São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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SEGURANÇA

"Suspeito para nós não é o verde, o amarelo, o preto ou o branco; é a conduta da pessoa", diz comandante

Rota pára e revista 634 pessoas por dia

DA REPORTAGEM LOCAL

A Rota tem um ditado: "Não levar dúvidas para casa, porque quem fizer isso pode estar deixando que aconteça um crime".
A frase, dita pelo comando e repetida pela tropa, explica por que seus policiais abordaram neste ano, até o dia 12, 83.753 pessoas.
Isso significa 634 pessoas paradas e revistadas todos os dias deste ano -ou uma a cada dois minutos, se é considerado o expediente de 21 horas da Rota.
São ocupantes de carros, motoqueiros e até pedestres, esperando ônibus no ponto ou caminhando na calçada, que demostraram comportamento suspeito.
"Suspeito para nós não é o verde, o amarelo, o preto ou o branco. É a conduta da pessoa, a atitude dela ao ver o carro da polícia passando, por exemplo", afirma o tenente-coronel José Roberto Marques, comandante da Rota.
Na última quarta-feira, a Folha acompanhou um turno de 12 horas de trabalho de pelotão de Rota vespertino -das 11h às 23h-, em patrulhamento pela zona sul de São Paulo, região que tem os piores índices de homicídio.
O patrulhamento reúne uma série de atitudes e ações que tentam pressionar os criminosos a se revelarem no meio da multidão.
No caso, audição e visão são peças fundamentais dessa estratégia. "Vou andando e ouvindo as conversas ao redor. Logo que chegamos aqui [favela da Guarapiranga], os olheiros dos traficantes correram, a uns 300 metros daqui", afirma o tenente Morishita, 25, há dois anos na Rota.
Morishita comanda há um ano e meio um pelotão -entre 20 e 24 homens. Nesse período, ele se envolveu em uma única ocorrência com tiros, que terminou com a morte de dois homens que teriam reagido à abordagem.
O tenente e sua equipe -soldados Palmieri, 34, Daugio, 39, Sena, 32, e Antonio, 34- foram os guias para a reportagem. A pedido, a Folha deixa de publicar o nome completo deles, que preferem não ser identificados por questões de segurança.
Quando cai a noite, a forte lanterna que um dos PMs carrega à mão serve como uma "vara de pescar" imaginária no trânsito e nos pontos de ônibus. Quem é fisgado acaba parado e revistado.
"Não temos como saber se uma pessoa que está sentada na calçada não esconde uma arma", diz o tenente. E aí existe outro ditado da Rota: ao revistar, ou "você prende um bandido ou ganha um amigo". Não é tão simples assim por causa do clima que envolve a ação de abordagem do suspeito.
O período acompanhado pela Folha é considerado o mais crítico -das 11h às 23h. A prioridade da ronda é o roubo de veículos e de cargas, além do tráfico de drogas e sequestradores.
A equipe do tenente leva consigo um pequeno arsenal: um fuzil, metralhadora, carabina 12, espingarda Puma, quatro pistolas, três revólveres, além de escudo balístico. Todos os policiais usam coletes à prova de bala.
Realidade bem diferente dos PMs da Rota no início da década de 80. "Nós não tínhamos equipamentos, como escudo balístico. Muitas vezes entrávamos [em casas] sem técnica", diz o comandante da Rota, que foi tenente na unidade entre 77 e 84.
A primeira parte do trabalho faz parte do estágio dos 99 PMs da nova companhia de Rota que está sendo criada. A reportagem e a equipe do tenente Morishita entram na favela Guarapiranga, na zona sul, um conhecido ponto de tráfico de drogas, segundo a PM.
Depois, começam as rondas pelas principais avenidas da região da represa Guarapiranga.
Ao final do dia, o grupo tinha rodado 162 km, parado e revistado 21 pessoas, realizado duas perseguições e dois deslocamentos de emergência -até na contramão- para atender chamadas pelo rádio. (ALESSANDRO SILVA)


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