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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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Em Avaré, foi apreendido bilhete que informaria líder da facção sobre morte do juiz de Presidente Prudente

Contra restrições, PCC já atacou presídio

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A penitenciária em que foi apreendido o bilhete com referência ao assassinato do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, a P1 de Avaré (262 km de São Paulo), teve um funcionário baleado no ano passado em atentado organizado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).
No dia 8 de abril, por volta das 14h30, o agente penitenciário Ronaldo Cain Zedan, 47, recebeu quatro tiros na porta de sua casa de um homem desconhecido. Zedan sobreviveu aos ferimentos.
De acordo com o delegado Sergio Lemos Oliveira, 44, da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Avaré, o crime foi planejado pela facção, em protesto contra o regime disciplinar diferenciado implantado na unidade, que funciona como o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes.
A polícia indiciou dois ex-líderes do PCC, que na época tinham poder na facção, José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, além de um advogado e outros dois presos. ""Foi uma represália contra o regime na unidade", afirmou o delegado, que está para concluir o inquérito. O atirador nunca chegou a ser identificado.
Na mesma P1, na última segunda-feira, agentes penitenciários apreenderam um bilhete destinado ao atual número um do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Um dos trechos da mensagem diz o seguinte: ""A caminhada já foi feita. O Machado [nome do juiz] já era. É o caminho do câncer...". O texto, segundo a polícia e o Ministério Público, sugere um aviso sobre o êxito do plano para assassinar o juiz.
O preso que assina o texto, Rogerio Simoni, conhecido como Mangue, foi transferido ontem para o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), na capital. À polícia, ele teria confirmado que escreveu o bilhete, depois de ser avisado do crime por um advogado. Os detalhes do que disse estão sob sigilo.
A polícia tenta saber se Marcola ordenou a emboscada ao juiz. Por enquanto, a mensagem interceptada não vale como prova para acusá-lo, segundo a Promotoria.
O magistrado morto era responsável pelos detentos de sete prisões na região, incluindo o CRP de Presidente Bernardes, que funciona em regime disciplinar diferenciado e abriga hoje parte da cúpula da facção, mais o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
""O bilhete é a primeira coisa que aparece na investigação envolvendo o PCC", disse ontem o delegado Godofredo Bittencourt, diretor do Deic, ao explicar que não se pode confirmar ou descartar o envolvimento da organização criminosa no assassinato.
Outro preso de Avaré, identificado apenas como José Luiz, está prestando depoimento no DHPP (setor de homicídios).
Os detentos da unidade de Avaré ficam isolados, sem direito a visita íntima, com banho de sol restrito e têm contato apenas com pequenos grupos no pátio, diferentemente do que ocorre em prisões que adotam o regime disciplinar comum.


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