São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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entrevista

"Cidade é arena para disputa de verba e poder"

DA SUCURSAL DO RIO

Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, diz que as cidades são "campo de disputa por recursos públicos". A seguir, trechos da entrevista à Folha.

 

FOLHA - O relatório da ONU sustenta que a urbanização é fator de desenvolvimento e o senhor contesta. Por quê?
CARLOS VAINER -
Nos anos 50, a promessa do desenvolvimento foi vendida como igual à industrialização e à urbanização. Mas hoje a desigualdade é maior na cidade do que no campo. Tudo depende, então, da natureza do desenvolvimento.
Sabemos que a cidade não absorve todos os pobres do campo, mas produz seus próprios pobres. Os saldos migratórios dos núcleos metropolitanos de Rio e São Paulo são negativos. No entanto, as favelas crescem.

FOLHA - Como a cidade produz desigualdade?
VAINER -
Além de projetar a desigualdade estrutural, a cidade é um campo de distribuição de riqueza e poder. Não está inscrito na estrutura brasileira que você vá à Barra da Tijuca [bairro nobre da zona oeste do Rio], ande por alamedas asfaltadas, e, der repente, o asfalto é esburacado e você está na favela de Rio das Pedras.
Não estou dizendo que as casas são mais pobres em Rio das Pedras, mas que o espaço público se degrada quando se chega no bairro pobre. Isso é uma produção urbana. A cidade é uma arena onde poder e recursos públicos são disputados.

FOLHA - A própria distribuição do espaço urbano não é o maior sinal de desigualdade?
VAINER -
Os pobres moram longe porque, por exemplo, a área portuária do Rio, na qual 40% a 60% da terra é pública, em vez de consagrada para fazer habitação popular ou bairros mistos, vai para edifícios de escritórios ou apartamentos e flats para a classe média.


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