São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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CRIME NA CASERNA

Ministério Público Militar apura hipótese de vigilante ter sido morto por ter esbarrado na mãe de membro do Exército

Rixa é provável causa de morte em quartel

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Uma rixa com um militar é a razão investigada para a morte do vigilante Evandro Alixandre Alves, 32, assassinado por asfixia dentro do 1º Depósito de Suprimentos do Exército (Rocha, zona norte do Rio), em fevereiro.
Já morto foi colocado pelos militares do quartel amarrado pelo pescoço a uma corda para simular que tinha cometido suicídio por enforcamento, segundo peritos do Hospital Central do Exército, que fizeram o laudo cadavérico.
Alves foi preso em 11 de fevereiro. Os militares alegaram que ele teria tentado pular o muro da unidade. Após 28 horas, ele apareceu morto nas dependências do quartel. O exame de local de morte feito pela Polícia do Exército indicou suicídio, mas o laudo cadavérico derrubou essa versão. Segundo a análise, Alves não apresentava lesões internas no pescoço, o que descarta a hipótese de auto-eliminação por enforcamento.
Segundo o Ministério Público Militar, encarregado da investigação, a hipótese mais provável para o motivo do assassinato é uma rixa entre Alves e um militar.
Esse militar, cujo nome é mantido em sigilo e que nega o crime, disse que, 15 dias antes da prisão, teve uma briga com Alves no Jacaré (zona norte), onde os dois moram. A confusão começou porque Alves deu um esbarrão involuntário na mãe do militar, de acordo com os investigadores.
A investigação indica que, na madrugada do dia 11, Alves passava em frente ao quartel, que é caminho de sua casa, e foi abordado pelo militar e levado para dentro. Essa é a versão mais provável, diz o juiz militar Edmundo Franca de Oliveira, que analisa o caso.
Responsável pelo laudo, o perito-legista Levi Miranda disse que o exame cadavérico traz outros elementos que podem derrubar a versão de suicídio. O laudo contestou a informação do exame de local de morte que relatou que Alves, antes de morrer, apresentava comportamento depressivo e tinha alucinações. A segunda análise afirma que a vítima estava lúcida e não tinha usado drogas.
Segundo o legista, dois soldados que dormiam no alojamento onde ficava a cela de Alves disseram que deixaram o local por volta das 6h do dia 12 de fevereiro para tomar café e não viram nada. Quando voltaram, por volta das 7h, encontraram Alves já morto. Mas Miranda disse que, por volta das 14h do mesmo dia, fez a necropsia e constatou que ele teria morrido pelo menos 12 horas antes.
Para o legista, é improvável a hipótese de Alves ter pulado o muro do quartel, de 3 m de altura. Segundo Miranda, se ele tivesse feito isso, teria arranhões nas mãos e nos pés, o que não ocorreu.
O relações-públicas do Comando Militar do Leste, coronel Fernando Lemos, disse que, como há controvérsias nos laudos, caberá à Justiça Militar decidir qual o correto. Ele informou que o Exército não comenta sobre investigações que ainda não foram concluídas.


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