O spray de pimenta é usado para controlar multidões ou imobilizar suspeitos temporariamente. A sensação é de dor intensa, semelhante à de queimaduras. Os efeitos desaparecem em até uma hora.
O teste do Ctex mostrou que o spray usado pelo Exército é inflamável porque contém etanol em sua fórmula, segundo uma minuta do laudo.
A PM de São Paulo afirmou que quase todos os seus policiais usam o gás, mas disse que o cassetete elétrico não é utilizado pela corporação.
O teste do Ctex, porém, concluiu que o produto pode pegar fogo também com qualquer tipo de chama. Um militar ligado aos testes disse à Folha que até um disparo de arma de fogo, em teoria, pode fazer uma nuvem de spray de pimenta pegar fogo -embora tal teste não tenha sido realizado pelo Ctex.
Para o consultor de segurança Hugo Tisaka, da NSA Brasil, o risco de combustão é baixo. "As forças de segurança têm de prestar atenção para não causar lesões desnecessárias."
A fabricante do produto não falou com a reportagem.
O Exército analisou publicações especializadas dos EUA que relatam que a polícia americana já enfrentou problemas com a combinação de spray de pimenta e pistolas taser -armas não-letais que, como os cassetetes, disparam choques.
Os militares envolvidos no caso do rapaz disseram ter combinado as armas não-letais depois que ele tentou atacá-los.
Em seu último depoimento, o adolescente mudou de versão, dizendo não ter sido queimado com ácido, mas recebido chutes e sido atingido nos olhos e nas costas com spray. Disse ter visto um militar riscar um fósforo e o jogar em suas costas. O Exército usará o laudo para argumentar que, sob efeito do gás, ele não tinha condições de ver uma caixa ou um palito de fósforo.


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