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ARTIGO
Família e escola estão em fogo cruzado
ARISTIDES MARCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O conceito de família nem
sempre foi igual. No passado,
crianças não eram asseguradas
pela família. Cedo, envolviam-se com adultos em atos sociais.
Hoje, os pais já não são senhores absolutos da lei e da ordem nem os únicos cuidadores.
As mães não são unicamente as
protetoras e as zeladoras da
educação. Nesse espaço entrou
a figura do Estado.
O Estado assumiu para si a
formação acadêmica do indivíduo. Na Constituição, o texto
legal exprime sem dúvida: "A
educação é para todos".
A Unesco (1996), em relatório para a Comissão Internacional sobre Educação para o
Século 21, reforça que "a família
constitui o primeiro lugar de
toda a educação e assegura para
isso a ligação entre o afetivo e o
cognitivo, assim como a transmissão de valores e normas".
Ao observarmos a escola hoje, percebemos que a violência
nos jovens ocorre por vários
motivos, e o principal deles é a
inadequação social.
Atualmente, crianças desde
tenra idade veem-se privadas
dos valores imediatos do lar por
conta de arranjos em que ambos os pais trabalham, rompendo-se os elos afetivos e cognitivos importantes para a formação da personalidade.
Há ainda o acesso cada vez
maior e mais intenso à mídia e a
inculcação de valores diferentes ou distorcidos daqueles do
ambiente familiar. Vendo que a
escola constituiu-se ponto convergente de toda a sociedade,
assistimos a episódios de violência nesse ambiente.
Corresponsáveis hoje pela
educação, família e Estado
-leia-se escola- estão num fogo cruzado. Ambos falham em
suas responsabilidades e funções devido aos avanços tecnológicos rápidos, não totalmente
absorvidos e dominados.
A propagação das ideias pela
mídia e pelas tecnologias criou
espaços a que tanto a família
como a escola precisam se adequar. Os modelos de conduta
que os jovens obtêm não são
mais de pleno controle familiar. Toda essa mudança deságua inevitavelmente na escola,
que precisa de uma rápida revisão de métodos e valores.
Os meios de prevenção da
violência passam por toda a sociedade, que se apresenta tecnológica, consumista e competitiva. É necessário encontrar
valores para nortear os jovens.
Devem ser revitalizados, assim, os valores de conduta no
seio das famílias. Deve-se dar
continuidade ao processo na
escola, para valoração do indivíduo nessa ótica de século 21,
com internet, celulares e mídia.
A compreensão e a adaptação
a esses novos tempos reduzirá
os choques de valores, que, na
escola, desandam em violência.
ARISTIDES MARCHETTI é pesquisador do Observatório da Violência da USP/Ribeirão Preto
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