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Prefeitura só cadastra 15 famílias no 1º dia
Cadastramento começou a ser realizado ontem pelo governo municipal sob a desconfiança dos moradores do Pantanal
Temor leva funcionários municipais a dizer que não haverá derrubada de casas, plano que, no entanto, é confirmado por assessores
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
O cadastramento dos moradores da região do Pantanal pela Prefeitura de São Paulo conseguiu ontem a adesão de apenas 15 famílias de um total de
3.000 que pretende atrair.
O processo começou sob a
desconfiança dos moradores,
que temem perder suas casas.
Desconfiança que funcionários
da prefeitura tentavam contornar alegando que não haveria
demolição -aos jornalistas,
porém, o governo informou
que imóveis serão derrubados.
Segundo assessores, o plano
é retirar moradores, demolir as
construções e fazer um parque
na área, já que não há como
drenar a água nem impedir enchentes. A região integra o projeto Parque Várzeas do Tietê,
que irá da Barragem da Penha,
na zona leste, até Salesópolis
(cidade a 101 km da capital).
O cadastramento começou
nove dias após a chuva que
inundou a região. De acordo
com a Sehab (Secretaria da Habitação), haverá opções conforme a situação da família -daí a
necessidade do cadastro.
Quem mora em casa alugada
poderá receber bolsa-aluguel
de R$ 300 por 36 meses. Quem
tem casa própria poderá ter
crédito de R$ 60 mil para adquirir um imóvel. Serão oferecidos ainda cem apartamentos
da CDHU às famílias em situação grave -cerca de 300.
Alguns moradores recusaram o cadastro, com medo de
serem expulsos. Eles também
reclamam da escalada do preço
dos aluguéis na região desde a
inundação -de R$ 150, apartamentos de um cômodo passaram para R$ 350 por mês.
Déborah Souza Lima, 18, cujo
marido está desempregado, foi
morar na casa de uma amiga
por não ter condições de pagar
aluguel. Ontem, soube que o filho de um ano teve alta do hospital, onde estava há 11 meses
por causa de inflamação nos
brônquios. "Não posso trazê-lo
para cá. Não tenho onde ficar, e
o ar daqui está de matar", disse,
referindo-se ao mau cheiro que
exala da água com esgoto.
O prefeito Gilberto Kassab
(DEM) fez uma visita surpresa
à região ontem de manhã, onde
se reuniu com líderes locais, segundo assessores. "Até agora, o
prefeito não recebeu liderança
nenhuma. Hoje, nos reunimos
só com a Sehab", disse Francisco Gurgel, 57, um dos líderes de
moradores do Pantanal.
Gurgel afirmou que a preocupação é garantir que as famílias
não sejam despejadas quando
acabar a bolsa-aluguel. Ele criticou a demora da prefeitura.
"Esta será mais uma noite sem
saber o que vai acontecer. É um
pouco de descaso. Os trabalhos
podiam ter começado no próprio dia da chuva", afirmou.
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