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ADMINISTRAÇÃO
Ministério Público diz que boletins de fiscalização da Prefeitura de São Paulo são alterados em favor de empresas
Promotoria aponta fraude em varrição
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual
afirma ter indícios de que funcionários do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) e de empresas responsáveis pela coleta e
varrição de lixo na cidade têm alterado relatórios de fiscalização
para que as contratadas recebam
por serviços que não prestaram.
A partir de tais indícios, a Promotoria obteve autorização judicial para pôr em prática ontem, simultaneamente, ações de busca e
apreensão de documentos nas sedes do Limpurb e da empresa Cliba Ltda., que faz coleta e varrição
no extremo leste da cidade.
O mandado foi concedido pela
juíza Renata Okida, da 4ª Vara da
Fazenda Pública. Ao todo, os promotores de Justiça da Cidadania
deixaram os dois locais com cerca
de cem caixas de documentos,
além de inúmeros arquivos magnéticos. Hoje, a ação continua na
sede do arquivo municipal.
No inquérito -de nove volumes e quase 2.000 páginas-, o
Ministério Público coleciona documentos que sugerem que os relatórios feitos por fiscais do Limpurb, quando apontam falhas na
execução dos serviços -sobretudo de varrição-, são alterados
pelas empresas contratadas
-com conivência de engenheiros do Limpurb.
Os relatórios -chamados BIS
(Boletins de Inspeção de Serviços
de Limpeza Urbana)- servem de
base para a aplicação de multas e a
retenção de pagamentos. Quando
desaparecem as falhas, a empresa
recebe normalmente, inclusive
por serviços que não executou.
R$ 105 milhões por ano
A cada ano, o município gasta
cerca de R$ 350 milhões com a
limpeza urbana. Se os investigadores provarem que apenas 70%
do serviço pago é executado, como relatam as testemunhas, poderão pedir na Justiça que empresas privadas e funcionários públicos envolvidos nos desvios devolvam aos cofres municipais R$ 105
milhões por ano de irregularidades, a exemplo do que ocorreu em
gestões anteriores.
A investigação da Promotoria
da Cidadania começou em meados de 2003. "Primeiro, por carta,
dez fiscais do Limpurb nos informaram que estavam sendo obrigados pelos engenheiros a alterar
os relatórios", narra o promotor
Silvio Marques. "Depois, a prática
nos foi reafirmada por funcionários de uma das empresas."
Foi a carta dos fiscais que detonou a abertura do inquérito. Em
seguida, em depoimento, dois deles confirmaram o teor do documento. Na ocasião, porém, eles
afirmavam que as irregularidades
atingiam duas das oito empresas
que atuam na cidade -Vega Ambiental e Queiroz Galvão-, mas
não tinham prova do que diziam.
O promotor, então, notificou o
Limpurb a prestar explicações. O
departamento, segundo relato de
Marques, disse que apuraria os fatos, mas arquivou o procedimento diante da explicação de um engenheiro, segundo o qual relatórios haviam sido trocados por falhas da fiscalização inicial. A um
fiscal, porém, o mesmo engenheiro teria dito que rasgara um dos
boletins, pois "devia favores" à
empresa Queiroz Galvão.
O caso corria morno até que, há
dez dias, o vereador Gilberto Natalini (PSDB), que faz oposição à
administração petista, procurou
Marques e entregou a ele os primeiros documentos que apontam
a existência do esquema. Eles, no
entanto, se referiam a uma terceira empresa -a Cliba.
Anteontem, dois funcionários
da Cliba depuseram e confirmaram as fraudes -admitindo terem participado de alterações de
relatórios. Narraram que, depois
de refeitos pelas empreiteiras, os
boletins eram assinados por dois
engenheiros do Limpurb, citados
nominalmente. Um deles é o que
levou ao arquivamento do caso,
em 2003. Foi aí que a Promotoria
decidiu fazer a busca dos papéis.
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