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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/POLÊMICA
Pista foi liberada após lobby de empresas
Férias de julho foram usadas como argumento para reabertura da pista principal antes de término da obra; Infraero nega a pressão
Estatal minimizou a necessidade do "grooving", e diz que só 5 dos aeroportos administrados por ela dispõem deste sistema
IURI DANTAS
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressões das companhias aéreas foram determinantes para
a liberação da pista principal do
aeroporto de Congonhas antes
da conclusão da realização do
"grooving" -a reconstrução da
via consumiu 46 dias e R$ 19,9
milhões e ainda não ficou pronta. O acidente com o avião da
TAM, contudo, mudou o planejamento: as obras marcadas para agosto tiveram o início antecipado para esta madrugada.
Num primeiro momento, a
Infraero anunciou que o fim da
primeira parte da reforma seria
em 2 de julho. Mas, antecipou
em três dias a liberação da pista
-o presidente Lula passou pelo
aeroporto em 2 de julho. A segunda parte da reforma, que
era prevista para terminar em
setembro, foi antecipada.
A estatal e a Anac não admitem a pressão de companhias
aéreas para agilizar a abertura
da pista principal.
Dirigentes da Infraero e da
Anac já mencionaram a existência de um lobby de autoridades que não aceitariam se deslocar até Guarulhos para voar.
Para resolver o problema, a
Anac vem estudando a construção de um terceiro aeroporto
em São Paulo e o uso de Congonhas para três pontes aéreas:
Belo Horizonte, Rio e Brasília.
Nos bastidores, representantes de companhias pressionaram para que a inauguração
não fosse adiada por conta de
problemas com a pintura de sinalização, como pedia a diretoria de engenharia da estatal.
A pressão das empresas foi
dirigida à Anac e à Infraero e
com um argumento poderoso:
o período de férias de julho.
"Grooving"
A Infraero minimiza a necessidade do "grooving". Ontem,
informou que apenas 5 dos 67
aeroportos administrados pela
estatal -cujo os nomes não foram divulgados- dispõem do
sistema.
Segundo a Infraero, outro fator a contribuir para a reinauguração da pista em 29 de junho foi um TAC (Termo de
Compromisso de Ajustamento
de Conduta) firmado com o Ministério Público Federal em 13
de abril deste ano. O documento foi assinado pela diretoria da
Anac e pelo presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, em 13 de abril.
A assinatura do TAC suspendeu uma ação civil pública promovida contra a Infraero e a estatal poderia ser acionada judicialmente em caso de descumprimento dos compromissos.
Tecnicamente, a Infraero
justifica também que o "grooving" não poderia ser feito imediatamente após a primeira fase de recuperação da pista principal, mas somente após um período de 30 a 45 dias para a "curação" do asfalto -secagem e
acomodação do asfalto na pista.
Se realizado neste período, o
"grooving" poderia causar um
afundamento da pista.
Fontes da Infraero informaram que a liberação da pista foi
feita em acordo com a Anac e a
Aeronáutica, que negam.
Em 2003, a Infraero investiu
R$ 188 milhões na reforma do
prédio de Congonhas. Naquela
época, o órgão informou que a
via não era prioridade.
Em maio, após os sucessivos
problemas envolvendo pouso e
a iniciativa do Ministério Público Federal de pedir a interdição judicial da via, a Infraero
contratou a OAS e a Galvão Engenharia em regime de urgência, sem licitação. Foram feitos
os reparos considerados mais
importantes. Procuradas, as
construtoras não quiseram se
pronunciar sobre o acidente.
Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI da Reportagem Local
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