São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Colisão na baía de Guanabara mata oito

Traineira de 15 m foi atingida à noite por cargueiro de 180 m, de bandeira das Bahamas, no Rio de Janeiro; 4 sobreviveram

Uma das hipóteses é a de falha humana da equipe da traineira; tripulação do cargueiro não pode deixar o país até o fim da investigação

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Um acidente entre duas embarcações na baía de Guanabara, na noite de terça-feira, causou a morte de oito pessoas. Por volta das 22h30 de anteontem a traineira Costa Azul, de 15 metros de comprimento, foi atingida pelo cargueiro frigorífico Roko (de 180 m), de bandeira das Bahamas.
Até a noite de ontem, corpos de quatro vítimas do acidente haviam sido resgatados. Mergulhadores da Marinha tinham conseguido visualizar outros corpos dentro da cabine, a 37 metros de profundidade, mas o resgate não tinha sido possível até a conclusão desta edição.
A tripulação do cargueiro está proibida de deixar o país até o fim das investigações, mas a principal hipótese investigada é a de falha humana da traineira, já que, pelas regras da navegação, a embarcação, por ter avistado o cargueiro à sua direita, deveria ter desviado.
A traineira prestava serviço para a empresa Tecsub Engenharia Subaquática, de Santos, e transportava mergulhadores que participavam das obras do emissário submarino da Barra da Tijuca. Além dos nove mergulhadores, havia no barco dois marinheiros e o mestre-arrais.
Segundo a Marinha, a traineira ia do Caju (zona portuária do Rio), onde acabara de abastecer, para Jurujuba, em Niterói, para que os tripulantes descansassem. Antes, deixou três mergulhadores da empresa na Praça 15. Durante a madrugada seguiriam para a Barra da Tijuca, para retornar ao trabalho.
O destino do navio Roko, comandado por Vladimirs Gruserviskis, era a Ucrânia e ele estava entrando na baía de Guanabara apenas para abastecer. O navio, de ferro e cerca de 12 vezes maior que a traineira, atingiu o meio da Costa Azul, que era de madeira. A pequena embarcação foi destruída e sua cabine afundou rapidamente.
Destroços foram encontrados na madrugada de ontem. Quatro mergulhadores estavam na parte traseira da embarcação conversando e conseguiram pular no momento do choque. Os outros passageiros dormiam na cabine, onde também estavam o mestre-arrais e os dois marinheiros.
Os homens que saltaram foram resgatados pela Marinha, atendidos e levados, à tarde, para um hotel na Ilha do Governador (zona norte). Eles prestaram depoimento na Capitania dos Portos. Advogada da Tecsub, Cristiane Fatalla Elias, disse que a empresa não tem responsabilidade sobre o acidente, mas que irá dar assistência às famílias de seus mergulhadores. Ela informou que a Tecsub alugou a embarcação de outra empresa, cujo nome não quis revelar. A Marinha não disse o nome do advogado do cargueiro.

Buscas
Dez embarcações da Marinha, com cerca de 300 homens, participam das buscas desde a notificação do acidente. O Corpo de Bombeiros e mergulhadores integram a equipe.
Destroços do Costa Azul foram encontrados na madrugada, mas apenas às 10h de ontem a cabine foi localizada, com a ajuda de uma garatéia, espécie de gancho com anzóis, a cerca de 2 km da costa do Rio.
"A cabine está num local de difícil acesso, a 37 m de profundidade e com visibilidade entre 1 m e 1,5 m. A correnteza está forte e há perigo para os mergulhadores", disse o comandante da Capitania dos Portos do Rio, capitão-de-mar-e-guerra, Antônio Fernando Moreira Dias.
As buscas continuavam durante a noite com três embarcações e cerca de 30 pessoas, entre elas 15 mergulhadores. Cinco vítimas já foram identificadas: Oswaldo Antunes do Prado, 61; Erivelton Azevedo da Silva, 25; Esmeraldo José Moreira, 60; Jocimar Neves Marques, 35; e Panaiote de Oliveira Nitrogianes, 37. Os sobreviventes são Eduardo da Silva Pinto, Thiago Batista Barros, Eliazer Chaves de Oliveira e André Luiz Lorenzeth.


Colaboraram CRISTINA TARDÁGUILA e MARIO HUGO MONKEN , da Sucursal do Rio


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