São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/POLÊMICA

Pista foi liberada após lobby de empresas

Férias de julho foram usadas como argumento para reabertura da pista principal antes de término da obra; Infraero nega a pressão

Estatal minimizou a necessidade do "grooving", e diz que só 5 dos aeroportos administrados por ela dispõem deste sistema

IURI DANTAS
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressões das companhias aéreas foram determinantes para a liberação da pista principal do aeroporto de Congonhas antes da conclusão da realização do "grooving" -a reconstrução da via consumiu 46 dias e R$ 19,9 milhões e ainda não ficou pronta. O acidente com o avião da TAM, contudo, mudou o planejamento: as obras marcadas para agosto tiveram o início antecipado para esta madrugada.
Num primeiro momento, a Infraero anunciou que o fim da primeira parte da reforma seria em 2 de julho. Mas, antecipou em três dias a liberação da pista -o presidente Lula passou pelo aeroporto em 2 de julho. A segunda parte da reforma, que era prevista para terminar em setembro, foi antecipada. A estatal e a Anac não admitem a pressão de companhias aéreas para agilizar a abertura da pista principal.
Dirigentes da Infraero e da Anac já mencionaram a existência de um lobby de autoridades que não aceitariam se deslocar até Guarulhos para voar. Para resolver o problema, a Anac vem estudando a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo e o uso de Congonhas para três pontes aéreas: Belo Horizonte, Rio e Brasília. Nos bastidores, representantes de companhias pressionaram para que a inauguração não fosse adiada por conta de problemas com a pintura de sinalização, como pedia a diretoria de engenharia da estatal. A pressão das empresas foi dirigida à Anac e à Infraero e com um argumento poderoso: o período de férias de julho.

"Grooving"
A Infraero minimiza a necessidade do "grooving". Ontem, informou que apenas 5 dos 67 aeroportos administrados pela estatal -cujo os nomes não foram divulgados- dispõem do sistema. Segundo a Infraero, outro fator a contribuir para a reinauguração da pista em 29 de junho foi um TAC (Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta) firmado com o Ministério Público Federal em 13 de abril deste ano. O documento foi assinado pela diretoria da Anac e pelo presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, em 13 de abril.
A assinatura do TAC suspendeu uma ação civil pública promovida contra a Infraero e a estatal poderia ser acionada judicialmente em caso de descumprimento dos compromissos. Tecnicamente, a Infraero justifica também que o "grooving" não poderia ser feito imediatamente após a primeira fase de recuperação da pista principal, mas somente após um período de 30 a 45 dias para a "curação" do asfalto -secagem e acomodação do asfalto na pista. Se realizado neste período, o "grooving" poderia causar um afundamento da pista.
Fontes da Infraero informaram que a liberação da pista foi feita em acordo com a Anac e a Aeronáutica, que negam. Em 2003, a Infraero investiu R$ 188 milhões na reforma do prédio de Congonhas. Naquela época, o órgão informou que a via não era prioridade.
Em maio, após os sucessivos problemas envolvendo pouso e a iniciativa do Ministério Público Federal de pedir a interdição judicial da via, a Infraero contratou a OAS e a Galvão Engenharia em regime de urgência, sem licitação. Foram feitos os reparos considerados mais importantes. Procuradas, as construtoras não quiseram se pronunciar sobre o acidente.


Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI da Reportagem Local


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