ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

JACKSON ARAUJO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quase uma Cinderela. Se não fosse por um insano ritmo de vida, a modelo Larissa Castro, 17, poderia ser considerada uma Cinderela. Já nasceu bela em Vila Velha, no Espírito Santo.
Filha de pais divorciados, de origem simples, ela teve uma infância difícil e cheia de restrições. Sua mãe, que deu à luz quando tinha 16 anos, arranjou um emprego de empacotadeira de uma fábrica de chocolate para sustentar a filha.
"Era uma situação bem difícil, meu pai estava desempregado, não tinha dinheiro. Meu padrasto ajudava com alguns trabalhos de pedreiro."
Larissa e sua mãe moravam numa pequena casa de lajota em um bairro de classe baixa. "Nunca tive aquela casa com paredes brancas, sabe?" Larissa estudou em colégio público e aprendeu a se contentar com o que tinha. "Eu via outras meninas da cidade e me dava vontade de ir ao shopping, passear e comprar coisas, mas minha mãe sempre falou que a gente não tinha condições, então eu nem pedia nada."
Em 2001, Larissa foi incentivada pelas amigas a participar do concurso que mudou sua vida. Apostou tudo no evento Mega Models, que busca novos rostos para integrar o casting da agência Mega. Tiro certeiro. Pegou o primeiro lugar. Em seguida, participou da final em São Paulo e venceu novamente.
E, como dizem por aí, Larissa estava no lugar certo na hora certa. O concurso de modelos estava recheado de donos de agências internacionais, que se encantaram com os grandes olhos de gata e os lábios carnudos de sorriso fácil.
"Dei sorte, eles gostaram de mim e em pouco tempo mudei para Nova York." Isso já faz dois anos. Entre os trabalhos mais importantes que pegou agora, estão a campanha da estilista britânica Vivienne Westwood, das marcas italianas Replay e Valentino e, mais recentemente, a campanha mundial da marca americana Guess.
Nesta temporada de verão da São Paulo Fashion Week, Larissa está em 28 dos 47 desfiles.
Existem muitos casos de meninas que começam a trabalhar cedo, e sustentam a família com a própria beleza. O de Larissa é um desses. Por conta do trabalho, a modelo pôde levar a mãe para morar com ela e hoje sustenta sua família inteira.
Com seu primeiro bom cachê, comprou um carro para os avós; com o segundo conseguiu comprar uma casa no Espírito Santo. Agora mora num apartamento alugado em Nova York.
Mas que ninguém pense que é fácil chegar até aí. Essas pequenas notáveis trabalham duro. Por trás do glamour e da beleza, a carreira de modelo traz várias restrições, muitas vezes cruéis, principalmente para meninas que mal têm o corpo formado.
Larissa, que começou a trabalhar aos 14 anos, está com 50 kg distribuídos em 1,78 m de altura. A primeira regra que obedece: mantém a boca fechada para tudo o que é gostoso. "Não posso comer um monte de coisa: pizza, hambúrguer, doces, massas", admite a modelo.

Dormir e comer pouco
Falta de sono e descanso é outro fator que faz parte do dia-a-dia de uma modelo em ascensão. Nos dias mais corridos durante a SPFW, Larissa acorda às 6h, chega ao prédio da Bienal às 7h40 para provas de roupa, últimos ajustes e ensaios e por lá fica até aproximadamente as 23h. Depois disso, ela segue para mais uma etapa de prova de roupa madrugada adentro.
Estudar, então, nem pensar. O que devia ser básico na formação de qualquer pessoa fica em último plano na vida de modelo. Larissa largou os estudos na 8ª série. "Agora não dá tempo mesmo. Mas quero terminar o colegial e fazer faculdade."
Por fim, a saudade de casa aperta o coração. A pequena Vila Velha é uma recordação que ela guarda com carinho. De garota simples, Larissa se transformou numa desejável jovem mulher, daquelas que olhamos nas revistas e achamos que são perfeitas, viradas para a lua...
Para as futuras modelos, Larissa dá a dica: "Não deixe ninguém baixar sua bola. Se você realmente quiser, agüente e persista". E finaliza: "O que espero daqui para frente é ficar cada vez melhor, trabalhar bastante e ser feliz". Este sim é um final de Cinderela.


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