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Justiça ajuda pai de filho com doença rara
Quase despejado de casa, pai recebe verba de fundo pecuniário para saldar dívida
JULIANNA GRANJEIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma decisão inédita da
Justiça reverteu verba do fundo pecuniário -recolhido de
condenações judiciais- para
quitar a casa de um pai que
abandonou o emprego para
pesquisar a doença rara e incurável do filho. Ele seria
despejado por não pagar.
A história -que lembra a
do filme "Óleo de Lorenzo"-
aconteceu em Curitiba. O engenheiro mecânico Adolfo
Celso Guidi, 52, deixou o cargo de gerente de uma concessionária em 2000, ao descobrir que o filho Vitor, à época
com dez anos, tinha gangliosidose GN1 tipo 2.
"Nenhum médico no Brasil conseguiu diagnosticá-lo.
Larguei tudo e fiquei uma semana em Buenos Aires, onde
diagnosticaram a gangliosidose. Quando retornei, um
médico me disse que não tinha o que fazer", afirmou.
Inconformado com a resposta, o engenheiro começou a estudar a doença na biblioteca da faculdade de medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
"A gangliosidose impede a
reprodução de neurônios,
que degeneram. Por meio de
um processo homeopático, a
gente fornece essa enzima e o
organismo trabalha", explicou o pai, que encontrou a
"fórmula" em 2001.
Para alcançar o resultado,
Guidi diz que gastou, na época, cerca de US$ 80 mil (R$
149.500 atualmente) e deixou de pagar as prestações
de sua casa, que foi a leilão.
O processo da Caixa Econômica Federal, financiadora da casa, contra Guidi teve
início em 2001. Após recursos, o caso chegou à juíza federal Anne Karina Costa.
"Já estava tramitando em
julgado. Caso ele não pagasse, teria que sair do imóvel.
Então, durante uma audiência de conciliação, ele disse
que queria explicar o motivo
de não ter pago a dívida e
contou a história do filho."
O banco reduziu a dívida
para R$ 48.500, mas ele ainda não podia pagar. Sua renda passara a vir de trabalhos
esporádicos na oficina que
montou em sua casa.
A juíza se lembrou, então,
do fundo que a Justiça mantém com penas pecuniárias.
"O dinheiro arrecadado vai
para entidades assistenciais.
Eu tive a ideia de inscrever
Guidi como um projeto."
DECISÃO INÉDITA
Em decisão, que segundo
a juíza é inédita no Brasil, o
Ministério Público Federal e
a 1ª Vara Criminal autorizaram que o fundo fosse utilizado para o pagamento da dívida de Guidi. A audiência final
foi em novembro de 2009.
A juíza diz esperar que a
decisão se repita e sensibilize
as instituições financeiras.
Hoje, Guidi cuida do filho sozinho -há três anos ele se separou da mulher- e auxilia
duas outras crianças com a
mesma doença. "Com a enzima e a alimentação que pesquisei, ele está muito melhor.
Ele não tem mais dificuldades de engolir e a musculatura não é mais contraída."
Aos 21 anos, Vitor usa cadeira de rodas e frequenta
uma escola especial. Para
Guidi, sua história é uma
"grande obra de Deus".
"Sempre soube que não ia
perder minha casa."
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