São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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ANÁLISE

Pantanal é fruto de 7 décadas de mau planejamento

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Jardim Pantanal é uma metáfora. Ele é o resultado de sete décadas de mau planejamento urbano agravado pelas conhecidas mazelas sociais e políticas do país. O desenlace se materializa na forma de inundações, doenças e pobreza.
Durante a maior parte de seus milhões de anos de existência, o alto Tietê foi um rio meândrico, repleto de áreas de várzea que inundavam em períodos de cheia. São Paulo, durante a maior parte de seus 455 anos, respeitou o rio, evitando ocupar as terras pantanosas.
Foi a partir do segundo quarto do século 20 que a situação começou a mudar. A cidade crescia e reclamava espaço vital. As margens do Tietê pareciam uma zona lógica a conquistar. Assim, sucessivas administrações flertaram com a ideia de retificar o curso do rio e controlar suas cheias. O projeto foi finalmente levado a cabo entre 1940 e 1960.
Num certo sentido, o plano funcionou. São Paulo ganhou novas áreas a ser exploradas pelo mercado imobiliário e pôde construir suas avenidas marginais, uma exigência da nascente indústria automobilística. Mas, como toda obra de engenharia, o controle das inundações é uma solução de compromisso entre custos e necessidades: sempre que as chuvas vinham em maior quantidade, as áreas de várzea roubadas ao rio voltavam a encher.
E São Paulo não parou de crescer. No final dos anos 80, famílias que não tinham onde morar começaram a invadir áreas na margem esquerda do rio, nas imediações do bairro de São Miguel Paulista. Nascia assim o Jardim Pantanal, cujo nome diz muito sobre o tipo de terreno ocupado.
Autoridades até que tentaram no início evitar as previsíveis tragédias. O perímetro foi decretado área de preservação ambiental. Esboçaram-se algumas tentativas de retirar pessoas dali. A lentidão da Justiça, entretanto, faz com que, para cada família que deixa o local, apareçam mais duas. Foi assim que o modesto assentamento inicial deu lugar a um bairro que abriga milhares de famílias.
Convencido de que não conseguiria remover as pessoas, o poder público optou por consolidar a ocupação irregular, com a construção de um CEU e de conjuntos habitacionais.
A história do Jardim Pantanal é tudo, menos imprevisível.


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