São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Fasano cria ilha paulista em Ipanema

Bairro se movimenta com a chegada de hóspedes do hotel de luxo; bares investem em infra-estrutura e sofisticação

Moradores elogiam melhora na "sensação de segurança" na região, mas reclamam de carros importados e caminhões nas calçadas

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Um Citröen C4 estaciona na calçada do prédio 266 da rua Joaquim Nabuco, em Ipanema (zona sul). O vai-e-vem de carros importados incomoda seu Luiz. Na rua vizinha, a Rainha Elizabeth, o flanelinha Roberto Oliveira, 43, comemora a volta do movimento no Barril 1800. No calçadão, homens de terno descansam nas cadeiras de plástico dos quiosques.
Há cinco meses no posto 8 de Ipanema, perto da Pedra do Arpoador, o Hotel Fasano atraiu investimentos e revitalizou uma região esquecida. Bares e restaurantes investem em infra-estrutura para atrair os hóspedes do hotel, que pagam até R$ 5.300 por uma diária. A movimentação gera, no entanto, reclamações na vizinhança.
Com mais de 50 anos, o Barril 1800 é um dos mais animados com a nova clientela. A partir de maio, o bar fará uma reforma para "sofisticar" o ambiente e mudar cardápio, chef e até o nome (Bar Rio).
Para não perder o embalo do verão 2008, o primeiro com um Fasano no Rio, os sócios decidiram construir um deque, mudando mesas e cadeiras e contratando a chef Tereza Corção. O investimento nesta primeira etapa foi de R$ 90 mil. "Vamos nos sofisticar, mas sem perder o jeito carioca", disse o dono do bar, Luis Antônio Cunha.
A mudança no estabelecimento é um exemplo do que ocorreu com a região. Na década de 50, funcionava no local o bar Mau Cheiro. Depois, a região passou a ser um dos points da bossa nova com o Castelinho, bar da moda que deu lugar a um prédio de luxo. Com o fim da casa de show Jazzmania -que funcionou sobre o restaurante até a década de 90-, o local caiu como point.
Na areia, a região do Arpoador ganhou projeção nacional após arrastões motivados por brigas entre facções -e, desde então, segue em trajetória descendente. Os comerciantes pretendem aproveitar o hotel para "revitalizar" o ponto, mas procurando manter o "jeito carioca". "Vamos colocar muita bossa nova, que será o ingrediente carioca", diz Cunha.
A casa de shows Mistura Fina, que funcionou por 15 anos na Lagoa (zona sul), aportou sobre o Barril 1800 há um mês.
Antes de se instalar, o espaço passou uma obra para trocar seis colunas de concreto por uma viga de metal para aproveitar a vista para o mar. O valor do aluguel e da obra, Pedro Paulo Machado, um dos sócios, não revela. Ele diz que o ponto não foi escolhido em razão do Fasano, mas afirma que já aproveitou a clientela do hotel. "Já recebemos a Diana Krall."
Na rua Gomes Carneiro, o restaurante e sorveteria Felice Café reabriu as portas em outubro após dois anos de litígio na Justiça. O suíço Félix Opitz disse ter investido R$ 1 milhão na reforma. Ao mesmo tempo, outros negócios tentam aproveitar a onda, mas ainda sem sucesso. "Imaginei que teria um aumento mas ainda não vi. Já distribuímos panfletos no hotel, mas ninguém veio aqui [na galeria]", disse a artista plástica Laura Marsiaj.

Vizinhança
Assistindo à movimentação na região, a vizinhança ainda não "azedou" a relação com o hotel, mas tem suas queixas. As calçadas da rua Joaquim Nabuco ficam "infestadas" de carros importados durante a noite.
"Durante o dia, eles não descarregam os caminhões na frente do hotel, mas aqui na frente do prédio", reclamou o síndico do edifício vizinho ao hotel, Luiz Burza, 64. Ele afirma ainda que os condôminos estão prestes a decidir colocar um "fradinho" (obstáculo de cimento) na calçada para impedir os carros conduzidos por manobristas do hotel.
Na rua ao lado, a Rainha Elizabeth, os apartamentos dos fundos de dois prédios perderam a vista para o mar com os oito andares do Fasano. "Isso aconteceu comigo também. Eu tinha uma linda vista para o Jardim Europa [em SP], mas perdi por causa de um prédio. Eles sabiam que não teriam a vista para sempre", diz Rogério Fasano, sócio. O hotel foi erguido onde havia a última casa da praia de Ipanema. Como ponto positivo, os vizinhos apontam a sensação de segurança.


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