São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Falta de vagas na Berrini faz moradores alugarem garagem

Prática se intensificou desde segunda-feira, quando foram extintos 3.400 lugares

Danilo Verpa - 14.jul.09/Folha Imagem
Agente da CET fiscaliza carros em Zona Azul, que foi implantada na região da Berrini na segunda

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A dona de casa Palmira Andressi, 80, não tem carro, mas desde o início desta semana sua garagem está sendo ocupada por um Fiat Palio.
Palmira é uma das moradoras da região da avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini (zona sul) que decidiram alugar a própria garagem para pessoas que não acham vaga nas ruas ou não podem pagar o alto preço cobrado pelos estacionamentos locais.
A prática, que, segundo moradores, já vinha ocorrendo em diversas casas da região, se intensificou desde a última segunda-feira.
Desde então, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) implantou um pacote de mudanças viárias extinguindo 3.400 vagas de estacionamento e transformando outras 760 em Zona Azul (20 delas exclusivas para deficientes).
Segundo informações do advogado especializado em direito imobiliário, Edwin Brito, é preciso haver um contrato de locação parcial do imóvel para que a prática seja legal.
Do contrário, trata-se de uma prestação de serviços como estacionamento, o que demanda inscrição na prefeitura, alvará e pagamento de ISS (imposto sobre serviços).
A infração é passível de multa, mas, segundo a subprefeitura de Pinheiros, para isso é necessário haver flagrante, o que é bastante difícil.
"Faz tempo que a moça [que alugou a vaga] tinha me falado que queria pagar para usar minha garagem. Na segunda-feira, ela veio insistir de novo, porque ficou mais difícil de estacionar. Aí eu aceitei", disse Palmira, que afirma estar cobrando "mixaria"- R$ 50 mensais. "Fiquei com dó", afirma.
Estacionamentos da região cobram até dez vezes mais, embora, em média, a mensalidade fique em R$ 300.
Animada com a perspectiva de aumentar a renda extra, Palmira está arrumando o portão que hoje literalmente emperra o aluguel de outras duas vagas que possui. "Ah, seria bom, né?", diz.
Mesmo com as três vagas já ocupadas por inquilinos, a também dona de casa Alice Gonçalves, 70, conta ter sido novamente procurada nesta semana por frequentadores da Berrini dispostos a alugar a sua garagem. "Se não fosse esse poste na calçada, até caberia mais um [carro]", lamenta ela, que cobra R$ 100 mensais por vaga. "Ajuda a pagar o IPTU, de R$ 400".

Troca-troca
A dentista Márcia Junko Takassi, 55, fez um acordo com um paciente que mora próximo ao seu consultório, na rua Sansão Alves dos Santos, onde agora é proibido estacionar em ambos os lados: em troca da vaga dele, ela dá desconto no tratamento dentário. "Eu chegava cedo para conseguir vaga na rua. Agora chego cedo e espero ele abrir o portão para mim."
O empresário Luiz Rossi, 44, afirma que nesta semana chegaram a oferecer R$ 200 mensais para estacionar dentro de sua casa, em uma travessa da Berrini. "Fiquei tentado, porque é o quanto gasto de gasolina por mês", disse ele, que desistiu para manter uma vaga livre para os clientes que ocasionalmente atende em casa.


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