São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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"Viagra" barato leva brasileiros ao Uruguai

Alguns deles buscam o remédio por causa de impotência sexual; outros, como fonte alternativa -e ilícita- de renda

Comprimido custa 15 vezes menos no país vizinho, cuja lei obriga laboratórios estrangeiros a ceder patente para a fabricação de similar

SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIVERA

"Viagra" a R$ 1,90 o comprimido. O preço e a facilidade na compra de remédios para disfunção erétil têm levado centenas de brasileiros ao Uruguai. Alguns, em razão da impotência. Outros, como fonte alternativa -e ilícita- de renda.
O produto, que custa no Brasil em média R$ 30 o comprimido de 50 mg, é barato no país vizinho porque a legislação uruguaia obriga os laboratórios estrangeiros a quebrar suas patentes se houver interesse da indústria farmacêutica local na fabricação de similares.
Assim, nos últimos seis anos, surgiram sete marcas locais de remédios para disfunção erétil, com o mesmo princípio ativo -o sildenafil- do produto criado pela multinacional norte-americana Pfizer.
Estão disponíveis no mercado uruguaio caixas contendo de 2 a 20 comprimidos, com preços de R$ 4 a R$ 38. Há até versão mastigável, que, segundo farmacêuticos de Rivera (cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil pelo município gaúcho de Santana do Livramento), tem efeito mais rápido do que o comprimido.
Raquel Mansilla, farmacêutica e proprietária da Farmácia Servi, em Rivera, disse que não há necessidade de receita médica para comprar o produto e nem restrição de quantidade. "Quem quiser pode levar uma, 30, 50 caixas."
Outro dono de farmácia em Rivera, que pediu para não ser identificado, afirmou vender, em média, cem caixas de Plenovit -a marca mais procurada, cuja embalagem com 20 comprimidos custa R$ 38- por final de semana, quando o movimento de turistas na fronteira é mais intenso. Segundo o farmacêutico, a maioria dos compradores é de brasileiros.
Ele disse que a venda de cada comprimido a R$ 2 paga todas as despesas da farmácia, impostos e ainda gera lucro. "Tem gente que leva para vender a R$ 8, R$ 10. Deve ganhar um bom dinheiro."
Uma lei de patentes aprovada em 1998 pelo Parlamento uruguaio é o que possibilita a produção de drogas similares ao Viagra, rebatizadas com nomes como Plenovit, Libeden, Vimax e Maxfil, facilmente encontrados nas farmácias.
Para poder utilizar o mesmo princípio ativo, porém, os laboratórios locais devem repassar à empresa detentora da patente 5% do valor final do produto.
Na época da votação do projeto de lei, o atual ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Reinaldo Gargano, era senador pelo Partido Socialista e foi contrário à aprovação. "Não acho justo que se pague 5% aos laboratórios de fora."
O ministro observou que no Uruguai não há produção de genéricos e que a lei de 1998 foi uma forma de tornar remédios de outros países mais acessíveis aos uruguaios.
As três marcas mais vendidas do "Viagra uruguaio" têm embalagens com dois, quatro, oito e 20 comprimidos de 25 e 50 mg. Todos são bem parecidos com o Viagra original, até na cor azul. A exceção é o Maxfil, cujas pílulas são amarelas. "É para a esposa não desconfiar da finalidade do remédio", brincou um farmacêutico uruguaio.


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