São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Prefeitura só cadastra 15 famílias no 1º dia

Cadastramento começou a ser realizado ontem pelo governo municipal sob a desconfiança dos moradores do Pantanal

Temor leva funcionários municipais a dizer que não haverá derrubada de casas, plano que, no entanto, é confirmado por assessores

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O cadastramento dos moradores da região do Pantanal pela Prefeitura de São Paulo conseguiu ontem a adesão de apenas 15 famílias de um total de 3.000 que pretende atrair.
O processo começou sob a desconfiança dos moradores, que temem perder suas casas. Desconfiança que funcionários da prefeitura tentavam contornar alegando que não haveria demolição -aos jornalistas, porém, o governo informou que imóveis serão derrubados.
Segundo assessores, o plano é retirar moradores, demolir as construções e fazer um parque na área, já que não há como drenar a água nem impedir enchentes. A região integra o projeto Parque Várzeas do Tietê, que irá da Barragem da Penha, na zona leste, até Salesópolis (cidade a 101 km da capital).
O cadastramento começou nove dias após a chuva que inundou a região. De acordo com a Sehab (Secretaria da Habitação), haverá opções conforme a situação da família -daí a necessidade do cadastro.
Quem mora em casa alugada poderá receber bolsa-aluguel de R$ 300 por 36 meses. Quem tem casa própria poderá ter crédito de R$ 60 mil para adquirir um imóvel. Serão oferecidos ainda cem apartamentos da CDHU às famílias em situação grave -cerca de 300.
Alguns moradores recusaram o cadastro, com medo de serem expulsos. Eles também reclamam da escalada do preço dos aluguéis na região desde a inundação -de R$ 150, apartamentos de um cômodo passaram para R$ 350 por mês.
Déborah Souza Lima, 18, cujo marido está desempregado, foi morar na casa de uma amiga por não ter condições de pagar aluguel. Ontem, soube que o filho de um ano teve alta do hospital, onde estava há 11 meses por causa de inflamação nos brônquios. "Não posso trazê-lo para cá. Não tenho onde ficar, e o ar daqui está de matar", disse, referindo-se ao mau cheiro que exala da água com esgoto.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) fez uma visita surpresa à região ontem de manhã, onde se reuniu com líderes locais, segundo assessores. "Até agora, o prefeito não recebeu liderança nenhuma. Hoje, nos reunimos só com a Sehab", disse Francisco Gurgel, 57, um dos líderes de moradores do Pantanal.
Gurgel afirmou que a preocupação é garantir que as famílias não sejam despejadas quando acabar a bolsa-aluguel. Ele criticou a demora da prefeitura. "Esta será mais uma noite sem saber o que vai acontecer. É um pouco de descaso. Os trabalhos podiam ter começado no próprio dia da chuva", afirmou.


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