São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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45 dias após acidente da Gol, aeronaves quase colidiram

Segundo controladores de vôo, um avião comercial passou a 3,7 km de outro, da FAB

Aeronáutica disse que não há nenhum registro de incidente envolvendo aeronaves civis ou militares e o controle de tráfego

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na última segunda, 45 dias depois do acidente do vôo 1907 da Gol que deixou 154 pessoas mortas, outros dois aviões também quase se chocaram no ar, segundo relatos de controladores de tráfego aéreo de Brasília. O incidente teria ocorrido no começo da tarde, quando um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e um avião comercial se cruzaram a menos de 2 milhas náuticas (3,7 km) de distância.
Em nota, a Aeronáutica disse que "não há nenhum registro de qualquer tipo de incidente envolvendo aeronaves civis ou militares e o sistema de controle de tráfego aéreo". Mas detalhes da ocorrência foram relatados à Folha durante a semana por três controladores, que pediram para não ser identificados por medo de retaliação.
Um "raspão" a essa distância é considerado grave, mas não é crítico -os aviões não precisaram manobrar para evitar uma colisão. No controle aéreo, o normal é manter uma distância de dez milhas náuticas (18,5 km) entre aviões -o mínimo aceitável são cinco milhas náuticas (9,25 km) na mesma altitude ou mil pés (300m) de distância em altitude.
É função do controlador assegurar isso, vigiando a velocidade, altitude e rota dos aviões em seu setor e contatando os pilotos quando necessário. Mas, duas semanas depois do acidente da Gol, a Aeronáutica determinou que vôos militares fossem monitorados em outra sala, pela Defesa Aérea.
Com isso, esses vôos estariam imunes à "operação-padrão", o controle de fluxo aéreo que começou nessa época. O avião com plano Vocom (Vôo de Circulação Operacional Militar) aparece no console do controlador, mas não é de responsabilidade de seu setor.
O incidente de segunda, segundo relato de um controlador, ocorreu por volta das 15h.
Um avião comercial com direção ao Sudeste do país estava em procedimento de subida saindo de Brasília. No sentido contrário, em nível baixo mas estável, vinha um avião da FAB.
Por alguns instantes, o controlador no console da área São Paulo do Cindacta-1 empalideceu e ficou sem ação: os pontos que representam os dois aviões se sobrepuseram na tela do radar. Eles passaram a 2 milhas náuticas (3,7 km) um do outro. Considerando a velocidade e direção contrária dos aviões, é possível que os pilotos não tenham visto o que aconteceu.
Porém, a aproximação dos pontos na tela de radar pôde ser percebida. Mas a confusão na sala de controle teria tirado a concentração do controlador que acompanhava o setor. Segundo o procedimento, qualquer violação de segurança que não resulte em acidente é considerado um "incidente aéreo" e deve ser registrado para investigação interna.

Tensão
Véspera do aquartelamento e da troca de comando do Cindacta-1, a segunda foi um dia de tensão. Após o segundo final de semana de atrasos e confusões com os vôos, controladores já acumulavam o estresse e o desgaste da escala emergencial.
Alguns teriam passado mal. Em duas ocasiões, controladores teriam rejeitado o que consideram "interferência" da Defesa Aérea em seus consoles. A Aeronáutica nega dificuldades.
Mas a própria divisão no controle de vôos militares e civis ajudou a alimentar o atual movimento dos operadores de Brasília. Se queixam do risco de vôos fora de seu controle direto mas com direito a zonas exclusivas de tráfego e "furando a fila" de pousos e decolagens. A regra valeria também para vôos militares que transportam ministros de Estado a trabalho.


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