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Fasano cria ilha paulista em Ipanema
Bairro se movimenta com a chegada de hóspedes do hotel de luxo; bares investem em infra-estrutura e sofisticação
Moradores elogiam melhora na "sensação de segurança" na região, mas reclamam
de carros importados e caminhões nas calçadas
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Um Citröen C4 estaciona na
calçada do prédio 266 da rua
Joaquim Nabuco, em Ipanema
(zona sul). O vai-e-vem de carros importados incomoda seu
Luiz. Na rua vizinha, a Rainha
Elizabeth, o flanelinha Roberto
Oliveira, 43, comemora a volta
do movimento no Barril 1800.
No calçadão, homens de terno
descansam nas cadeiras de
plástico dos quiosques.
Há cinco meses no posto 8 de
Ipanema, perto da Pedra do Arpoador, o Hotel Fasano atraiu
investimentos e revitalizou
uma região esquecida. Bares e
restaurantes investem em infra-estrutura para atrair os
hóspedes do hotel, que pagam
até R$ 5.300 por uma diária. A
movimentação gera, no entanto, reclamações na vizinhança.
Com mais de 50 anos, o Barril 1800 é um dos mais animados com a nova clientela. A partir de maio, o bar fará uma reforma para "sofisticar" o ambiente e mudar cardápio, chef e
até o nome (Bar Rio).
Para não perder o embalo do
verão 2008, o primeiro com um
Fasano no Rio, os sócios decidiram construir um deque, mudando mesas e cadeiras e contratando a chef Tereza Corção.
O investimento nesta primeira
etapa foi de R$ 90 mil. "Vamos
nos sofisticar, mas sem perder
o jeito carioca", disse o dono do
bar, Luis Antônio Cunha.
A mudança no estabelecimento é um exemplo do que
ocorreu com a região. Na década de 50, funcionava no local o
bar Mau Cheiro. Depois, a região passou a ser um dos points
da bossa nova com o Castelinho, bar da moda que deu lugar
a um prédio de luxo. Com o fim
da casa de show Jazzmania
-que funcionou sobre o restaurante até a década de 90-, o
local caiu como point.
Na areia, a região do Arpoador ganhou projeção nacional
após arrastões motivados por
brigas entre facções -e, desde
então, segue em trajetória descendente. Os comerciantes
pretendem aproveitar o hotel
para "revitalizar" o ponto, mas
procurando manter o "jeito carioca". "Vamos colocar muita
bossa nova, que será o ingrediente carioca", diz Cunha.
A casa de shows Mistura Fina, que funcionou por 15 anos
na Lagoa (zona sul), aportou
sobre o Barril 1800 há um mês.
Antes de se instalar, o espaço
passou uma obra para trocar
seis colunas de concreto por
uma viga de metal para aproveitar a vista para o mar. O valor do aluguel e da obra, Pedro
Paulo Machado, um dos sócios,
não revela. Ele diz que o ponto
não foi escolhido em razão do
Fasano, mas afirma que já
aproveitou a clientela do hotel.
"Já recebemos a Diana Krall."
Na rua Gomes Carneiro, o
restaurante e sorveteria Felice
Café reabriu as portas em outubro após dois anos de litígio
na Justiça. O suíço Félix Opitz
disse ter investido R$ 1 milhão
na reforma. Ao mesmo tempo,
outros negócios tentam aproveitar a onda, mas ainda sem
sucesso. "Imaginei que teria
um aumento mas ainda não vi.
Já distribuímos panfletos no
hotel, mas ninguém veio aqui
[na galeria]", disse a artista
plástica Laura Marsiaj.
Vizinhança
Assistindo à movimentação
na região, a vizinhança ainda
não "azedou" a relação com o
hotel, mas tem suas queixas. As
calçadas da rua Joaquim Nabuco ficam "infestadas" de carros
importados durante a noite.
"Durante o dia, eles não descarregam os caminhões na
frente do hotel, mas aqui na
frente do prédio", reclamou o
síndico do edifício vizinho ao
hotel, Luiz Burza, 64. Ele afirma ainda que os condôminos
estão prestes a decidir colocar
um "fradinho" (obstáculo de cimento) na calçada para impedir os carros conduzidos por
manobristas do hotel.
Na rua ao lado, a Rainha Elizabeth, os apartamentos dos
fundos de dois prédios perderam a vista para o mar com os
oito andares do Fasano. "Isso
aconteceu comigo também. Eu
tinha uma linda vista para o
Jardim Europa [em SP], mas
perdi por causa de um prédio.
Eles sabiam que não teriam a
vista para sempre", diz Rogério
Fasano, sócio. O hotel foi erguido onde havia a última casa da
praia de Ipanema. Como ponto
positivo, os vizinhos apontam a
sensação de segurança.
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