São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Nos parques e ruas da capital, cães ainda circulam sem a focinheira

Em Higienópolis, até o bebedouro de praça é utilizado por cachorros soltos

LÍVIA SAMPAIO
DO "AGORA"

Os parques da capital estão bem sinalizados e os funcionários costumam exigir o uso da focinheira para os cães das raças pit bull, rottweiler, mastim napolitano e american staffordshire terrier, como determina a lei estadual. Foi o que constatou a reportagem, na última semana.
Nas ruas, porém, a situação é outra. Na última quarta-feira, feriado da Proclamação da República, a reportagem flagrou um rottweiler solto -sem guia, enforcador e focinheira- circulando com dois homens em uma praça da zona sul. No local, ao mesmo tempo em que o cão estava sem os equipamentos exigidos pela lei, passeavam crianças pequenas e mães com carrinho de bebê.
De volta ao parques, enquanto a determinação da focinheira aparentemente é cobrada, a obrigação do uso de coleira e guia -uma portaria da própria Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente- deixa a desejar. Na maioria dos parques visitados havia cães de pequeno e médio porte circulando livremente, mas nada se assemelha à situação verificada no parque Buenos Aires, no bairro de Higienópolis (região central de São Paulo), tido como um dos mais sofisticados da capital.
No local, a maioria dos cães -quase todos de raça e acompanhados dos seus respectivos donos- não usam coleira e correm livre pela praça, que se transformou em "cachorródromo". Um cercado foi erguido especialmente para os animais ficarem soltos, mas o espaço quase não é utilizado. O bebedouro -concebido originalmente para pessoas- estranhamente é usado pelos cães.
"O que ocorre ali é uma situação totalmente atípica e de extrema de falta de respeito. Tentamos chamar a atenção dos usuários de todo o jeito, mas não adianta", diz Renier Marcos Rottermund, do Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes), da prefeitura.
"O que mais revolta é que o público é de pessoas que tiveram acesso à educação, que deveriam ser mais esclarecidas", afirma. Segundo ele, a secretaria terá de chegar ao "cúmulo" de contratar vigilantes para controlar as ações dos usuários e de seus respectivos cães nas dependências do parque público. Isso deve ocorrer nas próximas duas semanas.
No parque Ibirapuera (zona sul), a fiscalização foi intensificada na entrada, mas freqüentadores relatam que dentro do local donos dos cachorros carregam as focinheiras nas mãos.
Esse era o caso da pit bull Shiva, 4 anos. Enquanto estavam sentados no gramado, o casal de donos retirou o acessório, mas voltou a colocá-lo ao andar pelo parque. "Eu sempre trago e uso a focinheira, ou não deixam a gente entrar", conta a estudante Ila Braga, 25. Ela concorda com o uso do acessório, mas diz que o objeto "assusta" as pessoas.

Em Curitiba
O administrador Vinicius Romero, 26 anos, precisa apenas usar guia e coleira quando passeia com Willy, seu bull terrier de três anos. Na última quarta-feira, ele levou o cão ao parque Ibirapuera. "Meu cachorro é confundido com um pit bull, mas é totalmente diferente", afirma.
Se vivesse em Curitiba, onde a legislação abrange mais raças, Romero precisaria comprar uma focinheira. Além disso, na capital do Paraná a multa para infratores ultrapassa R$ 600, enquanto em São Paulo é de 139,30. Fora as quatro raças com as quais há restrições no Estado de São Paulo, a lei em Curitiba vale para pastor alemão, fila, dobermann e bull terrier ou qualquer outro cão com mais de 20 quilos.

Ataques
Do início do ano até a última quinta-feira, o Centro de Controle de Zoonoses da capital já havia registrado 9.228 casos de ataques de cães. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o número representa desde "simples arranhões até ataques fatais." Em 2005, foram 17.477 ataques na capital.


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