BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Na volta de uma semaninha de merecidas férias encontro minha caixa postal eletrônica entupida por mensagens enfurecidas contra a campanha de desarmamento da população, agora encabeçada pelo presidente FHC.
Será que a turma do Charlton Heston baixou por aqui? Então chama o táxi, que eu estou voltando para Cumbica!
O ator de "Ben-Hur", um republicano linha dura, é o presidente da NRA (National Rifle Association), entidade que defende com todos os cartuchos o direito, garantido pela Constituição dos EUA, de portar armas.
Depois do massacre de Littleton, no Colorado, em que dois rapazes mataram a tiros 12 colegas de escola e um professor, a NRA está sob fogo cerrado.
O FBI anda investigando a origem das armas usadas pelos rapazes de Littleton. Suspeita-se que a namorada, menor de idade, de um deles teria comprado, no espaço de menos de um mês, duas armas automáticas utilizadas na matança, sem ser questionada pela loja que realizou as vendas ou pelas autoridades locais.
Nenhuma pessoa de bom senso pode duvidar de que a política da National Rifle Association tenha seu naco de responsabilidade nos assassinatos de Littleton. Ou não? Pois, na última quinta-feira, o republicano Newt Gingrich produziu uma pérola de marketing político na forma de discurso indignado, para responder aos ataques dos democratas, que responsabilizam a NRA pelo massacre.
Disse ele que as tentativas de transformar armas de fogo no bode expiatório da matança são "banalidades". Para Gingrich, a culpa pela tragédia vem de "35 anos de liberalismo". Ele afirmou ainda que os assassinos provavelmente não tinham idéia de que estavam roubando o "inalienável direito à vida e à liberdade" de suas vítimas porque as escolas americanas não ensinam mais o significado constitucional desses valores, e os jovens não sabem quem foram George Washington e Abraham Lincoln, mas "conhecem a MTV".
Os argumentos de Gingrich são contundentes. Mas é de se perguntar por que os republicanos levaram quase um mês para produzir uma explicação para a matança.
Já dizia Mao Tse-tung que armas são fabricadas para ser usadas. E nenhum juízo de valor pode modificar essa sombria realidade.

QUALQUER NOTA

Saudades
Só agora descubro que Ramon Mosquera, um dos maîtres mais queridos de Sampa, que fez fama no Rodeio e depois ajudou a transformar o Barbacoa em uma das melhores churrascarias rodízio da cidade, morreu no dia 17 de abril. Sua elegância fará falta.

Ronald Reagan
Na apresentação do show "Quanta", quinta passada, no Palace, Gilberto Gil escorregou na maionese. Na hora do bis, ele mandou um "obrigado, Rio".

Cuma?
Foi indiscutivelmente simpática a tentativa de Gustavo Kuerten de agradecer em italiano o público que assistiu sua vitória no Aberto de Roma. Mas que a italianada deve estar até agora se perguntando o que foi que ele disse, isso deve.

E-mail: barbara@uol.com.br


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