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Adultos têm mais dificuldades para aprender 2ª língua
Pesquisa da UnB aponta que inibição causada pelo medo de errar é um dos fatores que atrapalha o aprendizado
Crianças estão mais abertas a novos aprendizados, mas adultos têm a vantagem de identificar mais facilmente suas dificuldades no idioma
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Você acha que nunca vai conseguir aprender inglês? Estudou anos e anos, mas ainda
continua no básico? A língua
trava na hora de pronunciar o
bendito "th"? Trocou de escola
incontáveis vezes?
Você não está só. O que os
professores vêem há tempos
em sala agora é comprovado
por estudos acadêmicos: adultos têm mais dificuldade para
aprender uma segunda língua
que crianças e adolescentes.
Essa particular dificuldade
com os idiomas não tem nada a
ver com o QI dos adultos. O
problema é por vezes psicológico. E, como tal, pode ser trabalhado. A professora Myriam
Lacerda de Castro e Silva, em
seu trabalho de mestrado na
UnB (Universidade de Brasília), entrevistou adultos que
haviam feito várias tentativas
frustradas de aprender inglês.
A inibição é um dos pontos que
eles têm em comum.
"Os adultos criam um filtro,
um bloqueio que os impede de
participar da aula. Têm vergonha de errar e os outros rirem.
Fora da escola, são médicos, advogados e empresários bem-sucedidos. Eles se sentem ridicularizados quando erram.
Preferem ficar quietos. O problema é que ninguém aprende
só ouvindo", afirma.
Patrícia Pallu, professora da
Universidade Positivo e autora
do livro recém-lançado "Língua Inglesa e a Dificuldade de
Aprendizagem da Pessoa Adulta" (ed. Pós-Escrito), diz que as
crianças levam vantagem por
assimilar novidades sem muito
questionamento.
Os adultos, ela exemplifica,
preocupam-se demais em buscar um sentido lógico no idioma e comparar a nova língua
com o português. "Isso nem
sempre dá certo. Imagine um
estrangeiro querendo saber por
que usamos "falecer" para uma
pessoa, mas não para uma samambaia... Ele precisa simplesmente aceitar que é assim."
Os questionamentos chegam
até mesmo à didática dos cursos. Quando é avisada de que há
um aluno descontente querendo conversar com ela, a gerente
acadêmica da Cultura Inglesa
de São Paulo, Lizika Goldcheleger, tem certeza de que se trata
de um adulto.
"O adulto compara as aulas
com o que ele acredita ser o
correto. Quando não se encaixam nesse modelo, parece que
tudo acaba ficando ruim e ele
simplesmente bloqueia", explica. "A criança ainda não tem vivência, não tem parâmetro de
comparação. Está mais aberta,
mais receptiva. Aproveita e
aprende muito mais."
As crianças ainda têm outro
ponto a seu favor. Como o cérebro ainda está em formação,
para elas é mais fácil assimilar
novos conhecimentos. O que
não quer dizer que os adultos
não têm capacidade para
aprender outra língua. Eles
têm, mas só precisam de um
pouco mais de tempo.
Vantagens
A maturidade, obviamente,
têm suas vantagens. Os adultos,
por exemplo, conseguem identificar com facilidade onde enfrentam mais dificuldade -se
na escrita, na audição ou na fala, por exemplo. E, assim, sabem onde precisam se concentrar. Quando vão mal, as crianças dificilmente têm condições
de fazer isso sozinhas.
Aos estudantes que, após
anos de estudo, ainda acham
que não aprenderam nada, o
professor Ubiratã Alves, da
Universidade Católica de Pelotas, dá um incentivo: "O melhor
a fazer é olhar para trás e ver no
livro tudo que ele estudou,
comparar o antes e o agora. Assim é possível perceber que
houve, sim, uma evolução."
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