São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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ENCHENTES
Superintendente do Daee diz que dinheiro estrangeiro permitirá concluir obras contra cheias no Tietê
DAEE promete fim de enchentes até 2000

Niels Andreas/Folha Imagem
José Bernardo Ortiz, superintendente do DAEE de São Paulo, que promete acabar com os transbordamentos do rio Tietê até o ano 2000


MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
RICARDO ZORZETTO
da Reportagem Local

A população de São Paulo poderá estar livre das enchentes nos rios Tietê e Tamanduateí em dois anos. Além disso, até novembro deve ser solucionado o problema de abastecimento de água na Grande SP, que causa rodízios e interrupções no fornecimento.
As afirmações são de José Bernardo Ortiz, superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão do governo do Estado. Ortiz diz que há US$ 700 milhões reservados até o ano 2000 para acabar com os transbordamentos do rio Tietê.
Esse dinheiro seria suficiente para concluir obras antienchente e sanar as irregularidades no fornecimento de água para cerca de 16 milhões de moradores da Grande São Paulo. Veja a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.

Folha - Existe solução possível para as enchentes em São Paulo?
José Bernardo Ortiz -
Para as enchentes, temos dois novos reservatórios sendo feitos: o do rio Paraitinga, em Salesópolis, e o de Biritiba, entre Mogi das Cruzes e Biritiba-Mirim. Eles têm capacidade para 60 milhões de metros cúbicos de água, cerca de 400 vezes a do piscinão do Pacaembu.
Folha - Como obras no interior combaterão enchentes na capital?
Ortiz -
Pode-se evitar enchente segurando a água e aumentando o canal por onde ela corre. O aumento do canal está sendo feito na capital, entre o Cebolão e a barragem Edgar de Souza (primeira parte do projeto), onde a calha do Tietê está sendo afundada e alargada. Para segurar a água estamos fazendo as novas represas. Também vamos reter a água com 46 piscinões ao longo do rio Tamanduateí. Desses 46, estão em construção 6.
Folha - Qual o cronograma dessas obras?
Ortiz-
Acreditamos que os 46 piscinões estejam prontos em três anos. As obras de afundamento do Tietê deverão estar prontas em 16 meses. Os reservatórios de Paraitinga e de Biritiba têm cronograma previsto de 24 meses e as obras deverão iniciar em um mês.
Folha - Quando o paulistano começará a sentir o efeito das obras?
Ortiz -
Em dois anos, mantido esse ciclo de obras. O conjunto deverá estar pronto em três anos.
Folha - Como ocorre esse problema de enchente? A vazão do Tietê é insuficiente? Vai muita água da nascente para São Paulo?
Ortiz -
Não só da nascente como também do ABC, onde fica o rio Tamanduateí, e dos contrafortes da serra da Mantiqueira, onde estão vários córregos. Os afluentes do Tietê são rios de velocidade considerável e que trazem lixo e areia dos loteamentos novos.
Folha - Então só aumentar a profundidade e a largura do rio não resolve o problema?
Ortiz -
Ele terá de ser dragado sempre, até para manter a profundidade. Os afluentes do Tietê são quase todos canalizados, o que aumenta a velocidade deles, e as galerias pluviais da cidade saem na metade do rio. Se o Tietê enche, ele segura a água e a empurra de volta para as galerias. Com essas obras, ele vai funcionar mais baixo.
Folha - Esse diagnóstico não é novo. Por que o Estado está longe da solução?
Ortiz
- Houve a paralisação em governos anteriores. A idéia dessas obras é dos anos 20. Mas só na década de 80, começaram a ser construídas.
Folha - O projeto de aprofundamento da calha também é antigo.
Ortiz
- Começou em 87 (governo Quércia), mas foi paralisado.
Folha - O que garante que agora as obras serão concluídas?
Ortiz
- A vontade política. Para o Estado conseguir empréstimos futuros, é preciso que concluir os projetos em andamento.
Folha - Parece que o sr. quer dizer que a continuidade depende da manutenção de Mário Covas no governo do Estado?
Ortiz -
Não. Acho que qualquer governo daqui para o futuro deve realmente continuar essas obras. Folha - Qual o custo delas? O que já entrou de dinheiro externo e qual a participação do governo?
Ortiz
- Existem alocados para as obras US$ 500 milhões de um fundo ligado ao governo japonês, o OECF (Overseas Economic Cooperation Fund). Outros R$ 200 milhões são recursos do Estado.
Folha - Isso é dinheiro que já está na mão do governo?
Ortiz
- Não, ele é liberado à medida em que as obras vão sendo feitas. Mas a garantia existe. Isso nos traz uma vantagem: estamos realizando obras pela metade do preço previsto. Os orçamentos iniciais tinham um ranço de inflação. Os japoneses vieram recentemente assinar os contratos das obras e ficaram satisfeitos com o barateamento. No total, há US$ 700 milhões, mas serão gastos cerca US$ 350 milhões. Isso vai permitir contratar mais obras.
Folha - Quer dizer, em três anos a solução tem de vir. Por falta de dinheiro o problema não deixará de ser solucionado.
Ortiz -
O dinheiro existe. Não há possibilidade de que deixe de vir. Acho que São Paulo vai entrar no ano 2000 em melhores condições, com diminuição de enchentes e mais água na torneira. Essas barragens têm outras vantagens. São para a contenção de cheias, mas podem ser usadas para abastecimento de água.
Folha - Com elas, vai ser possível eliminar o rodízio?
Ortiz -
Sim.
Folha - Isso em 2000?
Ortiz -
Não. Em 30 de novembro deste ano.




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