São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Sala de crise no Rio monitora país todo e "regula" os atrasos

No local, autoridades aeronáuticas e companhias aéreas tentam contornar os problemas com a operação-padrão

Até o acidente com o Boeing da Gol, em 29 de setembro, a chamada "sala de solução de problemas" ainda não havia sido muito usada

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea, Sala de Crise da Aeronáutica ou Sala de Solução de Problemas. Seja pelo nome oficial, ou pelos apelidos que recebeu nas últimas duas semanas, o que importa mesmo é que ali são tomadas as decisões que tentarão garantir, no meio da crise aérea provocada pela operação-padrão dos controladores de vôos, que cada passageiro chegue ao destino que escolheu.
A Folha acompanhou, na última sexta-feira, duas horas dos trabalhos na sala de crise, localizada no Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), ao lado do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio. Tudo o que se passa no espaço aéreo brasileiro é visto e analisado por um grupo de pessoas especializadas em aviação que se reveza, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Ali trabalham representantes da Aeronáutica, da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), da Infraero (estatal que administra os aeroportos) e gerentes operacionais de todas as empresas aéreas brasileiras que decidem qual avião ficará mais tempo no solo ou no ar. O impacto daquela determinação é mensurado imediatamente e as mudanças vão acontecendo a todo instante.

A sala
No meio da sala há uma grande mesa redonda, com laptops, papéis, gráficos, rádios e telefones. À frente, um telão projeta imagens de todo o espaço aéreo brasileiro. Um emaranhado de pontos amarelos mostra a localização de todos os aviões em navegação naquele instante. De repente, uma luz pisca.
"Não se assuste, isso significa que um controlador de vôo queria mais detalhes sobre aquela aeronave. Ele pede que o piloto acione uma espécie de identificador e ele consegue destacar aquele vôo e saber quem é, sua altitude e rota", explica o chefe da sala, coronel Guilherme Freitas Lopes.
Nas paredes, cartazes com os gráficos detalhados de todas as rotas usadas nas "aerovias" do país. Um quadro, no canto esquerdo da sala, é usado para anotar todos os vôos em atraso, bem como as restrições de decolagem. Na sexta-feira, por exemplo, havia uma restrição de cinco minutos de vôos na rota Texas no aeroporto do Rio.
"Essa rota sai do Rio em direção ao Nordeste. Isso significa que os aviões decolavam num espaço de cinco minutos entre eles. Essa decisão nós tomamos há poucas horas", disse Lopes.
Na hora, havia também dois aviões com atrasos de 30 minutos. "Nesse caso, o atraso é por culpa da companhia, já que a anotação no quadro está em tinta preta. Quando anotamos em vermelho é porque o atraso aconteceu por determinação nossa. Aí podem nos culpar", disse o chefe da sala.
A sala foi criada há cerca de um ano, para resolver problemas esporádicos e não teve muito uso até agora. "Às vezes, a quebra da peça de um avião no Maranhão pode resultar no atraso de um vôo, no dia seguinte, de São Paulo para Bogotá. Para isso foi criado o centro: para que a navegação aérea tenha o menor prejuízo possível", afirmou Lopes.

Cindacta 1
A atenção de todos na sala, quase sempre, é voltada principalmente para a região do Cidacta 1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), com sede em Brasília, que controla o tráfego nos estados de São Paulo, Rio, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, parte do Mato Grosso e parte do Mato Grosso do Sul. Ele gerencia cerca de 70% dos vôos do país.


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