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País só age sob pressão, afirmam ativistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma espécie de consenso entre os ativistas de direitos humanos no país: o Brasil só investiga
denúncias de tortura se pressionado pela comunidade internacional. Semana passada, a Comissão contra Tortura da ONU (Organização das Nações Unidas) recomendou ao Brasil que puna
"com severidade" os responsáveis
por crimes de tortura.
Solicitou ainda ao governo que
garanta assistência jurídica aos
presos e que acabe com a superlotação das cadeias. As solicitações
das Nações Unidas -as mesmas
feitas por movimentos de direitos
humanos brasileiros- têm prazo
para serem cumpridas: um ano.
O presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da OEA (Organização dos Estados Americanos), Hélio Bicudo
-que também é o vice-prefeito
de São Paulo- diz que o poder
público só atua "sob pressão" na
área do combate à tortura.
Ele cita como exemplo um fato,
ocorrido em 2000, em Sorocaba,
interior paulista. Um grupo de
presos denunciou ao Ministério
Público que policiais responsáveis pela segurança externa da cadeia usavam métodos de tortura.
Os promotores que fizeram a
denúncia foram ameaçados de
morte. O mesmo ocorreu com os
familiares dos presos. A situação
só foi resolvida quando um advogado apelou para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sediada em Washington.
Pressionado, o governo transferiu os policiais e garantiu a segurança dos promotores. Liliana
Tojo, diretora do Cejil no Brasil,
diz que, não fosse a pressão internacional, processos como o do
massacre de Eldorado do Carajás,
no Pará, estariam engavetados.
O Cejil é uma instituição jurídica sem fins lucrativos que acompanha processos que tramitam
em cortes internacionais.
Por determinação da Comissão
Interamericana, o governo informa o estágio de tramitação do
processo de Eldorado do Carajás
uma vez a cada 45 dias.
O massacre ocorreu em abril de
96, quando a Polícia Militar do
Pará matou 19 trabalhadores do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), durante
uma desocupação. O governador
do Pará, Almir Gabriel (PSDB),
foi testemunha de defesa dos policiais, durante o primeiro julgamento, em 99, que absolveu os comandantes da operação. Houve
pressão e o júri foi anulado.
Oscar Vilhena, do Ilanud (órgão
das Nações Unidas que estuda
violência) admite que o governo
vive uma situação difícil nessa
área pelo fato de a maioria dos crimes ocorrer e ser julgada sob a jurisdição dos Estados.
O governo federal assina os
acordos internacionais e responde pela sua eventual violação apenas no exterior. Para Vilhena,
desfavorece ainda o país a constante troca de ministro da Justiça
-só nessa gestão, foram três. É o
titular da pasta, e sua equipe, que
responde às interpelações internacionais na fase de tramitação.
Em outubro de 1998, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos enviou ao Ministério
das Relações Exteriores um pedido oficial de informação para saber porque o economista Marco
Antônio Heredia Viveiros, condenado por dois Tribunais do Júri,
em Fortaleza, continuava livre.
Em 1983, Heredia teria tentado
assassinar a ex-mulher, Maria da
Penha Maia Fernandes. Ela ficou
paraplégica e ele vem recorrendo
das condenações em liberdade.
A comissão aguardou durante
250 dias uma resposta do governo
brasileiro e acabou condenando o
país, no dia 30 passado, por omissão no caso de violência contra
mulher, baseado nesse caso.
(GABRIELA ATHIAS)
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