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Computador demais piora nota de alunos
Conclusão é de pesquisa da Unicamp que analisou dados de 287.719 estudantes que participaram do Saeb (exame federal)
Resultado foi o mesmo em todas as séries e entre pobres e ricos; uma das hipóteses é de que o aluno diminua as horas de estudo
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Piero Bonavita, 16, costumava ficar em frente ao computador seis horas por dia. Nas férias, chegava a 12. Em boa parte
das vezes, a máquina era ligada
para fazer pesquisas pedidas
pela escola. Rapidamente, porém, seus colegas o chamavam
para conversas on-line. "A lição
ia para o espaço", conta o aluno
do colégio São Luís, um dos
mais conceituados de São Paulo. O excesso de horas no computador trouxe um resultado
negativo. Suas notas caíram,
principalmente em matemática e química (ambas nota 3,5).
Com o susto, ele passou a ficar menos tempo na máquina, a
partir da metade de 2007.
A situação de Piero pode ilustrar uma pesquisa recém-concluída pela Unicamp, que mostrou que o uso intensivo do computador está diretamente
ligado à queda das notas dos estudantes do ensino básico.
A constatação foi válida para
todas as séries analisadas (4ª e
8ª séries do fundamental e 3º
ano do médio), tanto para alunos ricos quanto para pobres.
A pesquisa analisou dados de
287.719 estudantes que participaram do Saeb (exame aplicado
pelo governo federal) em 2001
-apesar da data, os autores dizem que dificilmente teria
ocorrido uma mudança significativa do padrão desde então.
Entre os alunos da 4ª série,
de melhores condições financeiras, as menores médias em
matemática (225.1) foram dos
que disseram usar "sempre" o
computador para suas lições -
o estudante também responde
a um questionário na prova.
As maiores médias foram dos
alunos que usam a máquina
"raramente" (246.5). Mas até
mesmo os que "nunca" o fazem
tiveram nota melhor (237.1) do
que os que usam intensamente.
A mesma lógica foi verificada
nas outras séries e nas outras
camadas sociais. Segundo os
autores da pesquisa, uma possível explicação é que os alunos
que usam intensamente o computador dedicam menos horas
aos estudos.
Também pode contribuir o
fato de os usuários intensivos
do computador terem amplo
domínio de ferramentas de
correção ortográfica e cálculos.
Assim, não se estimulariam na
aprendizagem dessas áreas, ao
menos no formato escolar.
Colégio de São Paulo com as
melhores notas no Enem (exame do ensino médio), o Vértice
já detectou que o uso intenso
do computador é um problema."Quando analisamos os casos dos estudantes que estão
com um desempenho ruim,
quase sempre vemos que isso
está ligado ao excesso de computador", disse Adilson Garcia,
diretor do colégio. "Muitos ficam sonolentos a aula inteira."
Colega de Piero no São Luís,
Alexandre Mesquita, 15, conta
que desliga o MSN na hora de
estudar. Aluno de boas notas,
ele diz que usa o computador
"para tudo", até jogar. "Mas
tem que conciliar."
Informatização
Os pesquisadores da Unicamp decidiram analisar o impacto das políticas públicas para oferecer acesso ao computador aos estudantes. A última é
referente ao governo federal,
que pretende comprar 150 mil
laptops para os alunos (o MEC
não se pronunciou sobre os dados).
Segundo os autores do estudo, a decisão de investir em
computadores foi feita sem
embasamento científico. "Parece óbvio agora que a informatização não trará automaticamente benefícios no desempenho escolar", disse Jacques
Wainer, um dos autores.
"Para mim, a discussão deve
ser feita em "como" se deve usar
o computador e não "se" é preciso usá-lo", afirmou Marcelo
Neri, da FGV, que fez em 2003
um estudo chamado "Mapa da
Exclusão Digital", que defendeu a ampliação do acesso da
informática aos alunos.
Colaborou KARIN BLIKSTAD
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