|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Pantanal é fruto de 7 décadas de mau planejamento
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O Jardim Pantanal é uma
metáfora. Ele é o resultado de
sete décadas de mau planejamento urbano agravado pelas
conhecidas mazelas sociais e
políticas do país. O desenlace se
materializa na forma de inundações, doenças e pobreza.
Durante a maior parte de
seus milhões de anos de existência, o alto Tietê foi um rio
meândrico, repleto de áreas de
várzea que inundavam em períodos de cheia. São Paulo, durante a maior parte de seus 455
anos, respeitou o rio, evitando
ocupar as terras pantanosas.
Foi a partir do segundo quarto do século 20 que a situação
começou a mudar. A cidade
crescia e reclamava espaço vital. As margens do Tietê pareciam uma zona lógica a conquistar. Assim, sucessivas administrações flertaram com a
ideia de retificar o curso do rio e
controlar suas cheias. O projeto
foi finalmente levado a cabo entre 1940 e 1960.
Num certo sentido, o plano
funcionou. São Paulo ganhou
novas áreas a ser exploradas
pelo mercado imobiliário e pôde construir suas avenidas
marginais, uma exigência da
nascente indústria automobilística. Mas, como toda obra de
engenharia, o controle das
inundações é uma solução de
compromisso entre custos e
necessidades: sempre que as
chuvas vinham em maior quantidade, as áreas de várzea roubadas ao rio voltavam a encher.
E São Paulo não parou de
crescer. No final dos anos 80,
famílias que não tinham onde
morar começaram a invadir
áreas na margem esquerda do
rio, nas imediações do bairro de
São Miguel Paulista. Nascia assim o Jardim Pantanal, cujo
nome diz muito sobre o tipo de
terreno ocupado.
Autoridades até que tentaram no início evitar as previsíveis tragédias. O perímetro foi
decretado área de preservação
ambiental. Esboçaram-se algumas tentativas de retirar pessoas dali. A lentidão da Justiça,
entretanto, faz com que, para
cada família que deixa o local,
apareçam mais duas. Foi assim
que o modesto assentamento
inicial deu lugar a um bairro
que abriga milhares de famílias.
Convencido de que não conseguiria remover as pessoas, o
poder público optou por consolidar a ocupação irregular, com
a construção de um CEU e de
conjuntos habitacionais.
A história do Jardim Pantanal é tudo, menos imprevisível.
Texto Anterior: Uma noite no ESGOTO Próximo Texto: Prefeitura só cadastra 15 famílias no 1º dia Índice
|