São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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SEGURANÇA SOB AMEAÇA

Para a Justiça, não há provas de que Marcola, transferido ontem, era alvo de tentativa de resgate

Juiz nega isolamento para líder do PCC

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

A Justiça afirmou ontem que as provas apresentadas pela polícia de que líderes do PCC eram o alvo da tentativa frustrada de resgate na penitenciária de Presidente Bernardes (589 km de SP) são insuficientes e negou o pedido de isolamento da cúpula da facção em uma unidade de segurança máxima com regime mais rígido.
Com essa decisão, o preso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC (Primeiro Comando da Capital), e outros integrantes da facção foram transferidos da Penitenciária 1 de Presidente Bernardes -onde ocorreu a tentativa de resgate- para outras penitenciárias comuns, sem bloqueador de celular ou sistema de raios X.
Segundo decisão do juiz Carlos Fonseca Monnerat, da Vara de Execuções Criminais, Marcola e outros líderes são "mal ou [nem] sequer mencionados nas inúmeras horas de gravação telefônica".
As escutas eram a principal prova da polícia, cujo relatório justificou o pedido do Ministério Público de transferência de Marcola e de outros quatro presos para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) -os presos ficam em celas individuais, são monitorados 24 h por câmeras e não têm acesso a rádio, TV ou jornais.
A principal crítica do juiz foi em relação à escuta na qual um organizador do resgate assumiria, segundo a polícia, que o alvo era Marcola. Para Monnerat, a conversa gravada é confusa.
De acordo com os grampos, os diálogos são os seguintes:

Interlocutor 1 - E aí, gordão? Já tá falando aqui que é o seguinte, ó moleque. É para buscar o menino lá, o Marcola, entendeu?
Interlocutor 2 - Ahn.
Interlocutor 1 - Tá falando no jornal aqui, mano.
Interlocutor 2 - Tá falando?
Interlocutor 1 - Tá. Tá falando que era para resgatar o Marcos Camacho, o Marcola. Eu tô com o jornal aqui. Ele está aqui. Eu mandei comprar, vem pra cá.
Interlocutor 2 - É, estou com o jornal aqui também.
Interlocutor 1 - O bagulho é louco. Tá bom, eu estou aqui te aguardando.
"Apenas após a conclusão ou ao menos o avanço das investigações é que se poderá saber se o diálogo não se referia apenas a uma notícia de jornal, ou se fazia referência à afirmação contida na petição [pedido]", afirmou o juiz.
O Ministério Público informou que vai recorrer da decisão. "Nós investigamos. Quem deve decidir quais medidas tomar é a Secretaria da Administração Penitenciária e a Justiça", afirmou Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).


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