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Cães ficam para trás em desocupação de área da serra do Mar
Cerca de 200 cachorros e gatos já foram abandonados pelas 530 famílias transferidas para prédios da CDHU
Muitos dos animais têm sarna, bicheira, pulga, carrapato e são largados presos e sem comida pelos antigos donos
CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO
Sempre que a cozinheira
Renata Bergman, 27, avista
um carro da CDHU (Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano) no
bairro Água Fria, Cubatão,
onde mora, ela vai atrás.
Sabe que o carro é indício
de que mais um vizinho está
sendo removido da serra do
Mar -e que algum cão ou gato será abandonado por ele.
"Já virou rotina. Espero encontrar ao menos um bicho.
Às vezes preso, sem comida."
Muitos dos animais abandonados têm sarna, bicheira,
pulga, carrapato. Ela leva para casa os mais debilitados.
Após um mês, eles ficam com
a aparência mais saudável:
"A sarna sai, a bicheira cicatriza". É aí que ela tenta doar,
quase sempre sem sucesso.
Na casa de Renata moram
hoje 14 cães e uma gata, mas
ela também calcula alimentar 36 cães de rua. Na casa de
Áurea Dantas, 51, do bairro
Cota 200, são cerca de 30 cachorros. Na mesma região,
Helena Ribeiro, 46, abriga
outros 24 cães e seis gatos.
As três precisam de desembolsar parte do salário a
fim de comprar alimentos e
remédios para os bichos que
os vizinhos não quiseram
mais, após serem transferidos para um prédio da
CDHU. Dizem que contam
com apoio de ONGs e que a
prefeitura local não as ajuda
nem a castrá-los e vaciná-los.
Helena mora com o marido, dois filhos e os 30 animais em uma casa de três
quartos que fica num terreno
de 150 m2. "Cheguei ao limite,
não tenho mais condições."
Até pouco tempo ela tinha
outros dez filhotes, que conseguiu doar. Diz que gasta os
R$ 500 que ganha de pensão
só com "comida, remédio e
desinfetante" para os bichos.
Áurea mora sozinha -com
seus 30 cães adotados- em
um barraco de um só cômodo, dividido por um guarda-roupas. Ela trabalha de segunda a sábado e dorme só
às 3h para conseguir cuidar
de todos os animais.
A ONG Associação em Defesa da Vida Animal de Cubatão calcula que já foram
abandonados cerca de 200
animais, desde que as famílias começaram a ser retiradas, no começo do ano.
"Já não estamos dando
conta, imagine quando forem removidas mais famílias", diz Denise Araújo, uma
das protetoras da ONG. Até
hoje, segundo a CDHU, já foram transferidas 530 famílias, ou 10% do total previsto.
Ela aponta como possível
solução para esse problema a
construção de um novo abrigo para animais na região.
IMPASSE
Segundo Lair Krähenbühl,
secretário de Estado da Habitação, as pessoas foram liberadas para levar até dois animais para as novas moradias. Ele diz que já foi feito o
orçamento para a construção
de canis bancados pela
CDHU, mas a Prefeitura de
Cubatão não definiu o terreno onde seriam construídos.
A prefeitura disse que há
um impasse sobre quem forneceria funcionários, equipamentos e demais despesas. O custo para abrigar um
cão é de R$ 250 mensais e a
prefeitura estima que 3.000
cães sejam abandonados até
o fim do programa.
Ela informou também que
seu novo Centro de Zoonoses, inaugurado no ano passado, já está superlotado e
que não tem capacidade para
atender à demanda de castrações que surgiu agora.
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