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Proibida por lei, adoção direta ainda é comum no país
Pela nova legislação, só podem ser adotadas crianças disponíveis no CNA (Cadastro Nacional de Adoção)
Entendimento de que há vínculo afetivo entre
as crianças e os futuros pais pode legalizar casos de doação
ELIDA OLIVEIRA
LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO
Quando decidiram adotar
uma criança, Edirlene, 48, e
Sergio Diniz, 49, se cadastraram na Justiça e passaram
por entrevistas, estudos psicológicos, sociais e econômicos. Um ano e três meses depois, o casal de Niterói (RJ)
sequer havia sido chamado
para conhecer uma criança.
Os dois resolveram então
partir para a adoção direta,
também chamada de dirigida ou consensual -vetada
pela nova lei da adoção, em
vigor há quase um ano. E
conseguiram.
Não há dados nacionais,
mas casos como o de Edirlene e Sérgio existem aos montes, apesar da legislação.
Pela nova lei, as adoções
só podem ocorrer para pais
pretendentes e crianças disponíveis no CNA (Cadastro
Nacional de Adoção).
Na prática, isso não ocorre, como comprova o casal
do Rio de Janeiro. Ao saber
que uma mulher queria doar
as gêmeas que esperava, os
dois fizeram a adoção direta.
Há nove meses, são pais de
duas meninas que entraram
para a família "direto da maternidade". "Não foi rejeição
[da mãe biológica]. Foi doação por amor", diz Edirlene,
explicando que a família que
fez a doação não tinha condições financeiras.
A situação das crianças está legalizada desde junho.
Essas adoções diretas acabam legalizadas graças a algumas brechas existentes na
lei. Uma delas é quando um
juiz entende que há vínculo
afetivo entre pretendentes à
adoção e criança.
DEMORA
Especialistas ouvidos pela
Folha dizem que a demora
no trâmite do CNA leva pretendentes a procurarem
mães que não querem ou
não podem criar os filhos.
"Não há dados oficiais sobre o tema", diz Helen Sanches, presidente da ABMP
(Associação Brasileira de
Magistrados, Promotores de
Justiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude).
Porém, em Lages (SC), onde atua como promotora, ela
calcula que metade das adoções ocorra dessa forma.
Capitais da região Norte
registram índices ainda
maiores. Em Rio Branco
(AC), a psicóloga Rutilene
Tavares, da Vara da Infância, estima que 95% das adoções sejam consensuais.
As mães, diz Rutilene,
doam diretamente seus filhos porque acham que, caso
entreguem as crianças para a
Justiça, elas serão presas.
"É um misto de pobreza e
cultura em que mães pobres
entregam seus filhos porque
não podem cuidar", conta a
psicóloga da Vara da Infância Evelyn Carvalho, sobre
Macapá (AP).
EXIGÊNCIAS
"Muitos adotam bebês direto com as mães porque no
CNA o perfil de crianças disponíveis é diferente do que se
procura", diz a diretora do
Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, Irene Rizzini.
Dados do CNA mostram
que enquanto 38% dos habilitados querem crianças
brancas e 77% esperam que
elas tenham até três anos de
idade, a maior parte (45%) é
parda e poucas (9%) têm menos de três anos.
Dar mais agilidade ao processo, democratizar o acesso
às adoções e evitar que as
crianças passem mais do que
dois anos em abrigos são alguns dos objetivos do CNA.
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